quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Marx no ENEM de 2013


POR QUE MARX
Marxismo. Eis um conceito tão forte quanto controverso. Como se sabe, desde a Revolução Bolchevique de outubro de 1917 até a derrocada do socialismo no final dos anos 1980, muitas águas ideológicas rolaram debaixo dessa ponte teórica: leninismo, trotskismo, stalinismo, maoísmo, castrismo, bolivarismo etc etc etc. De saída, então, temos algumas perguntas//: será que Marx estaria de acordo com algum desses conceitos que acabamos de citar? Como fazer pra distinguir o que é próprio de Marx e o que são as interpretações que fizeram de sua obra? Enfim, seria Marx marxista?

QUESTÕES MARXIANAS E MARXISTAS

Marx foi um homem do século 19. Sim, eu sei que isso soa redundante, mas ela essa é uma afirmação importante para compreendermos que podem existir muitas diferenças entre o que Marx de fato escreveu e as interpretações que fazem de seus escritos, e essa polêmica definitivamente não nos interessa porque ela já custou a vida de muitas pessoas.... // O que nos importa aqui é deixar claro aqui é que CATEGORIAS MARXIANAS são aquelas escritas e teorizadas pelo próprio Marx, enquanto as CATEGORIAS MARXISTAS são aquelas produzidas pelos seus intérpretes – e que não são poucos.


Para se compreender Marx é preciso levar em conta os fatos que se desdobram entre a chamada “Primavera dos Povos” (1848) e a “Comuna de Paris” (1871), ou seja, o momento que de fato ele viveu. Aos trinta anos, ele e Engels foram convidados a produzir o programa político da Liga Comunista dos operários alemães, o Manifesto Comunista (1848). Já velhinho e vivendo em Londres, ele se informava sobre o andamento da Comuna de Paris trocando cartas com líderes anarquistas. // Isto é, Marx acompanhou bem de perto a afirmação histórica dos operários como uma classe social consciente e capaz de impor suas reivindicações políticas, sociais e econômicas.  

MARX E O TRABALHO

Se o assunto é vestibular, o nosso principal problema marxiano é o trabalho. E para entendê-lo, uma rápida revisão. Como se sabe, John Locke e seus colegas iluministas afirmavam que existiria um “estado de natureza” no qual nos são atribuídas propriedades privadas que deveriam ser mantidas num “estado de sociedade”. //Nessa perspectiva liberal, a sociedade civil surge como uma forma de proteger nossos valores individuais como “o meu tempo, a minha dedicação, o meu trabalho e a minha consequente riqueza”. Assim, as desigualdades de nossa vida em sociedade seriam, então, uma extensão de nossas desigualdades naturais: uma vez que todos os indivíduos são livres para explorar seus potenciais, é cada um por si e o livre mercado para todos. // E é nesse momento que Marx entra em campo para analisar de maneira crítica essa ideologia liberal e demonstrar que não existe nada de natural em nossas desigualdades sociais e econômicas. Ao contrário, ele foi decisivo na análise crítica da exploração do capital sobre o trabalho.

Para começo de conversa: em Marx não há a distinção de um “estado de natureza” e um “estado de sociedade”. Nele, somos, ao mesmo tempo, naturais e sociais porquê... trabalhamos! Pois é, em Marx o trabalho nos é uma questão ontológica: somos aquilo que realizamos, que produzimos, que trabalhamos para suprir carências naturais. // O trabalho envolve uma teleologia, uma finalidade humana: esculpimos pedras para matar a caça; construímos moinhos para disciplinar o vento e produzir farinha; produzimos cadernos para domesticar a memória e vencer nos estudos. Vocês se lembram do filme “2001”? No momento em que os símios se apropriam dos ossos, eles inventaram o território, isto é, um espaço de disputa para satisfazer sua necessidade de segurança, de matar a fome, enfim garantir a sua sobrevivência. Bem, percebem como é possível compreender que o trabalho promove o recuo de nossas barreiras naturais? Isto é, à medida que trabalhamos para satisfazer certas necessidades e vontades, também reelaboramos e potencializamos o nosso próprio ser.// E é justamente isso que podemos ler na seguinte questão 15 do CADERNO AZUL DO ENEM DE 2013.

A citação é valiosa: traz um texto marxiano da gema. E feita a leitura do enunciado, o que nos resta é analisar as alternativas:
ü  Não pode ser a letra A porque a mais-valia é justamente a riqueza burguesa gerada através da extração da vida, do sangue e do suor do operário;
ü  Oras, em termos marxistas, o tal “progresso” seria sinônimo da autonomia do indivíduo sobre o seu trabalho;
ü  A letra “D” só faz sentido numa lógical liberal – o que não é o que caso?
ü  Quanto à “E”, vale dizer que a burguesia foi revolucionária através do Iluminismo;

É isto, abraços fortes!