quarta-feira, 7 de setembro de 2016

EMPIRISMO na UNICAMP de 2015


Me diz uma coisa: vamos imaginar que você ganhou uma grana a mais de mesada e decide sair com seus amigos para celebrar a vitória no vestibular num rodízio de pizza. Você toparia se aventurar num novo lugar indicado pelas redes sociais ou você optaria por voltar aquele mesmo rodízio onde você sabe que a variedade é grande, a pizza farta e o atendimento é de primeira? Eu? Bem, quanto a mim, eu não pensaria duas vezes e deixaria o meu hábito falar mais alto: eu não trocaria a familiaridade com uma pizza por uma aventura qualquer. É que hoje ando meio lockeano. ‘Bora pra UNICAMP de 2015?

HÁBITO É UMA SEGUNDA PELE
Hoje vamos dar um pulo na UNICAMP para tratar de teoria do conhecimento. Como você sabe, nós já fizemos isso algumas vezes e alertamos vocês que “epistemologia” é um tema bastante comum nos vestibulares. Dito de outra forma, é como se existissem alguns grandes eixos temáticos como “teoria política”, “ética” e a “teoria do conhecimento”. E pra dialogar com o nosso tema de hoje, nós sugerimos o filme “O Enigma de Kaspar Hauser”, de 1974, uma obra-prima do alemão Werner Herzog inspirada em fatos.
O filme se passa no século 19 e vai te mostrar o caso real de um homem que passou toda a sua infância e juventude isolado do convívio social. Até que ele é deixado junto de um bilhete numa comunidade e, então, algumas pessoas o acolhem e tentam ajudá-lo a desenvolver linguagens e a se adaptar as convenções sociais. E aqui surgem as nossas questões, digamos, mais técnicas: de que forma eu e vocês produzimos conhecimentos? De que maneiras nós fabricamos uma visão de mundo, elaboramos conceitos e linguagens?
Digamos que questões como essas estavam em pauta ao longo da chamada Revolução Científica do século 17 quando duas escolas rivais trataram de encontrar argumentos lógicos para o funcionamento da consciência humana: o racionalismo francês cartesiano e o empirismo britânico de Locke e Hume.
Aqui você tem que se lembra que, naquele momento, a conquista da América já estava consolidada o suficiente para a inteligência europeia considerar que, supostamente, haveria uma distância entre um estado de natureza humana “selvagem e bárbaro” e uma condição social “culta e civilizada”. 

Essa distância entre uma suposta “natureza” e uma “cultura” você chamar de educação, tal como os iluministas fizeram. E esse será o tema da questão 50 da UNICAMP de 2015. ‘Bora ler o enunciado?
Você se lembra que “filosofia” é um tema bastante enxuto na UNICAMP e aqui ela vai direto ao ponto e te dá as melhores condições possíveis para você acertar na mosca: o recorte da citação lockeana é preciso e diz com todas palavras que a preocupação é sobre como produzimos conhecimento a partir das condições empíricas, isto é, concretas, materiais. Ou seja, ao contrário dos racionalistas cartesianos que valorizavam a cognição dedutiva a partir de uma distinção entre corpo e mente, os empiristas reconhecem que, sim, o corpo pensa: ele oferece sensações e impressões que serão selecionadas, organizadas e administradas pela razão para compor abstrações como conceitos, categorias e ideias. Vamos às alternativas que, convenhamos, não contém mistérios:
A LETRA A responde a questão porque se para os racionalistas neoplatônicos a virtudes/ ideias nos são inatas, para os empiristas neoaristotélicos é o potencial que nos é inato;
A LETRA B até que pode se sugerir ao erro, pois ao reconhecer que o empirismo é ceticismo ela acerta, afinal toda atitude científica é cética ao assumir uma postura de desconfiança diante da aparência do mundo. Mas a conclusão é errada, pois sim, é possível obter conhecimento, oras...
A LETRA C está fora de cogitação: lembre-se, de maneira bastante cruelmente resumida, você tem duas matrizes filosóficas desde a antiguidade: ou somos platônicos e valorizamos a primazia das ideias essenciais sobre a matéria ou somos aristotélicos e valorizamos a primazia da realidade empírica, material sobre o nosso potencial cognitivo e intelectual.
A LETRA D também está fora de cogitação, oras: uma coisa inata é uma coisa imanente, inerente, transcendental, metafísica e que está contida em nós desde o nascimento porque sempre esteve por aí tal como os números na natureza...

COSTUME É INTELIGÊNCIA
E se por acaso você ainda tem dúvidas em relação à força do empirismo, me responde a seguinte pergunta: você costuma se sentar no mesmo lugar em sua sala de aula? Claro que se é porque você tem mapa de sala, aí, meu velho, o medo da punição fala mais alto. Mas esse não for o seu caso e você realmente acreditar que você repete essa operação cotidiana “espontaneamente”, acho melhor você rever os seus conceitos.
Veja, é bem provável que se alguém se sentar em seu lugar, você vai ficar furioso, não é? É nesse momento que o seu conatus, a sua necessidade de adaptação, o seu instinto de preservação da espécie, fala mais alto que a sua razão: afinal, você não deixar que ninguém comprometa o seu trabalho, a sua dedicação e eficiência nos estudos, certo?
Abraços e até a próxima!

