POR QUE MARX
Marxismo.
Eis um conceito tão forte quanto controverso. Como se sabe,
desde a Revolução Bolchevique de outubro de 1917 até a derrocada do socialismo
no final dos anos 1980, muitas águas ideológicas rolaram debaixo dessa ponte
teórica: leninismo, trotskismo, stalinismo, maoísmo, castrismo, bolivarismo etc
etc etc. De saída, então, temos algumas perguntas//: será que Marx estaria de
acordo com algum desses conceitos que acabamos de citar? Como fazer pra
distinguir o que é próprio de Marx e o que são as interpretações que fizeram de
sua obra? Enfim, seria Marx marxista?
QUESTÕES MARXIANAS E MARXISTAS
Marx foi um
homem do século 19. Sim, eu sei que isso soa redundante, mas ela essa é
uma afirmação importante para compreendermos que podem existir muitas
diferenças entre o que Marx de fato escreveu e as interpretações que fazem de
seus escritos, e essa polêmica definitivamente não nos interessa porque ela já
custou a vida de muitas pessoas.... // O que nos importa aqui é deixar claro aqui
é que CATEGORIAS MARXIANAS são aquelas escritas e teorizadas pelo próprio Marx,
enquanto as CATEGORIAS MARXISTAS são aquelas produzidas pelos seus intérpretes
– e que não são poucos.
Para se compreender
Marx é preciso levar em conta os fatos que se desdobram entre a chamada
“Primavera dos Povos” (1848) e a “Comuna de Paris” (1871), ou seja, o momento
que de fato ele viveu. Aos trinta anos, ele e Engels foram convidados a produzir
o programa político da Liga Comunista dos operários alemães, o Manifesto
Comunista (1848). Já velhinho e vivendo em Londres, ele se informava sobre o
andamento da Comuna de Paris trocando cartas com líderes anarquistas. // Isto
é, Marx acompanhou bem de perto a afirmação histórica dos operários como uma classe
social consciente e capaz de impor suas reivindicações políticas, sociais e
econômicas.
MARX E O TRABALHO
Se o
assunto é vestibular, o nosso principal problema marxiano é o trabalho. E para
entendê-lo, uma rápida revisão. Como se sabe, John Locke e seus colegas
iluministas afirmavam que existiria um “estado de natureza” no qual nos são
atribuídas propriedades privadas que deveriam ser mantidas num “estado de
sociedade”. //Nessa perspectiva liberal, a sociedade civil surge como uma forma
de proteger nossos valores individuais como “o meu tempo, a minha dedicação, o
meu trabalho e a minha consequente riqueza”. Assim, as desigualdades de nossa
vida em sociedade seriam, então, uma extensão de nossas desigualdades naturais:
uma vez que todos os indivíduos são livres para explorar seus potenciais, é
cada um por si e o livre mercado para todos. // E é nesse momento que Marx entra
em campo para analisar de maneira crítica essa ideologia
liberal e demonstrar que não existe nada de natural em nossas desigualdades
sociais e econômicas. Ao contrário, ele foi decisivo na análise crítica da
exploração do capital sobre o trabalho.
Para começo
de conversa: em Marx não há a distinção de um “estado de natureza” e um “estado
de sociedade”. Nele, somos, ao mesmo tempo, naturais e sociais porquê... trabalhamos!
Pois é, em Marx o trabalho nos é uma questão ontológica: somos aquilo que realizamos,
que produzimos, que trabalhamos para suprir carências naturais. // O trabalho
envolve uma teleologia, uma finalidade humana: esculpimos pedras para matar a
caça; construímos moinhos para disciplinar o vento e produzir farinha;
produzimos cadernos para domesticar a memória e vencer nos estudos. Vocês se
lembram do filme “2001”? No momento em que os símios se apropriam dos ossos,
eles inventaram o território, isto é, um espaço de disputa para satisfazer sua
necessidade de segurança, de matar a fome, enfim garantir a sua sobrevivência. Bem,
percebem como é possível compreender que o trabalho promove o recuo de nossas
barreiras naturais? Isto é, à medida que trabalhamos para satisfazer certas necessidades
e vontades, também reelaboramos e potencializamos o nosso próprio ser.// E é
justamente isso que podemos ler na seguinte questão 15 do CADERNO AZUL DO ENEM DE 2013.
A citação é
valiosa: traz um texto marxiano da gema. E feita a leitura do enunciado, o que
nos resta é analisar as alternativas:
ü Não pode ser a letra A porque a
mais-valia é justamente a riqueza burguesa gerada através da extração da vida,
do sangue e do suor do operário;
ü Oras, em termos marxistas, o tal
“progresso” seria sinônimo da autonomia do indivíduo sobre o seu trabalho;
ü A letra “D” só faz sentido numa
lógical liberal – o que não é o que caso?
ü Quanto à “E”, vale dizer que a
burguesia foi revolucionária através do Iluminismo;
É isto, abraços fortes!