A UEL E OS CLÁSSICOS
Como se
sabe, a Universidade Estadual de Londrina tem uma das provas mais bonitas de
Filosofia e Sociologia dentre os vestibulares. Bem, eu vou me explicar: pode-se
que esta beleza está no fato de a UEL apresentar nomes e conceitos já
consagrados pela crítica acadêmica e, diante deles, exigir dos candidatos
precisão conceitual e rigor interpretativo em suas questões. Nesse sentido, ao
dialogar com um repertório tradicional dessas disciplinas, é como se ela apontasse
seu indicador ao candidato e parafraseasse Ítalo Calvino ao dizer: “leia os clássicos,
afinal eles sempre serão inéditos”. Bem, vejamos o porquê.
Em setembro
de 1940, Walter Benjamin era um refugiado que tentava fugir das sombras do nazi-franquismo,
mas o pavor acabou tomando conte dele e acabou cometendo suicídio com uma
overdose de morfina nas fronteiras da França com a Espanha. Este judeu alemão
teve um rico convívio familiar em sua infância e durante a sua maturidade
atingiu um de seus objetivos mais arrojados: ser um grande crítico da literatura
alemã.
Além
disso, a sua biografia é marcada pelas amizades com Hannah Arendt (que herdou grande
parte de seus escritos), e com Adorno e Horkheimer, com quem sempre travou
grandes discussões teóricas. Enfim, felizmente hoje seu nome estrela nos
vestibulares brasileiros, a exemplo da “QUESTÃO
46” proposta pela UEL em 2016, em sua prova de TIPO 01.
MODERNIDADE É SEMELHANÇA
Bem, o
nosso recorte envolve o texto “A obra de
arte na era da sua reprodutibilidade técnica” no qual
Benjamin elabora críticas
aos efeitos de sobreposição das condições técnicas industriais sobre a nossa
sensibilidade estética. Para se compreender melhor o texto, seria bom se lembrar
de que Benjamin foi um sujeito que acompanhou o surgimento da fotografia, dos
jornais cotidianos, do cinema, enfim muitos de seus escritos tratam das
condições de surgimento da vida metropolitana tal como nós a conhecemos hoje: rápida,
veloz, metálica, fugaz, efêmera e, por tudo isso, encantadora. Não à toa,
Benjamin também é reconhecido como um grande crítico da Modernidade.
Caso tenham
dúvidas quanto às alternativas, vejamos:
ü A letra “A” é “completamente fora da
casinha”: a atualização da obra de arte significa transformá-la em mercadoria
e, portanto, alienar as pessoas. Oras, assista ao especial de fim de ano do
Roberto Carlos, e depois conversamos;
ü A letra “B” traz uma semelhança que
não pode ser confundida: a fotografia e o cinema rompem com a arte tradicional.
Em suma porque são artes com forte apelo urbano, industrial e de escala de
massa;
ü A letra “D” traz uma sugestão para
quem conhece Benjamin: o conceito de “aura”, que é típico das artes
tradicionais. Uma provocação? Afirmo que Filipe Catto tem aura. Pergunto: Maria
Rita tem?
ü A letra “E” não pode ser porque o
enunciado demonstra que a reprodução técnica promove uma ruptura com a
tradição, certo?
AURA E AUTENTICIDADE
O que está
em jogo na questão é a capacidade do candidato compreender que a confusão entre
as condições industriais de produção e o artifício artístico destrói uma
qualidade inerente à fruição estética: a sua originalidade. Sim, eu sei que é
preciso revisar, então vejamos de outra forma: o brilho de Benjamin foi detectar
como os processos criativos de artes tradicionais como a literatura, a pintura,
a ópera, o teatro perdiam a sua “aura”, isto é, o seu encanto, o seu charme, a
sua singularidade, a sua autenticidade quando as suas confecções deixaram de
ser artesanais, isto´ é, frutos de um único gênio, e passaram a ser mera
questão de prazos, metas é lucros, isto é, foram submetidos aos critérios
técnicos. Enfim, o capital pasteuriza a arte, e a submete às exigências da
vulgaridade do cotidiano. Oras, vá, visite e veja com seus próprios olhos uma
loja do Romero Brito...
Abraços e
até a próxima!
Profábio