Profábio

NOVA ORDEM na UNICAMP de 2016


Se você é vestibulando, decerto que você sabe sobre o “11/09”, mas só de ouvir dizer... Se me permitem uma confissão, eu estava de passagem por Paraty enquanto a minha faculdade estava em greve, quando na manhã de 11/09/01, eu tomava um café na padaria e o famoso plantão de um noticiário dava a notícia extraordinária de que os EUA tinham sido atacados... Como nós sabemos, os ataques às Torre Gêmeas, que mataram mais de três mil civis norte-americanos, foram decisivos para a conformação da chamada Nova Ordem Mundial. Vejamos como isso se dá na UNICAMP.

TZVETAN TODOROV
A questão que vamos trabalhar traz a citação de um interessante teórico que vale a pena vocês conheceram desde já: Todorov. Nascido na Bulgária, ele viveu sua juventude sob o regime de ferro da União Soviética e, então, foi estudar linguística e literatura na francês com Roland Barthes. Ele se auto define como um historiador das ideias, e isso quer dizer que se você vai se aventurar no território das Humanidades, esteja certo de que, em algum momento você vai lê-lo. Dono de uma obra abrangente, ele te mostra como a política compromete as tendências literárias, como a literatura se relaciona com a história, e como é possível escrever uma história das ideias e representações.
Na obra em questão, “os inimigos íntimos da democracia”, Todorov parte de um olhar de quem viveu intensamente a transição entre a Guerra Fria e o avanço do neoliberalismo na chamada Nova Ordem Mundial. E disso resulta um olhar interessante de quem consegue perceber como os excessos da democracia hoje em dia guarda algumas semelhanças com velhas práticas autoritárias.
Pois é, Todorov, por exemplo, analisa como o avanço do neoliberalismo destruiu as velhas definições dos Estados nacionais e possibilitou a emergência de discursos messiânicos que investem a defesa da democracia como um valor absoluto, universal. Isto é, como se o combo “liberdade-fraternidade-propriedade privada” pudessem ser exportados e, às vezes, impostos pelo uso da força. Um exemplo seria a diplomacia da doutrina Bush, que tinha como princípio a chamada “guerra contra o eixo do mal” e cujos resultados conhecemos bem...

Como sabemos, a invasão do Iraque a partir de 2003 pode ser vista como um lance de um xadrez diplomático mais complexo levado a cabo, particularmente pelos EUA, mas não só por ele, desde os anos 90. E é este raciocínio que encontramos na questão 64 da prova da UNICAMP de 2016. 

Como você nota, a UNICAMP provoca o seu repertório de atualidades com uma breve citação de Todorov aparentemente simples, mas que condensa conceitos decisivos, a exemplo de “messianismo”, “democracia” e “direitos humanos”.
Sendo assim, o melhor que fazemos é analisar detalhadamente as alternativas, vejamos:
A LETRA A está equivocada porque foge do recorte histórico do enunciado. Em primeiro lugar, em termos de vestibular, as “lutas anticoloniais” se inserem dentro da lógica da Guerra Fria. Em segundo lugar, essas lutas no continente africano envolveram, principalmente, Angola, Moçambique e Argélia – e não a África do Sul;
A LETRA B responde a questão porque leva em consideração como a diplomacia estadunidense se apoiou na suposta defesa da democracia como um bem universal para legitimar ações militares sobre o Afeganistão e Síria a fim de defender outros interesses. Assim, o tal ‘messianismo’ de que fala o enunciado exige de você uma boa preparação em atualidades, pois este conceito diz sobre como a ideia de democracia foi investida de uma religiosidade, isto é, como ela foi usada como um valor absoluto que poderia ser defendido, exportado e imposto inclusive pela força das armas numa escala global;
A LETRA C está completamente equivocada. Veja, aqui você deve se lembrar que a Iugoslávia é desmembrada porque a OTAN, um órgão militar ocidental, declarou guerra contra ela, um país soberano. O resultado, como você sabe, foi uma carnificina que durou cerca de três anos, com mais de 200 mil mortos e o deslocamento de mais de 2 milhões de pessoas;
A LETRA D, enfim, está equivocada primeiro porque o enunciado enfatiza as rupturas da chamada Nova Ordem com a Guerra Fria. E depois porque a Ucrânia viveu muito bem uma democracia até sofrer retaliações russas a partir de 2014 devido às possibilidades de ingresso na UE;

NOVA DESORDEM MUNDIAL
Para encerrarmos, vale chamar a atenção para o discurso de Obama em Oslo, quando foi receber o Nobel da Paz em dezembro de 2009. Naquela ocasião, ele declarou que os EUA travavam no Afeganistão uma “guerra justa” e enumerou três condições, todas necessárias, para que uma guerra possa ser declarada como tal: “em caso de legítima defesa; se a força empregada for proporcional; se as populações civis forem poupadas”. De acordo com Todorov, o fato de que nenhuma das três foi cumprida, permite dizer que, na verdade, o contemporâneo pode ser chamado de uma nova desordem mundial.
Afinal, a crença de que a democracia e o livre comércio são o último fim da vida humana faz com que os países centrais camuflem seus reais interesses e decidam que vidas valem a pena serem vividas.

