domingo, 13 de março de 2016

'McEVIL' na UNICAMP 2015

A FILÔ NA UNICAMP
Tradicionalmente, a UNICAMP traz uma questão de Filosofia em seu vestibular. Sim, isto mesmo: uma questão de Filosofia. Por exemplo, a prova realizada em 2012 já começa com uma citação platônica citando, claro, Sócrates; a prova realizada em 2013 trouxe Descartes, por sua vez a prova realizada em 2014 trouxe uma curta citação de John Locke. Outra característica comum dessas provas recentes é o fato delas envolverem teoria do conhecimento, isto é, todas elas o candidato teria que compreender como nós fabricamos conhecimento.

Da mesma forma que as provas anteriores, a prova realizada em 2015 também trouxe uma (01) questão especificamente de Filosofia. Entretanto, mas ela trouxe uma preciosa citação d’O Príncipe de Maquiavel que aborda valores em torno da lealdade do governante em relação aos apertos de mãos que ele celebra. Dito de outra forma, é como se a UNICAMP, de modo bem sutil, exigisse que o candidato conhecesse bem a concepção de ética em Maquiavel. Oras, não seria interessante pensar que essa questão vem a calhar com o contexto político nacional? Sendo assim, vamos ao enunciado:

ENTRE A VIRTUDE E A VIRTÚ
 Como se lê, Maquiavel deixa claro que todos reconhecem que fé e integridade são valores nobres e que eles tornariam de fato o exercício da política um pouco mais virtuoso, mais digno e justo de ser combatido. Mas logo após esta constatação, ele afirma que a experiência histórica, desde Júlio César aos Bórgias de seu tempo, na verdade, demonstra justamente o contrário: que tudo o que se fez de grande na política foi realizado com astúcia, isto é, com virtú.  
Eis aqui o momento mais esclarecedor do raciocínio maquiaveliano. Neste autor florentino, nós encontramos um tratado do realismo político, pois a política para ele não trata do que “deveria ser”, mas sim de “como ela tem sido e de como ela é”. Sendo assim, a astúcia em Maquiavel uma virutde, e será chamada de “virtú”. Mas prestem atenção: a virtude em Maquiavel é algo completamente diferente da virtude grega:  enquanto para os gregos a virtude é um talento natural do ser humano para o bem, é um exercício de honra, de justiça, enfim é um ajustar-se à necessidade do bem comum, em Maquiavel a “virtú” deve ser compreendida como a sagacidade do governante de saber quando e como ser bondoso, de saber quando e com quem ser agradável... Percebe como a “virtú” maquiaveliana é justamente o oposto da virtude grega?! Enfim, se virtude para os gregos é ser bom porque isso te torna uma pessoa melhor, em Maquiavel o que importa é parecer ser bom, afinal é o seu poder, o seu governo, enfim os seus interesses que estão em jogo. 

A ÉTICA DO POSSÍVEL
 Isso nos leva então à letra A como a alternativa correta, afinal vejamos as outras:
ü  A letra B está duas vezes errada, afinal a prudência é um valor maquiaveliano sim, e isto porque não tem absolutamente nada a ver com fé, mas sim com a transformação de situações em oportunidades;
ü  A letra C... Bem, digamos que o fundamental na ética maquiaveliana é a manutenção da integridade do governo, e depois a integridade da pessoa do príncipe;
ü  A letra D é o canto de sereia dos desavisados: afinal, ela tem tudo pra conduzir o candidato ao erro, caso ele não se lembre-se de que Maquiavel é um homem do renascimento e, portanto, separa a ética cristã da ética política.

Enfim, esperamos que vocês tenham conhecido um pouco mais sobre o perfil da UNICAMP e, de quebra, um pouco mais também sobre a ética em Maquiavel. Afinal, que fique claro que há uma ética maquiaveliana, esta é a “ética do possível”. Mas isso é assunto para outra videoaula.
Abraços e até a próxima!
Profábio

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