terça-feira, 12 de julho de 2016

HOBBES na UEL 2016


Como o nosso assunto hoje é Hobbes, vamos logo partir de uma pergunta nada simples: você conhece algum animal, algum bicho que vive em comunidade em natureza? Isso mesmo, algum animal que seja naturalmente sociável e que, assim como nós, seja um ser “naturalmente gregário”? Bem, enquanto você encontrar uma reposta, nós vamos de Hobbes. 

NATUR É CONATUS
Como você sabe, nós já tratamos da presença de HOBBES NO ENEM. E o nosso filme como referência foi o clássico de Danny Boyle, “Cova Rasa”. Ali, a nossa intenção era demonstrar Hobbes como uma contratualistas, isto é, como um teórico do que vem a ser a chamada sociedade civil. Em Hobbes – e no filme – você soube que sociedade não é uma coletividade, ao contrário, ela é um grupo de indivíduos egoístas que tendem naturalmente à guerra, ao conflito. Ou melhor, a coletividade até que é possível, mas desde que haja um Estado forte para controlar os ânimos individuais.
E de certa forma hoje na UEL nós vamos ver a causa desse raciocínio, ou seja, o que Hobbes considera a condição natural do ser humano. E aqui retomamos as perguntas iniciais. É bem provável que você tenha se lembrado das abelhas e formigas, certo? Elas, sim, são animais que vivem naturalmente em harmonia social. Porém, me diz uma coisa: há igualdade entre elas? Isso mesmo, elas vivem de maneira harmônica por natureza ou por força da hierarquia?
Sendo assim, em Hobbes você começa a entender o que nos motiva a viver em sociedade: conatus, instinto de preservação da espécie. Isso mesmo, energia vital, medo de virar hipótese sem ter cumprido sequer a perpetuação da espécie. Dá uma olhada no enunciado da questão 59 da prova da UEL de 2016
GEOMETRIA E POLÍTICA
Como um bom mecanicista do século 17, Hobbes considera que há forças naturais universais e que podem ser interpretadas de maneira lógica, racional e clara a fim de construirmos uma arquitetura política para a manutenção da vida em sociedade. Sendo assim, nele você encontra um esforço de compreender quais seriam essas forças e leis naturais e quais seriam as melhores formas de administrar os seus efeitos e impactos. Isto é, em Hobbes, existe a crença de que a política envolve um cálculo de riscos, um raciocínio sobre as causas e efeitos do comportamento natural do ser humano. E uma vez que somos movidos por conatus, instinto de preservação, nada melhor do que encontrar fundar um governo que saiba como controlar esse instinto. Vamos às alternativas:
ü  A LETRA A não pode ser porque a tal ordem política não nos é natural, e sim artificial. Lembra-se as formigas e abelhas? Então, o Hobbes vai se valer do mesmo exemplo: só há paz se houver força suficiente para manter os cidadãos em paz;
ü  A LETRA B... Bem, essa conversa de somos espontaneamente bons fica com os rousseanianos, ok?
ü  A LETRA C... Bem, se você insistir nessa conversa de ser humano é capaz de agir de maneira racional e justa de forma espontânea? Oras, então desencane de vestibular e vá visitar um buffet de aniversário infantil...
ü  A LETRA D traz uma afirmação belíssima: a crença de que nos basta um diálogo, uma conversa franca para que eu e você vivamos como iguais por aí na sociedade. Seria demais, não? Mas convenhamos, uma “pemezinha” na esquina também não faria mal a ninguém, né?
ü  A LETRA E é verdadeira porque é hobbesiana da gema, afinal ela reconhece que eu e você carecemos de segurança e estabilidade nessa vida para sair de casa, trabalhar e colocar comida na mesa. Mas pra isso, é fundamental que haja alguém mais forte do que nós, um Estado dono da força, para garantir essa simetria, certo?

ESTADO É LEVIATÃ
Como você pode ver, de acordo com Hobbes, o Estado deveria ser um Leviatã, uma espécie de espectro capaz de se impor socialmente pela força da constituição, um avatar que viveria em nossas mentes inspirando obediência, respeito às leis e segurança.
Assim, a confiança até pode ser uma ótima bússola social, mas desde que as regras sejam fortes o suficiente para inspirarem punições. Isto é, desde que, de fato, as leis sejam fortes e sejam cumpridas. Agora, caso contrário, se nem os hábitos e costumes e nem as instituições deram conta da ordem social, então nada melhor do que uma boa dose de desconfiança para navegar pela sociedade.
*
Então, me parece que os nossos avós conheciam bem essa história hobbesiano quando diziam que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, certo? Abraços e até a próxima!