Abraços fortes, e até.

DITADURA na UNICAMP de 2015


Hoje vamos tratar de um tema que assumiu grande relevo nos últimos anos, a ditadura militar brasileira. Esse ainda é um tema quente na sociedade brasileira e suscita algumas polêmicas que, convenhamos, já deveriam ter sido superadas pela chamada “consolidação da democracia com a Nova República Brasileira”... Melhor deixado isso de lado, certo? Bom, se preparem porque tentaremos dar algumas pistas de como esse tema é abordado nos vestibulares seguindo o filme Cidadão Boilesen.

A CNV E UMA REVISÃO HISTÓRICA
Em 2010, pouco antes de deixar o governo, o presidente Lula assinou um decreto que criava a Comissão Nacional da Verdade. Naquele momento, a Comissão já era uma demanda histórica de setores da sociedade brasileira que exigiam a abertura de determinados arquivos históricos e investigações sobre como o exercício da violência foi institucionalizado e legalizado durante a ditadura.
Além disso, o debate sobre a criação da CNV também colocava em pauta a investigação sobre os mortos e os desaparecidos nos 21 anos da ditadura e as possíveis participações de setores civis no funcionamento dessa máquina repressiva. Como nós sabemos, coube ao governo de Dilma seguir adiante com a formação da CNV e arcar com a responsabilidade de montar, dar suporte e concluir os trabalhos da CNV.
Em resumo, foram dois anos de trabalho, cerca de 600 pessoas entrevistadas e o reconhecimento da institucionalização de técnicas, por exemplo, da tortura física e psicológica, isto é, a violação dos direitos humanos era uma prática que fundamentava o chamado Estado de Direito. 
Ainda haveria muito a ser dito sobre a CNV, mas como todo exercício histórico envolve um recorte de tema, tempo e espaço, hoje nós vamos acompanhar o raciocínio proposto pela questão 57 da UNICAMP em 2015, vamos ao enunciado:
Como se lê, a UNICAMP vai direto ao assunto e propõe, de maneira simples, um debate historiográfico que suscita grandes paixões dentro da academia: a ditadura foi mesmo somente militar? Quer dizer, foram somente os militares que governaram? Houve apoio de setores civis? Se sim, de que modo isso ocorreu?
Perceba, essa pode parecer uma questão simples, mas, no fundo, diz muito sobre a nossa sociedade brasileira. Afinal, se o regime é ditatorial e a repressão, censura e a recorrência à violência contaram com o apoio de setores civis, isso quer dizer que o autoritarismo não é um monstro opressivo, um grande Leviatã, como diria Hobbes. Ao contrário, ele está entre nós. Bem, vamos às alternativas. 
A LETRA A te propõe uma grande confusão. Veja, a Passeata dos 100 mil é uma iniciativa civil sim, mas contra a gradativa repressão que ocorria devido aos AI’s... E a campanha da Anistia também é civil e chega contar com apoio da ABI, OAB e CNBB, mas em nome da transição para a democracia;
A LETRA B até pode te levar ao erro, caso você não saiba que o tal “clero brasileiro” se refere, principalmente à Igreja Católica. Que de homogênea não tinha nada, procure mais sobre Frei Betto, Leonardo Boff e a Teologia da Libertação;
A LETRA C é outra que faz uma confusão... Veja, no contexto latino-americano, o Brasil foi o único país cuja ditadura contou com cinco presidentes e mecanismos de representação política como as eleições indiretas e o bipartidarismo. Agora, vale dizer: parcial representação política.
A LETRA D é adequada porque dialoga com a atualidade das investigações da CNV: aqui bastava você assistir, no mínimo, um Jornal Nacional pra estar antenado com as atualidades e saber de notícias como essa... Isto é, o exercício de “mea culpa” da corporação faz questão de enfatizar que ela expressava um anseio social que não era somente uma questão de classe, mas um anseio popular;

O PASSADO É PRESENTE
Bom, talvez seja interessante reafirmar que optamos por fazer uma introdução a respeito do tema. Seria interessante chamar a sua atenção para a atuação pública do professor da UFF Daniel Araão Reis. Deixamos aqui na descrição uma sugestão de entrevista para você conhecê-lo. Além disso, existe uma vasta produção fílmica a respeito dos temas ligados à ditadura. Optamos pela Boilesen porque ele justamente o mesmo argumento que a questão da UNICAMP.
E sim, pretendemos voltar aos temas ligados à ditadura, afinal ainda existem entre nós muitos órfãos de ditadores que clamam pela volta da ditadura... Duro, não? Bem, pra esses, a melhor vacina se chama História.
Abraços e até a próxima!

Profábio

DESCARTES na UNICAMP de 2014


Voltamos à Unicamp... Um vestibular que costuma ser bastante modesto em suas questões de filosofia. E hoje vamos tratar de teoria do conhecimento em Descartes. Como já comentamos por aqui, as questões que tratam de epistemologia, isto é, teoria do conhecimento, são bastante frequentes nos vestibulares. O objetivo delas é problematizar como eu e vocês produzimos conhecimento. E para isso, a nossa referência será a cinebiografia “Cartesius”, realizada pelo grande Roberto Rossellini.

