Como o
nosso assunto hoje é Hobbes, vamos logo partir de uma pergunta nada simples:
você conhece algum animal, algum bicho que vive em comunidade em natureza? Isso
mesmo, algum animal que seja naturalmente sociável e que, assim como nós, seja
um ser “naturalmente gregário”? Bem, enquanto você encontrar uma reposta, nós
vamos de Hobbes.
NATUR É CONATUS
Como você sabe, nós já tratamos da
presença de HOBBES NO ENEM. E o nosso filme como referência foi o clássico de
Danny Boyle, “Cova Rasa”. Ali, a nossa intenção era demonstrar Hobbes como uma
contratualistas, isto é, como um teórico do que vem a ser a chamada sociedade
civil. Em Hobbes – e no filme – você soube que sociedade não é uma
coletividade, ao contrário, ela é um grupo de indivíduos egoístas que tendem
naturalmente à guerra, ao conflito. Ou melhor, a coletividade até que é
possível, mas desde que haja um Estado forte para controlar os ânimos
individuais.
E de certa
forma hoje na UEL nós vamos ver a causa desse raciocínio, ou seja, o que Hobbes
considera a condição natural do ser humano. E aqui retomamos as perguntas
iniciais. É bem provável que você tenha se lembrado das abelhas e formigas,
certo? Elas, sim, são animais que vivem naturalmente em harmonia social. Porém,
me diz uma coisa: há igualdade entre elas? Isso mesmo, elas vivem de maneira harmônica
por natureza ou por força da hierarquia?
Sendo
assim, em Hobbes você começa a entender o que nos motiva a viver em sociedade: conatus,
instinto de preservação da espécie. Isso mesmo, energia vital, medo de virar
hipótese sem ter cumprido sequer a perpetuação da espécie. Dá uma olhada no
enunciado da questão 59 da prova da UEL de 2016
GEOMETRIA E POLÍTICA
Como um bom
mecanicista do século 17, Hobbes considera que há forças naturais universais e
que podem ser interpretadas de maneira lógica, racional e clara a fim de construirmos
uma arquitetura política para a manutenção da vida em sociedade. Sendo assim, nele
você encontra um esforço de compreender quais seriam essas forças e leis naturais
e quais seriam as melhores formas de administrar os seus efeitos e impactos. Isto
é, em Hobbes, existe a crença de que a política envolve um cálculo de riscos, um
raciocínio sobre as causas e efeitos do comportamento natural do ser humano. E
uma vez que somos movidos por conatus, instinto de preservação, nada melhor do
que encontrar fundar um governo que saiba como controlar esse instinto. Vamos às
alternativas:
ü A LETRA A não pode ser porque a tal
ordem política não nos é natural, e sim artificial. Lembra-se as formigas e
abelhas? Então, o Hobbes vai se valer do mesmo exemplo: só há paz se houver
força suficiente para manter os cidadãos em paz;
ü A LETRA B... Bem, essa conversa de
somos espontaneamente bons fica com os rousseanianos, ok?
ü A LETRA C... Bem, se você insistir
nessa conversa de ser humano é capaz de agir de maneira racional e justa de
forma espontânea? Oras, então desencane de vestibular e vá visitar um buffet de
aniversário infantil...
ü A LETRA D traz uma afirmação
belíssima: a crença de que nos basta um diálogo, uma conversa franca para que
eu e você vivamos como iguais por aí na sociedade. Seria demais, não? Mas
convenhamos, uma “pemezinha” na esquina também não faria mal a ninguém, né?
ü A LETRA E é verdadeira porque é
hobbesiana da gema, afinal ela reconhece que eu e você carecemos de segurança e
estabilidade nessa vida para sair de casa, trabalhar e colocar comida na mesa.
Mas pra isso, é fundamental que haja alguém mais forte do que nós, um Estado
dono da força, para garantir essa simetria, certo?
ESTADO É LEVIATÃ
Como você
pode ver, de acordo com Hobbes, o Estado deveria ser um Leviatã, uma espécie de
espectro capaz de se impor socialmente pela força da constituição, um avatar
que viveria em nossas mentes inspirando obediência, respeito às leis e
segurança.
Assim, a
confiança até pode ser uma ótima bússola social, mas desde que as regras sejam
fortes o suficiente para inspirarem punições. Isto é, desde que, de fato, as
leis sejam fortes e sejam cumpridas. Agora, caso contrário, se nem os hábitos e
costumes e nem as instituições deram conta da ordem social, então nada melhor
do que uma boa dose de desconfiança para navegar pela sociedade.
*
Então, me
parece que os nossos avós conheciam bem essa história hobbesiano quando diziam
que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, certo? Abraços e até a próxima!
Profábio