Profábio

WEBER na UEM 2015


Hoje temos dois temas inéditos. Primeiro, vamos tratar de um grande nome do pensamento alemão: Max Weber, um teórico que procurou desenvolver conceitos que compreendam os sentidos dos interesses e das motivações individuais do comportamento humano. E vamos abordá-lo nas provas da UEM que consegue conciliar conceitos clássicos e atualidades. Dessa maneira, ela é uma prova muito interessante porque consegue exigir do candidato o melhor que ele pode oferecer: repertório, boa interpretação e eficiência. Quer ver?

POLÍTICA É REALISMO
O nosso tema de hoje é Max Weber, um alemão do século 19 que fundou uma ciência social baseada no realismo político. Aqui então, seria bastante interessante que você já conhecesse bem dois clássicos: Maquiavel e Hobbes. Isso mesmo, veja só: em Maquiavel você tomou lições do espírito romano e aprendeu que um bom político concilia virtú e fortuna, isto é, ele fecunda a história de modo a transformar situações em oportunidades. 
Logo depois, você partiu para Hobbes é perdeu completamente a inocência ao compreender que somos conatus, isto é, instinto e impulso. Portanto, se não houver um Estado forte entre nós pra frear nossos egoísmos, a tendência natural é mesmo a guerra.
Ambos autores clássicos, tanto o Maquiavel quanto o Hobbes, pavimentam uma estrada que você vai chamar de realismo político, uma teoria social e política que procura compreender como, no mais das vezes, a nossa natureza instintiva fala mais alto do que a razão.
Sendo assim, convenhamos: eu e vocês somos territorialistas e motivados pelo instinto de preservação. E muitas vezes o que desejamos mesmo é encontrar pessoas e instituições que nos ofereçam estabilidade, paz e uma coisa adorável chamada segurança. Vamos ver como isso se dá na questão 14 da prova 03 de Sociologia da UEM de 2015. 
E então, gostou da pegada da UEM? O enunciado te soa difícil? Pois é, o pensamento alemão exige de nós bastante concentração no momento de leitura. E para entendermos melhor o que se passa no enunciado, eu vou analisar com vocês cada uma das alternativas em busca da somatória adequada. Vejamos:

ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 01 te propõe que a obediência seja uma força coercitiva que se impõe sobre os indivíduos (...). Oras, em Weber você vai entender que algumas pessoas só exercem poder e dominação porque outras se submetem a elas. Sendo assim, a obediência, algumas vezes, é uma escolha, envolve uma espécie de servidão de submissão. Delicado, não?
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 02 propõe que a obediência às tradições sejam as mais recorrentes no contemporâneo. Mas ao contrário: como sabemos, a nossa vida moderna é líquida, nós substituímos a adesão às palavras de nossos avós pelas verdades efêmeras das redes sociais, certo?
ü   A AFIRMAÇÃO NÚMERO 04 propõe que a obediência jurídica seja o melhor acabamento de um país e, portanto, seja pouco questionada. Ops, fique atento com essa conversa de que as leis sejam a síntese do espírito de um povo: você sabe muito bem onde isso foi parar no período Entre Guerras 
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 08, agora sim, é verdadeira, afinal toda relação de poder é um potencial, uma relação plástica e flexível que sempre envolve duas ou mais pessoas;
ü  A AFIRMAÇÃO NÚMERO 16 também é verdadeira, pois como argumentamos, algumas relações de poder podem ser bem-vindas, a exemplo daquelas burocráticas que existem no mundo empresarial e que podem promover ascensão econômica e status profissional.
ü  ASSIM, A NOSSA SOMATÓRIA CORRETA É 8+16 = 24;

PODER É POTENCIAL
Como você pode notar, a UEM tem uma prova de Humanas bastante sofisticada: algumas questões são bastante técnicas, enquanto outras conseguem transitar entre os conceitos e as atualidades. Sendo assim, deixamos aqui a seguinte sugestão: se você praticar bastante provas como essa e da UEM, esteja certo de que o ENEM se tornará bem mais fácil para você.
Afinal, como bem weberiano, você bem sabe que vida de vestibulando é sinônimo de competição. E que muitos professores podem te conduzir rumo à sua vaga na universidade, mas os verdadeiros líderes são aqueles que você escolhe por inspiração e que você admira porque ele te promove autonomia (CORTELLA)
Abraços e até a próxima!