MODERNIDADE E COGITO
Antes de tratarmos da filosofia moderna cartesiana, vale repetir aqui uma dica que já demos na aula sobre Sócrates: as cinebiografias de filósofos produzidas por Roberto Rossellini para a televisão italiana. E que estão todas aí disponíveis no youtube. Rossellini foi o maior nome do chamado neorrealismo italiano, um cinema de baixo orçamento e alta voltagem política desenvolvido no pós-guerra. Nós ainda trataremos disso em nossas aulas de história do cinema, mas, antes, vamos ver um pouco da reconstituição da vida e obra do francês Descartes. 
Como você pode notar, é um filme datado, isto é, é uma produção de 1974 que tem uma proposta didática que é te contar um pouco da vida e obra de Descartes com início, meio e fim. Ela é dividida em duas partes de 80 minutos cada e, sim, vale a pena ver para você conhecer um pouco também da conjuntura histórica que marcou as constantes viagens e a formação intelectual desse francês que, dentre outros objetivos, tinha como meta romper com os princípios escolásticos e fundar uma nova autoridade científica.
Ao longo do filme, você vai perceber como a formação jesuítica aproximou Descartes da vida acadêmica europeia que contava com médicos e biólogos fascinados com a anatomia do corpo humano. E esse convívio foi fundamental para ele passar a encarar o nosso corpo como um grande mecanismo, um grande sistema pronto a ser analisado e estudado.
Por outro lado, a sua formação militar o colocou em contato com os engenheiros, astrônomos e matemáticos que permitiram que Descartes elaborasse uma filosofia, um saber científico que fosse baseado em regras, em um método tão lógico, claro e simétrico quanto a matemática. 

Dessa maneira, Descartes rompe com a lógica escolástica ao fundar uma ciência baseada na dúvida como método, afinal se nem tudo que reluz é ouro, é porque os nossos sentidos nos iludem. E se em casa de ferreiro, o espeto é de pau, é porque as aparências enganam... Portanto, em Descartes, a razão, o cogito, deve ser soberana no controle dos instintos e das sensações na busca de um conhecimento que seja pautado sempre em relações de causa e efeito. Como se lê na questão 09 da Unicamp de 2014
Como você pode ver, trata-se de um enunciado acessível que vai direto ao ponto: qual o fundamento da ciência cartesiana. Vale chamar a atenção para o fato de que enunciados como esse são recorrentes, são muito comuns. Vejamos as alternativas.
A LETRA A está equivocada porque opinião é o que lê nas redes sociais; conhecimento é o que produz em sala de aula, e verdade é você na faculdade;
A LETRA B está errada porque duvidar dá trabalho, exige esforço e disciplina. Oras, nada melhor do que aquela revisão geral antes do vestibular, certo?
A LETRA C só pode se tornar legítima nas redes sociais: nunca é demais dizer que, no vestibular, opinião é achismo, e conhecimento é um saber experimentado, testado e comprovado;
A LETRA D é cartesiana porque atesta que a ciência é um tipo de saber que é aberto, autorreflexivo e sempre autocrítico. Certo?

MODERNIDADE E HOMO FABER
Antes de terminar, vale repetir que essa abordagem que analisamos a respeito de Descartes é muito recorrente nos vestibulares. Assim, você deve levar em consideração que Descartes foi um jesuíta, militar, matemático, filósofo e escritor que fundou uma nova autoridade científica, a razão.
Sendo assim, a partir dele, eu e você nos tornamos homo faber, isto é, somos animais pensantes capazes de analisar, construir, fabricar um conhecimento tanto sobre a natureza humana quanto sobre o mundo. Em outras palavras, a ideia de natureza passa a ser alguma coisa a ser medida, metrificada e dominada. Mas isso será um tema para uma próxima aula. Por ora, eu recomendaria a leitura do capítulo 04 da “Condição Humana” da Arendt.
Abraços e até a próxima!

Profábio

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

ROMA na FUVEST de 2016


Mais uma vez, vamos de história antiga na FUVEST. Conforme já vimos em aula anterior, a FUVEST opta por trabalhar pontos tradicionais da história, a exemplo dos aspectos da democracia ateniense ou, como veremos hoje, as características do imperialismo romano. E, claro, a nossa referência fílmica não podia ser outra: a série Roma, produzida pela HBO entre 2005 e 2007.

TODOS CAMINHOS LEVAM À ROMA
Em seu auge, o império romano chegou a dominar territórios que iam da atual Inglaterra até a atual Síria margeando a costa norte do continente africano. E, de acordo com o historiador francês Paul Veyne na famosa coleção “História da vida privada”, esse vasto império era bilíngue, sendo o latim a língua dos poderes públicos, do comércio e da cultura no lado ocidental. Na metade oriental, a língua predominante era o grego, afinal a civilização romana se heleniza à medida que avança rumo ao Oriente, certo?
Veyne considera que no primeiro século cristão, a sua população girava entre 50 e 100 milhões de pessoas, sendo que a capital, Roma, teria cerca de 700 mil pessoas, sendo 10% delas escravas. Para se ter uma ideia da geopolítica do império, a velocidade das viagens terrestres era de trinta a sessenta quilômetros por dia, exceto para os correios oficias que chegavam a 150 quilômetros por dia. No mar, dependendo dos ventos, seria possível ir de Roma à Síria em quinze dias. Agora, se a pergunta é como os romanos construíram um império dessa grandeza, dá uma olhada nessa reconstituição produzida pela HBO. 
Agora, fiquem atentos, pois o centurião apita e gira a cabeça a fim de sinalizar aos legionários o revezamento na batalha. Assim, os homens que estão descansados, protegidos dentro do batalhão e, digamos, inspirados pelo espírito de Dionísio, isto é, de um bom vinho, tomariam a frente de batalha para impor a derrota ao inimigo. Nesse caso, seriam os Asterix e Obelix do atual norte da França.

