segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

a geração "i griega"

CONEXÃO BRASIL-CUBA

Nesta semana, a blogueira cubana Yoani Sanchez pisa em solo brasileiro após mais de cinco anos de tentativas frustadas de sair da ilha dos Castros. Ela faz parte da chamada "geração y" ou, como se diz em espanhol, a geração "i griega". Assim são conhecidas as pessoas nascidas nos anos sessenta e setenta na ilha porque (dicen por las calles) seus pais, que viviam intensamente o ethos da Guerra Fria, gostariam de homenagear a grande União Soviética atribuindo nomes 'soviéticos' aos seus filhos. Então,  houve uma leva de Yuris, Yoanis, Neisys e Katyushas pelos quatro cantos caribenhos da ilha. Hoje em dia, aquela generación y é a mesma que compõem outra geração, a dos colaboradores: funcionários públicos enviados para trabalhar Venezuela e que, após um ano de trabajo solidário retornam para a ilha carregados de eletrodomésticos sofisticados, cd's e dvd's - piratas.

KATYUSHA & KATYUSHAS
Katyusha foi um nome quente no imaginário soviético por dois motivos. Primeiro porque se trata de uma canção composta às vésperas da 2º Guerra e que retrata uma jovem e leal camponesa que aguarda o retorno de seu amado enviado ao front. Juventude, lealdade e esperança que personificaram o nacionalismo soviético na canção que foi símbolo da resistência ao nazismo durante a Guerra. Segundo porque Katyusha também foi o nome dado ao carro de guerra que comportava o lançamento de quatro foguetes sendo 4,5tons de explosivos a 5Km de distância. O som de lançamento dos foguetes era conhecido como "o piano de Stalin" durante a Guerra. Por ambos motivos, "Katyusha" se tornou um souvenir símbolo de patriotismo e resistência civil.

BLOG E CIBERATIVISMO
Ok, pode ser exagero dizer que Yoani Sánchez é uma ciberativista, no sentido "assangiano" do termo. Entretanto, o uso do termo é válido para quem consegue manter um blog por mais de cinco anos em um país onde a internet chega a custar U$12/ hora em lofts de hoteis para um médico U$20 mensais. E para um professor cuja rende é de U$ 14 mensais.

A PERESTROIKA DE YOANI
Uma vez aqui, isto é, fora da ilha, será que Yoani retorna? Não seria o seu flanar cosmopolita um 'katyusha às avessas'? Um katyusha que reverberá em cheio nas mentes e corações dos cubanos que têm "fe", ou seja, "família no exterior"?




E caso optasse por ficar por aqui, imaginem se o governo brasileiro fizesse com Yoani o mesmo que fez com os boxeadores cubanos que pediram asilo político ao Brasil em 2007 e que foram constrangiados e colocados num avião venezuelano e remetidos de volta àquela longeva ditadura latino-americana?

Por outro lado, o fato é que ao retornar à Cuba, ela retorna como um exemplo de liderança política feminina  para uma população de alta octanagem patriarcal . Ela retorna como uma líder política capaz de aglutinar vozes dissidentes de diferentes setores sociais rumo à perestroika cubana.

Que Yoani sê bem-vinda!
Abraços!
Fábio