Profábio

KANT na UEM 2015


Hoje temos uma novidade: Kant. Que fique claro: as suas questões costumam trazer citações originais e, como ele não é um cara fácil, vamos tentar ilustrar como ele define o chamado “uso da razão pública” através de um filme incômodo chamado “Depois de Lúcia”. Bem, vejamos o que é convívio social em Kant. 

ILUMINISMO É ESCLARECIMENTO
Vamos direto ao assunto: Kant foi o responsável por nomear a Modernidade como Esclarecimento, isto é, de acordo com ele todo o processo histórico europeu entre o século 16 e 18 foi um também um processo de fortalecimento do uso da razão pública. Explico melhor: em Kant, nós aprendemos que o Renascimento, a Revolução Científica do século 17 e o chamado Iluminismo foram partes de um processo fundamental na constituição de um espaço público, uma sociedade civil composta por indivíduos livres, autônomos e capazes de usar a razão em benefício da boa convivência entre os iguais.
Sendo assim, se hoje os seus livros de História trazem um capítulo chamado de “Iluminismo”, agradeça ao Kant, afinal foi ele quem nos disse que o “Esclarecimento” é a saída do homem de sua menoridade. Em outras palavras, a “menoridade” em Kant seria o que chamamos de submissão, servidão, uma vida menor regrada por ciúmes, invejas, enfim essas mesquinharias de que, às vezes, o ser humano é capaz.
Portanto, antes de atacarmos a questão, vale enfatizar aqui uma boa imagem poética: pensem em Kant como o auge do Iluminismo, um sujeito que está ali acompanhando os acontecimentos da Revolução Francesa e celebrando as ruínas do absolutismo. Mas que ainda não conhece uma sociedade urbana e industrial, isto é, pensem nele como um sujeito otimista, um pensador que vai te dar uma lição sobre como a razão humana pode ser capaz de reelaborar, de trabalhar a nossa natureza instintiva a fim de garantir o bom convívio entre iguais. Bem, vejamos como isso se dá no enunciado da questão 20 da prova de inverno nº 03 de 2015 da UEM.
E aí, que tal o enunciado? Bonito demais o argumento, não? Vamos tentar traduzir o pensamento dele antes de irmos às alternativas. Em Kant, eu e você somos parte de uma humanidade. E guarde isso, pois esse será seu pano de fundo kantiano para os vestibulares: em Kant, eu e vocês somos iguais por natureza porque somos seres racionais e, portanto, capazes de deliberar, de decidir em nome do bom senso. Isso mesmo, em Kant a razão é uma espécie de boa vontade que determina as suas atitudes na direção do que é certo, do que é justo. Enfim, em Kant, em nossa razão está inscrito um senso de dever que é capaz de ser mais fortes que nossas inclinações. Sendo assim, se alguém pisa na bola contigo, lá vem o desafio: como reagir, avaliar ou julgar os seus atos? Optar pelo perdão ou pela repreensão? Levar em conta que a pessoa errou por uma questão de caráter mesmo ou não custa nada dar uma segunda chance?
Vejamos as afirmações:
ü  A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO contém um problema: tratar de maneira humilhante uma pessoa que cometeu um erro ou um crime – como no caso da questão -, na verdade, só te torna igual a ela. Ou seja, esqueça essa afirmação tanto no vestibular quanto na vida;
ü  A SEGUNDA AFIRMAÇÃO é um desvio de rota: oras, em Kant, os seres humanos têm um fim em si mesmo. E isto quer dizer que em Kant não existe “colega” ou “amizade colorida”. Amigo é amigo porque entre eles só pode haver afinidade e convívios desinteressados;
ü  A TERCEIRA AFIRMAÇÃO é kantianíssima. E acrescentaria ainda que esse respeito ao ser humano é um imperativo categórico, ou seja, é um sentido de iniciativa que deriva de leis naturais de nossa razão;
ü  A QUARTA AFIRMAÇÃO... Bem, infelizmente, eu penso que seja bastante provável que você encontre narrativas como essas no seu convívio social. Porém, você vai aprender em Kant que existe uma grande distância entre avaliar e julgar as pessoas e suas atitudes. Portanto, a afirmação está fora de cogitação.
ü  A QUINTA AFIRMAÇÃO também é kantianíssima, afinal quando o enunciado te indica que é preciso reconhecer que o fundamental é avaliar e julgar as atitudes, as decisões de uma pessoa – e não a sua condição humana. Sendo assim, que fique claro que os erros e crimes devem ser julgados, mas sempre de acordo com o contrato social de cada comunidade.
ü  PORTANTO, A SOMATÓRIA CORRETA É 4+16=20