É, você deve ter percebido que o espírito de corpo não era somente uma questão de disciplina militar, mas também era uma questão de honra e de caráter cívico a um bom cidadão romano. Claro, se o Pullo não for crucificado, no mínimo vai tomar umas boas chicotadas... Mas o que importa para nós, é como essa abertura dialoga com a questão 76 da FUVEST DE 2016. Vamos ao enunciado.
Nesse caso, a FUVEST nos poupou de citações e foi tão pragmática quanto o espírito romano na busca da identificação dos custos da máquina pública romana. Então, vejamos as alternativas:
A LETRA A não responde a questão por um motivo muito simples: “patrícios” é uma categoria utilizada para designar os bem nascidos, aquelas pessoas que ou tinham terra, ou tinham sobrenome ou ambos;
A LETRA B está fora de cogitação: no mundo antigo, a tal assistência e previdência ficavam por conta das famílias. Portanto, um bom romano tratava de arrumar um bom casamento, com pessoas de sobrenome de reputação...
A LETRA C vai na contramão da história: os romanos eram muito eficientes na tributação direta e indireta dos impostos. À medida que o império se expande, ele promovia constantes recenseamentos e contratavam os chamados “públicos”, funcionários responsáveis pela coleta dos impostos ligados às propriedades fundiárias, atividades comerciais, casamentos, transportes, correios, enfim... tudo era taxado.
A LETRA D... Bem, convenhamos, está completamente fora de cogitação, afinal o Estado Romano sequer conhecia a ideia de welfare state!
A LETRA E está correta, afinal, além de geniais na metalurgia, no Direito, na latinização dos povos, os romanos também foram geniais na administração pública que garantiu a solidez da Pax Romana. Vamos voltar à série Roma e ver como isso começava;

PAX ROMANA
A série “Roma”, da HBO, durou duas temporadas e reconstitui os eventos desde a crise da República até a chegada de Otávio Augusto ao poder e o início do Império. Sim, vale assistir, afinal há momentos de requinte na reconstrução de eventos como o relacionamento de Marco Antônio com Cleópatra e o assassinato de César. Além disso, você terá um excelente retrato da paisagem urbana do mundo romano.
No mais, esperamos que tenham conhecido um pouco mais de Roma e fiquem conosco.

Abraços e até a próxima!

Profábio

POPULISMO na UNICAMP de 2016


Neste mês de agosto, nos lembramos dos 62 anos da morte de Getúlio Dornelles Vargas, um grande estadista brasileiro. A transmissão que ouvimos é do famoso Repórter Esso, aquele que era o “primeiro a dar as últimas notícias”. Dono de uma credibilidade ímpar no imaginário popular, o Repórter Esso também se auto afirmava como uma “testemunha ocular da história” e, assim, cativava a crescente massa de trabalhadores urbanos nas décadas de 50 e 60. E esse será o nosso tema de hoje, a história contemporânea da América Latina.

O MEIO E A MENSAGEM
O Repórter Esso foi inaugurado em agosto de 1941 e é um bom exemplo das condições históricas da América Latina entre as décadas de 1940 a 1960. Esse noticiário de rádio jornalismo era financiado pela companhia petrolífera que emprestava seu nome, a Standard Oil Company, ou Esso.
Isso demonstra como a ditadura civil varguista estava alinhada com os interesses estadunidenses no contexto da 2º Guerra Mundial: você deve se lembrar que até 1941, Vargas fazia jogo duplo e exportava commoditties para a Alemanha nazista enquanto negociava com os ianques. Esses, por sua vez, exigiram exclusividade econômica e alguns soldados em troca do financiamento do nosso parque siderúrgico. 

Além disso, o noticiário Repórter Esso era uma das várias iniciativas do DIP, um órgão do regime varguista destinado ao controle dos conteúdos culturais e educativos dos órgãos oficiais. Isso significa que os programas de rádio, os jornais impressos, as atividades cinematográficas e, claro, as educacionais estavam diretamente alinhadas com os interesses governamentais. Dessa forma, esse órgão também visava colocar o mandatário do poder em contato direto com a crescente massa de trabalhadores urbanos. O resultado dessa conjuntura histórica deu origem ao conceito de “populismo”, conforme veremos na questão 63 da prova da UNICAMP de 2016

UMA ANÁLISE HISTÓRICA
                Como você pode notar, a questão te lança diante da vulgarização do conceito de populismo e te oferece alternativas que contém análises históricas com, no mínimo, cinco linhas de duração. Por essas e outras, pode-se dizer que esta não é uma questão fácil, afinal, você deve dominar muito bem detalhes da história contemporânea da América Latina. Vejamos as alternativas:

