domingo, 5 de abril de 2015

Vlado - 40 anos depois

RESUMO: O artigo trata de atualizar a relevância do filme "Vlado - 30 anos depois" à luz dos conceitos de "memória" e "testemunho". A morte de Vlado Herzog completará 40 anos neste outubro de 2015. Um prato cheio para os vestibulares...


FILMES E REMEMORAÇÃO
Já tivemos a oportunidade de relacionar o filme "Vlado" com outro filme significativo a respeito do regime civil-militar, o "Hércules 56". Naquele abril de 2014, o Coronel Malhães dava seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade: uma confissão a respeito dos lugares e métodos de tortura que definiram as suas atividades na famosa "Casa de Petrópolis". À época, considerei pertinente relacionar o filme "Vlado" com esses outros dois registros audiovisuais devido às dimensões narrativas. Um dos motivos que torna "Hércules 56" um filme imprescindível é o fato de nos oferecer os testemunhos de sobreviventes que lutaram contra a Ditadura. Quanto ao "Vlado", ele ganha força à medida que demonstra aquilo que é indizível a respeito do regime militar.

MEMÓRIAS CONTEMPORÂNEAS
Os estudos em torno da memória, narrativa e testemunho têm sido cada vez mais recorrentes nos campos da História e Literatura. Dentre os fatores que estimularam as pesquisas sobre esses temas, podemos citar o avanço das esquerdas nos governos latino-americanos na última década e a premente necessidade de investigar, atualizar e dimensionar as memórias políticas (sejam individuais ou coletivas) que foram oficialmente sonegadas pelos regimes militares no cone sul latino-americano.

Mesmo que o espaço desse artigo não nos permita uma análise robusta a respeito do tema, penso que seja interessante rastrear como os conceitos de "memória" e "testemunho" têm sido problematizados hoje em dia. A minha pretensão, como sempre, é oferecer referências teóricas àqueles que queiram produzir melhores redações.

MEMÓRIA 
É aquilo que nos torna presentes. Ou seja, a memória sempre é criteriosa e seletiva. Memória é aquilo que nos tornar cada vez mais humanos à medida que somos capazes de reconhecer e evitar nossos fracassos e derrotas. Em outras palavras, se os instintos tornam os outros animais mais adaptativos, em nós, a memória tem teria essa função primordial. Que fique claro que aqui estamos no terreno da História. Com vocês, a Profa Gagnebin.


Sendo assim, quando começamos a falar a respeito do que fomos, quando começamos a racionalizar, a explicar o nosso passado, matamos a memória porque a transformamos em história: palavra, território afetivo, simbolizado e significado. E sempre de acordo com o nosso presente. Nunca nos lembramos das pessoas, eventos e afetos da mesma maneira. O "lembrar" sempre é uma operação de recorte, de crítica e fundada naquilo que nos é importante hoje. No que toca a nossa consciência histórica, só nos lembramos de algo ou de alguém que nos importa hoje. Sendo assim, Vlado ainda é presença entre nós? Seria o Amarildo um espectro de Vlado? Por que ainda a tortura no país?

TESTEMUNHO
Os romanos distinguiam "testis" de "supertes". "Testis" define aquele que viu e vivenciou um fato, ou seja, "testis" é aquele que traz uma versão visual - e, portanto, verdadeira - a respeito de um acontecimento. Por sua vez, "supertes"é aquele que ouviu dizer a respeito de algo, isto é, ele é uma espécie de terceira pessoa que pode comprovar algum fato. Com vocês, o Prof. Seligmann-Silva.


Essas duas versões do testemunho ganham relevo quando os temas são os regimes militares latino-americanos, pois como testemunhar a respeito de espionagens, prisões arbitrárias e torturas? De que forma valorizar - e até mesmo encarar - confissões de tortura e de violações humanas? Seria possível narrar integralmente o horror dos porões? E aqueles que testemunham por terceiros, que condições narrativas eles promovem? O fato de eles narrarem já não é forte o bastante para demonstrar que outros não podem (nem poderão) narrar? Enfim, a palavra seria capaz de reintegrar o que restou de humano ao presente?

VLADO E VESTIBULAR
Hoje, em 2015, o filme "Vlado" completa dez anos. É um filme forte pela maneira como é conduzido com câmeras digitais bem próximas dos rostos dos depoentes, pessoas que viveram ou trabalharam com Vlado. Além desse recurso retórico, outra força expressiva do filme reside no detalhismo dos testemunhos trazidos à tona.... Assim, eis uma questão exemplar da UFSM/2011 a respeito do tema:


(GABARITO:C)
Abraços e bons estudos!
Profábio