COMO VOVÓ JÁ DIZIA
Bem, esse foi Kant na UEM. Como vimos, ele considera que a nossa competência racional e deliberativa é capaz de deslocar a nossa natureza, evitar as inclinações e garantir uma ação justa e equilibrada. Porém, que fique claro: você vai assistir ao filme “Depois de Lúcia” para entender justamente o que é a menoridade em Kant, ok? Ele seria um contraexemplo do comportamento kantiano, e aqui me explico: é difícil encontrar personagens kantianos no cinema hobesiano, ops, digo, hollywoodiano...
Abraços e até a próxima!

Profábio

POSITIVISMO na UEL 2016


Hoje nós vamos tratar de um tema que gerou bastante polêmica no começo desse Governo Temer: o pavilhão nacional “Ordem e Progresso”.  E pra começar, nós vamos te indicar uma dupla que tratou da construção desse slogan político há cem anos e que pode ser muito importante para a sua aprovação nos vestibulares: BRASIL UMA BIOGRAFIA (de 2’25” a 3’03”). República, democracia e positivismo. Por que esses temas ainda nos são atuais?

POSITIVO É O PROGRESSO
Nós já tivemos a oportunidade de trabalhar o lado científico do positivismo em nossa aula que citamos o filme Vênus Negra, você se lembra? (CITAÇÃO?) Você deve se lembrar que o positivismo foi uma filosofia de inspiração idealista desenvolvida por um francês chamado Auguste Comte. Como um bom filho do século 19, ele também acreditava que o desenvolvimento material e tecnológico de um país seria o reflexo de sua grandeza espiritual. Isso mesmo, a chamada segunda revolução industrial fez com que a inteligência europeia assumisse a crença de que o progresso material e tecnológico de um país seria uma forma de espelhar a sua riqueza intelectual.
Em outras palavras, se fôssemos positivistas no século 19, fatalmente nós confundiríamos cultura com civilização, ou seja, quanto mais tecnologia, eletricidade e branquitude (ops), maior o desenvolvimento histórico de nosso país.
E foi exatamente esse espírito que tomou conta do nosso IHGB, o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, que foi criado em 1838 com a intenção de produzir uma ciência histórica e geográfica e uma literatura que traduzisse as propostas políticas da inteligência brasileira. Afinal, o Império tinha que encontrar uma forma de diminuir as tensões sociais daquele momento. 
Sendo assim, os eventos históricos do final do século 19 como a crise da escravidão e os custos sociais da Guerra do Paraguai só reforçaram a crença no positivismo como uma ideologia moderna, progressista e capaz de aglutinar civis e militares em nome de um novo regime, conforme se vê na questão 20 da prova de tipo 01 da UEL de 2016.

Bem, conforme construímos o nosso argumento, a UEL também te afirma que o positivismo foi uma ideologia marcante no processo de proclamação da nossa república. Agora, resta você conhecer bem os detalhes desse contexto histórico. Vamos às alternativas:
ü  A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO está errada porque o lema positivista ganhou expressão política na Escola Militar do RJ: ele era um slogan dos militares que assumiram a missão cívica de romper com as tradições monarquistas e construir um governo republicano baseado na participação popular;
ü  A SEGUNDA AFIRMAÇÃO também está equivocada porque você sabe que o voto durante a primeira república era restrito aos homens letrados maiores de idade. Ou seja, essa conversa de voto universal só é garantida mesmo em 1988;
ü  A TERCEIRA AFIRMAÇÃO é corretíssima, pois foram determinados setores militares que começaram a se articular após a Guerra do Paraguai com o apoio da elite cafeicultora a fim de derrubar o império. Lembre-se que numa perspectiva positivista, a história é linear, portanto nada mais “natural” que a monarquia caia para dar lugar à república;
ü  A QUARTA AFIRMAÇÃO também é verdadeira, afinal como você sabe, os nossos primeiros presidentes republicanos foram o militar e monarquista Deodoro da Fonseca e o forte Floriano Peixoto que garantiu a estabilidade institucional para a consolidação da Constituição de 1891. Assim a alternativa correta é a LETRA C, que indica as afirmações 3 e 4 como certas;