                A LETRA A contém vários equívocos. Primeiro: Jânio Quadros foi um cometa político, em doze anos ele foi eleito para todos cargos públicos, de vereador à presidência. Porém, foi abatido por “forças terríveis” após sete meses na presidência. Além disso, as práticas políticas que configuram o populismo promovem inclusão social no sistema político e fortalecem a participação do Estado nos setores fundamentais e estratégicos da economia;
                A LETRA B também contém vários equívocos: Primeiro: soa estranho essa conversa de alinhamento das massas com os setores médios porque, no contexto latino-americano, os países ainda viviam em grande desigualdade social. Depois, vale a pena deixar essa conversa de ressentimento político de lado. Terceiro, é preciso encarar que só houve populismo porque determinados setores sociais atribuíram prestígio pessoal e status político a líderes específicos. Portanto, esqueça essa conversa de “manipulação” e “ausência de vontade política”...
               A LETRA C te seduz de maneira convincente até os últimos minutos: aqui você deve se ficar atento ao fato de que o populismo foi uma manifestação política típico do pós-Crise de 29. E isto implica em reconhecer que o Estado teve um papel importante no crescimento econômico e industrial de países periféricos;
       A LETRA D é varguíssima! Ops, corretíssima, afinal reúne todas as condições necessárias ao reconhecimento da definição dessa categoria analítica chamada de “populismo”;

ENTRE A HISTÓRIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Antes de nos despedirmos, vale chamar a atenção para o fato de a UNICAMP dialogar com uma historiografia tradicional. Explico: como vimos, aqui o “populismo” é uma manifestação histórica de uma conjuntura específica: a América Latina entre os anos 30 e 60. Por outro lado, hoje em dia, é muito comum encontrar historiadores, cientistas sociais e jornalistas que usam esse termo “populismo” para tratar de líderes carismáticos do século 21, mas isso já seria motivo para outra aula...
Abraços e até a próxima!

Profábio

PÓLIS na FUVEST de 2016


Hoje vamos de história antiga na Fuvest para tratar do desenvolvimento da pólis entre os gregos. E para tanto, vamos tratar de ilustrar nossa aula com um filme inusitado: Sócrates, de Roberto Rosselini. Pois é, ao fim de sua carreira, o grande nome do neorrealismo italiano se dedicou a produzir biografias para a televisão. E, então, cabe a nós, aproveitar esta produção de 1971 que retrata os efeitos da Guerra do Peloponeso e a morte de Sócrates.

CULTURA E POLÍTICA
Como você deve saber, a FUVEST sempre vai te trazer autores e obras clássicas, a exemplo de Jean Pierre Vernant, um historiador e antropólogo francês que participou da resistência à invasão nazista na Frnaça durante a 2º Guerra, além de passar por aqui na UPS nos anos 1970. Além de sua atuação política, Vernant é autor de clássicos como “As origens do pensamento grego”, que demonstra como o processo de ocupação do Mar Egeu foi acompanhado pelo desenvolvimento de novas instituições públicas que consolidaram a unidade cultural da Grécia. 
Quanto à história, você deve se lembrar que as pólis foram consequência do processo de colonização da península grega durante a transição do período arcaico ao chamado período clássico. Dentre os fatores de longo prazo que forjaram as pólis, pode-se citar o relevo montanhoso, os fortes vínculos familiares e o gradativo processo de migrações de pequenas populações em busca de terra e segurança.
Assim, à medida que você se aproxima dos anos 600, você começa a perceber que dentro daquela unidade cultural garantida pela mitologia e pela língua, começam a surgir núcleos urbanos que são autônomos e independentes entre si e cada vez mais capazes de desenvolver novas instituições políticas, a exemplo do espírito militarista espartano, a AGOGÊ, e a democracia ateniense. 
Como se pode notar, o filme propõe uma interessante reconstituição da ágora ateniense: esse espaço público por excelência era percebido pelos atenienses, antes de tudo, como um espaço cívico, isto é, uma esfera não somente de comércio e trocas de mercadorias, mas também de trocas de ideias. E este será também o recorte proposto pela questão 75 da prova da FUVEST de 2016.

A citação de Vernant dá ênfase aos aspectos históricos inéditos fundados pelas pólis, a exemplo da ágora, da acrópole, a cidade alta que abrigava os templos religiosos e da Eclésia, que era a assembleia do povo. Bem, levando em conta que o enfoque que a questão propõe sobre essas novidades trazidas pela pólis. Vamos às alternativas:
A LETRA A está equivocada porque a fundação da política entre os gregos se baseia justamente na capacidade humana de desenvolver linguagens, especialmente aquelas ligadas à fala, como a oratória e a eloquência.
A LETRA B também está equivocada porque a política entre gregos foi radical na separação dos temas domésticos com os temas públicos. Não à toa, aquelas pessoas que só sabiam falar de si mesmas e de seus problemas pessoais eram chamadas de idiotes; enquanto aqueles capazes de determinar os rumos da cidade eram chamados de políticos;
A LETRA C está equivocada porque, apesar do forte vínculo com o panteão de deuses e deusas antropomórficos e dotados das mesmas qualidade e defeitos que os humanos, os gregos, especialmente Atenas, fundou a política com base no logos, na razão;
A LETRA D está equivocada pode te confundir devido a um jogo de palavras. Na verdade, apesar da diversidade política e econômica da Hélade, tanto tebanos quanto jônicos quanto atenienses viviam sob a mesma unidade cultural garantida pela mitologia e língua gregas.
A correta, então, é a LETRA E, pois traduz exatamente o raciocínio do enunciado em outras palavras ao reconhecer que a grande novidade das pólis foi fundar um espaço público capaz de fazer da política a atividade mais nobre dos homens.

