A FILÔ NA UNICAMP
Tradicionalmente,
a UNICAMP traz uma questão de Filosofia em seu vestibular. Sim, isto mesmo: uma
questão de Filosofia. Por exemplo, a prova realizada em 2012 já começa com uma
citação platônica citando, claro, Sócrates; a prova realizada em 2013 trouxe
Descartes, por sua vez a prova realizada em 2014 trouxe uma curta citação de
John Locke. Outra característica comum dessas provas recentes é o fato delas
envolverem teoria do conhecimento, isto é, todas elas o candidato teria que compreender
como nós fabricamos conhecimento.
Da mesma
forma que as provas anteriores, a prova realizada em 2015 também trouxe uma (01)
questão especificamente de Filosofia. Entretanto, mas ela trouxe uma preciosa
citação d’O Príncipe de Maquiavel que aborda valores em torno da lealdade do
governante em relação aos apertos de mãos que ele celebra. Dito de outra forma, é como se a UNICAMP, de modo bem sutil, exigisse que o
candidato conhecesse bem a concepção de ética em Maquiavel. Oras, não seria
interessante pensar que essa questão vem a calhar com o contexto político
nacional? Sendo assim, vamos ao enunciado:
ENTRE A VIRTUDE E A VIRTÚ
Como se lê, Maquiavel deixa claro
que todos reconhecem que fé e integridade são valores nobres e que eles
tornariam de fato o exercício da política um pouco mais virtuoso, mais digno e
justo de ser combatido. Mas logo após esta constatação, ele afirma que a
experiência histórica, desde Júlio César aos Bórgias de seu tempo, na verdade,
demonstra justamente o contrário: que tudo o que se fez de grande na política foi
realizado com astúcia, isto é, com virtú.
Eis aqui o momento mais
esclarecedor do raciocínio maquiaveliano. Neste autor florentino, nós
encontramos um tratado do realismo político, pois a política para ele não trata
do que “deveria ser”, mas sim de “como ela tem sido e de como ela é”. Sendo
assim, a astúcia em Maquiavel uma virutde, e será chamada de “virtú”. Mas
prestem atenção: a virtude em Maquiavel é algo completamente diferente da
virtude grega: enquanto para os gregos a
virtude é um talento natural do ser humano para o bem, é um exercício de honra,
de justiça, enfim é um ajustar-se à necessidade do bem comum, em Maquiavel a “virtú”
deve ser compreendida como a sagacidade do governante de saber quando e como ser
bondoso, de saber quando e com quem ser agradável... Percebe como a “virtú”
maquiaveliana é justamente o oposto da virtude grega?! Enfim, se virtude para
os gregos é ser bom porque isso te torna uma pessoa melhor, em Maquiavel o que
importa é parecer ser bom, afinal é o seu poder, o seu governo, enfim os seus
interesses que estão em jogo.
A ÉTICA DO POSSÍVEL
Isso nos
leva então à letra A como a alternativa correta, afinal vejamos as outras:
ü A letra B está duas vezes errada,
afinal a prudência é um valor maquiaveliano sim, e isto porque não tem
absolutamente nada a ver com fé, mas sim com a transformação de situações em
oportunidades;
ü A letra C... Bem, digamos que o
fundamental na ética maquiaveliana é a manutenção da integridade do governo, e depois
a integridade da pessoa do príncipe;
ü A letra D é o canto de sereia dos
desavisados: afinal, ela tem tudo pra conduzir o candidato ao erro, caso ele
não se lembre-se de que Maquiavel é um homem do renascimento e, portanto,
separa a ética cristã da ética política.
Enfim,
esperamos que vocês tenham conhecido um pouco mais sobre o perfil da UNICAMP e,
de quebra, um pouco mais também sobre a ética em Maquiavel. Afinal, que fique
claro que há uma ética maquiaveliana, esta é a “ética do possível”. Mas isso é
assunto para outra videoaula.
Abraços
e até a próxima!
Profábio
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