ORDEM, ONTEM E HOJE
Como você pode notar, o positivismo foi uma ideologia fundamental na composição das forças políticas que proclamaram a república. Mas apesar de garantirem participação política e respeito às liberdades individuais, o que houve, na verdade, foi um regime autoritário. Saca só o que te diz o Murilo de Carvalho (de 2’45” a 3’56”). Sacou como foram as articulações políticas em torno da proclamação de nossa República?
Bom, agora resta vocês ficarem atentos a esse tema: positivismo. Ele é uma boa dica de atualidade para os seus vestibulares desse 2016. E não custa nada ser irônico: sejamos positivistas: um pouco de disciplina, compostura e dedicação não faz mal a ninguém. Ao contrário: isso tudo só tem a contribuir com a sua aprovação!
Abraços e até a próxima!

Profábio

HOBBES NO ENEM 2015


Hoje vamos trata de um importante filósofo moderno que teorizou não sobre a natureza humana como também sobre a natureza e a função do que chamamos de Estado: Hobbes.Em Hobbes, você encontrará a seguinte preocupação: existem direitos naturais? Se existem, como garanti-los uma vez quem, em teoria, somos iguais por natureza? Pois é, a pergunta é esta mesma: a sociedade pra você é uma coletividade ou um grupo de indivíduos? Acompanhe a lição hobbesiana no ENEM.

MECANICISMO E POLÍTICA
Hobbes publica o seu Leviatã em 1651, isso significa que você deve levar em conta que ele foi um sujeito que acompanhou bem de perto as guerras civis inglesas em função do avanço dos enclousers e da instalação do parlamento inglês. Dessa forma, seria bem interessante que você encarasse o Hobbes como um teórico que acompanhou de perto a formação do estado nacional inglês ao longo do século 17.
Além disso, pode-se dizer que os seus escritos sofreram uma forte influência das concepções científicas de sua época. Aqui você tem que se lembrar do avanço do racionalismo moderno que desde Galileu, passando por Kepler e chegando em Newton que, como você se sabe, teorizou sobre como a natureza funciona como um grande sistema, um grande mecanismo com suas próprias regras. Assim, um corpo repouso permanece em repouso, e um corpo curioso permanece em...?
Agora, dadas essas coordenadas históricas e científicas, resta lembrar que o contratualismo é uma concepção política que pressupõe que existe uma condição humana natural para, então, advogar uma determinada concepção de vida em sociedade. Oras, assim o contratualismo envolve uma série de concepções políticas que a burguesia desenvolveu ao longo da modernidade a fim de construir o chamado Estado-nação. Vejamos, então, qual a concepção de política que Hobbes propõe na questão 26 do ENEM de 2015. (LEITURA)

NATUR É PODER
Bem, como você sabe o ENEM vai te colocar diante de citações clássicas, originais. E aqui ele tenta te pregar uma peça, mas como bom hobesiano você já desconfiava dessa possibilidade. O que vemos em Hobbes é que, já que eu e você somos iguais por natureza, tendemos a querer conviver como iguais em sociedade. Porém, aqui o ENEM te sonegou uma informação, pois essa tal vida em sociedade, harmônica e igualitária só é possível se houver um árbitro, um juiz entre nós, o tal Estado, o Leviatã, um governo forte que se imponha, senão pelas armas, que seja pela força. Portanto, a alternativa que justifica a nossa vida natural em Hobbes é a letra “A”, uma vez que somos egoístas por natureza. E desejamos um estado, um líder, um juiz forte para chamar de nosso..