RAZÃO E AUTORIDADE
Como você pode notar, a FUVEST nos coloca diante de clássicos a fim de enfatizar as heranças da cultura grega. Elaborada pelos atenienses, a política envolvia a autorização do convívio social, isto é, era uma forma do cidadão autorizar, seu autor tanto do seu destino quanto do destino de sua própria cidade.
E seria bem interessante voltar aos gregos nesse momento tão delicado da política brasileira, não? Afinal, em tempos de doutrinações e de projetos legislativos que cerceiam e restringem os debates tanto no espaço público quanto na sala de aula, vale lembrar que a morte de Sócrates não foi um mero suicídio heroico.... No fundo, ele foi um sinal do que pode ocorrer quando, em vez de se confrontar ideias, se julgam as pessoas.
Abraços e até a próxima!

Profábio

terça-feira, 12 de julho de 2016

HOBBES na UEL 2016


Como o nosso assunto hoje é Hobbes, vamos logo partir de uma pergunta nada simples: você conhece algum animal, algum bicho que vive em comunidade em natureza? Isso mesmo, algum animal que seja naturalmente sociável e que, assim como nós, seja um ser “naturalmente gregário”? Bem, enquanto você encontrar uma reposta, nós vamos de Hobbes. 

NATUR É CONATUS
Como você sabe, nós já tratamos da presença de HOBBES NO ENEM. E o nosso filme como referência foi o clássico de Danny Boyle, “Cova Rasa”. Ali, a nossa intenção era demonstrar Hobbes como uma contratualistas, isto é, como um teórico do que vem a ser a chamada sociedade civil. Em Hobbes – e no filme – você soube que sociedade não é uma coletividade, ao contrário, ela é um grupo de indivíduos egoístas que tendem naturalmente à guerra, ao conflito. Ou melhor, a coletividade até que é possível, mas desde que haja um Estado forte para controlar os ânimos individuais.
E de certa forma hoje na UEL nós vamos ver a causa desse raciocínio, ou seja, o que Hobbes considera a condição natural do ser humano. E aqui retomamos as perguntas iniciais. É bem provável que você tenha se lembrado das abelhas e formigas, certo? Elas, sim, são animais que vivem naturalmente em harmonia social. Porém, me diz uma coisa: há igualdade entre elas? Isso mesmo, elas vivem de maneira harmônica por natureza ou por força da hierarquia?
Sendo assim, em Hobbes você começa a entender o que nos motiva a viver em sociedade: conatus, instinto de preservação da espécie. Isso mesmo, energia vital, medo de virar hipótese sem ter cumprido sequer a perpetuação da espécie. Dá uma olhada no enunciado da questão 59 da prova da UEL de 2016
GEOMETRIA E POLÍTICA
Como um bom mecanicista do século 17, Hobbes considera que há forças naturais universais e que podem ser interpretadas de maneira lógica, racional e clara a fim de construirmos uma arquitetura política para a manutenção da vida em sociedade. Sendo assim, nele você encontra um esforço de compreender quais seriam essas forças e leis naturais e quais seriam as melhores formas de administrar os seus efeitos e impactos. Isto é, em Hobbes, existe a crença de que a política envolve um cálculo de riscos, um raciocínio sobre as causas e efeitos do comportamento natural do ser humano. E uma vez que somos movidos por conatus, instinto de preservação, nada melhor do que encontrar fundar um governo que saiba como controlar esse instinto. Vamos às alternativas:
ü  A LETRA A não pode ser porque a tal ordem política não nos é natural, e sim artificial. Lembra-se as formigas e abelhas? Então, o Hobbes vai se valer do mesmo exemplo: só há paz se houver força suficiente para manter os cidadãos em paz;
ü  A LETRA B... Bem, essa conversa de somos espontaneamente bons fica com os rousseanianos, ok?
ü  A LETRA C... Bem, se você insistir nessa conversa de ser humano é capaz de agir de maneira racional e justa de forma espontânea? Oras, então desencane de vestibular e vá visitar um buffet de aniversário infantil...
ü  A LETRA D traz uma afirmação belíssima: a crença de que nos basta um diálogo, uma conversa franca para que eu e você vivamos como iguais por aí na sociedade. Seria demais, não? Mas convenhamos, uma “pemezinha” na esquina também não faria mal a ninguém, né?
ü  A LETRA E é verdadeira porque é hobbesiana da gema, afinal ela reconhece que eu e você carecemos de segurança e estabilidade nessa vida para sair de casa, trabalhar e colocar comida na mesa. Mas pra isso, é fundamental que haja alguém mais forte do que nós, um Estado dono da força, para garantir essa simetria, certo?