POLÍTICA É TEMOR
 Pra encerrar, vale reforçar algo que já dissemos por aqui: que o ENEM gosta dos contratualistas, e que ele sempre vai colocar você diante de um deles pra que você saiba que bússola social usar: a confiança ou a desconfiança. Isso mesmo, pois veja: se você considera que a tua vida em sociedade é uma questão de caráter, fique com Hobbes e siga adiante até chegar num Weber, ou um pouco mais adiante num Foucault. E fique tranquilo, pois, cedo ou tarde, você vai entender que todo olhar é interessado.
Agora, se você pensa que a tal “natureza humana” existe e é boa, então segure na mão de Rousseau e eu diria... Boa sorte! Afinal, se você acha o vestibular difícil, é porque você ainda não conheceu o mercado de trabalho...
Abraços e até a próxima!
Profábio


NIETZSCHE na UNESP 2016


Nós já abordamos a presença de NIETZSCHE no ENEM, se lembra? (INSERT DE NOSSA AULA) Porém, o ENEM nos sacaneou, criou falsas expectativas, pois trouxe o filósofo alemão para tratar de filosofia pré-socrática... Mas de qualquer forma, foi um aviso. A boa notícia vem da UNESP realizada em MAIO DE 2016: ela trouxe uma citação nietzschiana da gema, original, cheia de classe para você começar a lidar com a crise da metafísica. Isso mesmo, uma porrada nos cornos. 

HUMANO, DEMASIADO HUMANO
A UNESP te oferece uma citação de “humano, demasiado humano”, uma obra composta de aforismos, isto é, excertos rápidos, trechos curtos que condensam um argumento decisivo a respeito de algum tema. A obra foi publicada em 1878 quando Nietzsche tinha 34 anos, e ela dialoga com os moralistas franceses do século 18. O problema colocado pela citação da UNESP é a tal da moralidade. Vamos entender isso melhor.
As primeiras referências para você compreender Nietzsche são a tragédia grega e o pessimismo de Schopenhauer. Em primeiro lugar, o alemão funda a sua filosofia tendo em vista que nós somos isso que a natureza nos deu, então o melhor que fazemos é encontrar isso que eu e você chamamos de talento e tocar diante, aprimorá-lo, aperfeiçoá-lo. Sendo assim, a vida boa, a vida ética não é mais uma questão de ética, mas sim de estética, de vigor, de autenticidade. 
Isso mesmo, em Nietzsche a vida boa, legítima está na tua capacidade de reconhecer que padecemos, somos finitos e, portanto, o fundamental é identificar e reconhecer que, antes de tudo, somos motivados por uma exigência absurda de preservação da espécie que ele vai chamar de Vontade de Potência. Bem, vejamos como isso se dá no enunciado da questão 59 da UNESP DE 15/05/2016

A CRISE DA METAFÍSICA
Primeira coisa importante que você tem que levar em consideração: em Nietzsche, não existe olhar desinteressado. Isso mesmo, esqueça essa conversa de inatismo, ingenuidade ou espontaneidade, pois essas coisas morreram com os iluministas. (TÓPICO 01: 04 PRIMEIRAS LINHAS)
Feito isso, você segue adiante, e Nietzsche reconhece que até mesmo o exercício do voluntarismo nunca é desinteressado, afinal ele só existe quando há um sujeito em busca de algum tipo de recompensa ou reconhecimento. (TÓPICO 02: DE 04 A 07º LINHA) E quando esse voluntarismo se torna recorrente e se transforma em solidariedade, é porque os semelhantes se encontram: um alguém egoísta que busca recompensa pelas suas ações e outro alguém egoísta o suficiente para esperar a ajuda alheia. Sendo assim, a tua conclusão é drástica: não existe metafísica, isto é, não existem valores abstratos universais capazes de orientar as ações humanas.
Isso nos leva à “LETRA A” como correta, pois ela reconhece que a razão é apenas um dos fatores motivadores das ações humanas e que, no mais das vezes, somos determinados por segundas, quintas intenções. Vejamos as outras alternativas:
ü  Não pode ser a “LETRA B” porque Nietzsche é sinônimo de ruptura com os fundamentos da ciência moderna;
ü  A “LETRA C” te apresenta uma afirmação corretíssima a respeito da filosofia estoica, porém ela não tem nada a ver com o enunciado;
ü  Não pode ser A “LETRA D” porque, como vimos, a vida boa, a vida virtuosa em Nietzsche é uma questão de excelência de si mesmo, é uma questão de estética – e não de ética;
ü  Não pode ser A “LETRA E” porque, como vimos, a filosofia nietzschiana representa uma ruptura com a chamada tradição filosófica que vem desde Platão até Kant;

Por último, mas não menos importante: os filmes que citamos aqui servem só para ilustrar o nosso raciocínio. Que fique claro que por mais rica que seja, a cultura pop não alcança a filosofia nietzschiana. Se você quer realmente encarar essa filosofia alemã, aqui vão alguns nomes de comentadores que podem te ajudar bastante: Oswaldo Giacoia, Scarlett Martton e Benedito Nunes. Esses brasileiros sim, vão te iniciar em Nietzsche.
Abraços e até a próxima!
Profábio




PUBLICIDADE na UNESP 2016


Bem, vamos junto com Pondé e assumir que é possível medir a musculatura de uma vida em sociedade através da veiculação de publicidades e propagandas. Mas feito isso, ainda resta a seguinte questão: como as pessoas devem lidar com os excessos da propaganda? Dá uma olhada na publicidade dessa singela sandalinha da Xuxa... E aí, como você reagiria se a sua filha, a sua irmãzinha ou até mesmo o seu irmãozinho se sentisse excitado pela simulação de orgasmo aderisse à causa da sandália? Você processaria a Xuxa? Iria brigar com o Governo? Ou assumiria a responsabilidade por ter deixado a pequena ser educada pela TV? Delicado, né?

PUBLICIDADE E ENCANTAMENTO
Bem, como o nosso tema é bem forte, nós vamos dividir a leitura do enunciado em duas partes para melhor compreendê-lo. A UNESP, com a sua sofisticação de sempre, resolveu tratar dos impactos sociais da publicidade. Vamos ao enunciado da questão 57 da prova da UNESP realizada em 15/05/16.
Como você deve notar, se trata de um enunciado consistente que exige muita concentração para que você compreenda as condições econômicas desenvolvem estímulos de nível afetivo e simbólico. Ou seja, numa leitura mais imediata: a nossa posição social envolve alguma coisa como status e prestígio. E quando a pessoa descobre o mecanismo, ela não vai querer ficar de fora, né?
Bem, vamos voltar ao enunciado. Como se vê, a autora trata de esclarecer o funcionamento do discurso publicitário: ele é construído de maneira a ser persuasivo, convincente, sempre positivo e transparente para que a mercadoria seja capaz de encarnar os mais quentes e íntimos desejos de seus consumidores.
Dessa forma, a alternativa correta é a “LETRA C” que traduz o enunciado ao reconhecer que a principal função da estética, da linguagem publicitária é comunicar, é suscitar, é prometer ascensão, aceitação e status sociais através do consumo. Vejamos as outras alternativas:
ü  A “LETRA A” é uma asserção típica de pessoas que demonizam a publicidade e acreditam que só os pedagogos são capazes de salvar o mundo, o que, convenhamos, nunca foi verdade;
ü  A “LETRA B” é o teu canto de sereia: é provável que você já esteja viciado em questões frankfurtianas! Calma e perceba que a questão exige que você reconheça a função da estética publicitária;
ü  A “LETRA D” está completamente fora de contexto, afinal o enunciado te diz que a linguagem publicitária opera no nível da alienação, e não no nível do esclarecimento;
ü  A “LETRA E” diz o oposto do enunciado, certo? Afinal, a partir da lógica do enunciado, quanto mais a publicidade jogar com os estereótipos, maior serão as suas chances de êxito, não?

FETICHE É MOEDA
Como se vê, a UNESP gosta de trabalhar com textos que jogam com as nossas condições emocionais e psicológicas. Isso mesmo, é bastante comum vocês encontrarem citações que abordam como a economia, a publicidade e a ciência demonstram como muitos de nossos comportamentos podem ser motivados por questões afetivas, emocionais e psicológicas, isto é, nem sempre são motivos racionais.
Agora, para encerrar, talvez seja interessante voltar às questões iniciais: o que fazer frente aos excessos da publicidade? Bem, a resposta não seria fácil e nem simples, mas talvez seja válido, antes de tudo, considerar que, muitas vezes, o problema não é a publicidade em si, mas os fatores humanos por trás dela. Portanto, antes de criticar qualquer publicidade, lembre-se que você é responsável por aquilo que você consome. O que nos resta é, portanto, divulgar o nosso canal: mantenha contato, mande suas dúvidas e abraços! 
Abraços e até a próxima!
Profábio

segunda-feira, 11 de julho de 2016

MUNDO MEDIEVAL no ENEM


Me diz uma coisa: o Estado é laico, certo? As suas instituições também, correto? Elas devem zelar pela liberdade de expressão e pela salvaguarda, ou seja, pela garantia dos indivíduos cultivarem as suas próprias convicções ideológicas e religiosas de foro íntimo com dignidade e respeito, correto? Sendo assim, como fica o ENEM? Você crê que ele também é laico? Você crê que que também funciona sob a batuta da mesma imparcialidade que toca a banda da Constituição do Estado brasileiro? 