ESTADO É LEVIATÃ
Como você pode ver, de acordo com Hobbes, o Estado deveria ser um Leviatã, uma espécie de espectro capaz de se impor socialmente pela força da constituição, um avatar que viveria em nossas mentes inspirando obediência, respeito às leis e segurança.
Assim, a confiança até pode ser uma ótima bússola social, mas desde que as regras sejam fortes o suficiente para inspirarem punições. Isto é, desde que, de fato, as leis sejam fortes e sejam cumpridas. Agora, caso contrário, se nem os hábitos e costumes e nem as instituições deram conta da ordem social, então nada melhor do que uma boa dose de desconfiança para navegar pela sociedade.
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Então, me parece que os nossos avós conheciam bem essa história hobbesiano quando diziam que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, certo? Abraços e até a próxima!

Profábio

WEBER na UEM 2015


Hoje temos dois temas inéditos. Primeiro, vamos tratar de um grande nome do pensamento alemão: Max Weber, um teórico que procurou desenvolver conceitos que compreendam os sentidos dos interesses e das motivações individuais do comportamento humano. E vamos abordá-lo nas provas da UEM que consegue conciliar conceitos clássicos e atualidades. Dessa maneira, ela é uma prova muito interessante porque consegue exigir do candidato o melhor que ele pode oferecer: repertório, boa interpretação e eficiência. Quer ver?

POLÍTICA É REALISMO
O nosso tema de hoje é Max Weber, um alemão do século 19 que fundou uma ciência social baseada no realismo político. Aqui então, seria bastante interessante que você já conhecesse bem dois clássicos: Maquiavel e Hobbes. Isso mesmo, veja só: em Maquiavel você tomou lições do espírito romano e aprendeu que um bom político concilia virtú e fortuna, isto é, ele fecunda a história de modo a transformar situações em oportunidades. 
Logo depois, você partiu para Hobbes é perdeu completamente a inocência ao compreender que somos conatus, isto é, instinto e impulso. Portanto, se não houver um Estado forte entre nós pra frear nossos egoísmos, a tendência natural é mesmo a guerra.
Ambos autores clássicos, tanto o Maquiavel quanto o Hobbes, pavimentam uma estrada que você vai chamar de realismo político, uma teoria social e política que procura compreender como, no mais das vezes, a nossa natureza instintiva fala mais alto do que a razão.
Sendo assim, convenhamos: eu e vocês somos territorialistas e motivados pelo instinto de preservação. E muitas vezes o que desejamos mesmo é encontrar pessoas e instituições que nos ofereçam estabilidade, paz e uma coisa adorável chamada segurança. Vamos ver como isso se dá na questão 14 da prova 03 de Sociologia da UEM de 2015. 
E então, gostou da pegada da UEM? O enunciado te soa difícil? Pois é, o pensamento alemão exige de nós bastante concentração no momento de leitura. E para entendermos melhor o que se passa no enunciado, eu vou analisar com vocês cada uma das alternativas em busca da somatória adequada. Vejamos:

ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 01 te propõe que a obediência seja uma força coercitiva que se impõe sobre os indivíduos (...). Oras, em Weber você vai entender que algumas pessoas só exercem poder e dominação porque outras se submetem a elas. Sendo assim, a obediência, algumas vezes, é uma escolha, envolve uma espécie de servidão de submissão. Delicado, não?
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 02 propõe que a obediência às tradições sejam as mais recorrentes no contemporâneo. Mas ao contrário: como sabemos, a nossa vida moderna é líquida, nós substituímos a adesão às palavras de nossos avós pelas verdades efêmeras das redes sociais, certo?
ü   A AFIRMAÇÃO NÚMERO 04 propõe que a obediência jurídica seja o melhor acabamento de um país e, portanto, seja pouco questionada. Ops, fique atento com essa conversa de que as leis sejam a síntese do espírito de um povo: você sabe muito bem onde isso foi parar no período Entre Guerras 
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 08, agora sim, é verdadeira, afinal toda relação de poder é um potencial, uma relação plástica e flexível que sempre envolve duas ou mais pessoas;
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 16 também é verdadeira, pois como argumentamos, algumas relações de poder podem ser bem-vindas, a exemplo daquelas burocráticas que existem no mundo empresarial e que podem promover ascensão econômica e status profissional.
ü  ASSIM, A NOSSA SOMATÓRIA CORRETA É 8+16 = 24;

PODER É POTENCIAL
Como você pode notar, a UEM tem uma prova de Humanas bastante sofisticada: algumas questões são bastante técnicas, enquanto outras conseguem transitar entre os conceitos e as atualidades. Sendo assim, deixamos aqui a seguinte sugestão: se você praticar bastante provas como essa e da UEM, esteja certo de que o ENEM se tornará bem mais fácil para você.
Afinal, como bem weberiano, você bem sabe que vida de vestibulando é sinônimo de competição. E que muitos professores podem te conduzir rumo à sua vaga na universidade, mas os verdadeiros líderes são aqueles que você escolhe por inspiração e que você admira porque ele te promove autonomia (CORTELLA)
Abraços e até a próxima!

Profábio