O ENEM É BRASIL
Vamos tentar responder as nossas questões iniciais. Mas pra isso, precisamos voltar ao ENEM de 2009, pois naquele a prova passou a ter 180 questões em dois dias. Dê uma olhada nas 45 questões de Humanas e você não encontra 01 que trate de Mundo Medieval e, claro, sequer de sua filosofia, a teologia. Logo depois, dê um pulo no ENEM de 2015, isto é, na sua “1º aplicação”: lá você encontra 04 questões sobre Mundo Medieval, sendo 03 diretamente ligadas ao espírito da filosofia medieval, e uma que - não podia faltar, né? – traz uma citação do Le Goff. Ou seja, quase 10% da prova aborda... religiosidade. 
Só pra concluir: você ainda pode dar um pulo na “2ºaplicação do ENEM de 2015”, e ali você ainda vai encontrar mais duas questões que tratam de mundo medieval e de sua concepção de mundo... Religiosa. Agora, a su pergunta talvez seja: o que isso quer dizer? Oras, o ENEM é o retrato da sociedade brasileira, e do seu conservadorismo torto que se manifesta baseado não somente em valores políticos questionáveis... Mas também em valores religiosos que nem sempre são tão cristãos assim, afinal sabemos que o ethos religioso hoje se confunde com um ethos financeiro. Mas, enfim, resta outra curiosidade: é que ninguém reclamou de “doutrinação religiosa” do ENEM 2015 nas redes sociais, né...

ORA ET LABORUM
Deixando a política de lado, vamos à religião. Uma das 04 questões religiosas, ops, de filosofia medieval que o ENEM te propõe traz um discurso que legitima os estamentos sociais feudais. Aqui vale lembrar que você tem, basicamente, dois filósofos – leia-se teólogos – que sempre estão presentes nos vestibulares: o neoplatônico Santo Agostinho e o neoaristotélico Tomás de Aquino. E, surpreendentemente, ambos estiveram presentes no ENEM de 2015! Mas vamos ao que interessa: o enunciado da questão 05 do caderno azul de 2015

Como você pode notar, o ENEM chama a teologia de ideologia. Ou seja, ele traveste a concepção de mundo religiosa, que legitimou um milênio de civilização europeia, como um discurso político com objetivos políticos e econômicos. Perceba: existe aqui uma sutileza que você não pode deixar passar pra entender o ENEM: religião é ideologia. Quanto à questão, ela exige que você reconheça o mínimo sobre mundo medieval, que está na “LETRA A”. Afinal, vejamos as outras alternativas:
ü  Esqueça a “LETRA B”, afinal o enunciado te dá como certo de que a tua posição social é natural; e já que a sua natureza é divina, resigne-se – e não revolte-se;
ü  A “LETRA C” vai na contramão do enunciado, afinal a teologia em questão legitima tanto uma ordem social, quanto econômica quanto política;
ü  ... Por mais que você e o ENEM sejam marxistas, o limite de vocês é chamar “religião de ideologia”. Oras, a “LETRA D” não se encaixa no enunciado;
ü  Quanto à “LETRA E”... Faz o seguinte: questione a ordem divina e espere sentado por um cara chamado TORQUEMADA 

RELIGIÃO E IDEOLOGIA
 Como você pode notar, o ENEM acompanha, reflete e também determina as tendências da sociedade brasileira. Sendo assim, é bastante provável que você continue encontrando temas da atualidade diluídos entre as suas questões de humanas. O nosso propósito hoje foi tratar menos de religião, e mais de como o ENEM pode ser instrumento religioso. Ops, quero dizer ideológico. Ops, melhor político, afinal se 4/45 questões abordam características da filosofia medieval, é porque “algo acontece” na sociedade brasileira.... Sendo assim, nós só temos uma dica: cuidado, porque você pode até deixar os medievalismos pra trás, mas é provável que o Torquemada ainda se manifeste entre vocês...
Abraços e até a próxima!
Profábio