Você
consegue imaginar NIETZSCHE NO ENEM?! Isso mesmo, aquele cuja filosofia vem a
marteladas; aquele cujo pensamento ressoa feito dinamite; um sujeito que
detestava a democracia; um dos caras menos presentes nos manuais de filosofia destinados
ao ensino médio. Porém, como tudo, a nossa euforia também tem limites, pois apesar
de Nietzsche estar presente numa prova que destina a mais de sete milhões de
jovens de um país latino-americano em desenvolvimento, o ENEM não aborda
filosofia nietzschiana, mas se vale pra tratar de filosofia pré-socrática...
Mas pelo menos ele está aí, né?
SABER É PODER
A sentença
que abre o nosso capítulo, “saber é poder”, é uma citação do filósofo moderno
Francis Bacon. E com ela, Bacon procurou sintetizar a força da ciência moderna
que tratava de posicionar o ser humano não mais como criatura, mas como criador
de conhecimento, de verdades e de novas naturezas que você vai chamar de
técnica, tecnologia e ciência. Saber também é poder para Foucault, afinal, como
bom nietzschiano, ele funda as suas categorias e os seus estudos levando em
conta que todo olhar é interessado, e de que todo conhecimento implica em
tensão, disputa e, portanto, em jogos de poder.
Eu digo pra
você ter uma ideia da importância de um Nietzsche no ENEM: veja, em 2014 ele
foi uma avaliação realizada por mais de 6 milhões de estudantes e quase 10%
zeraram a redação. Já em 2015, cerca de 7,7 milhões se inscreveram, mas quase 2
milhões não foram fazer a prova.... Você percebe o retrato da educação
brasileira que os números nos oferecem? E se você acha que a presença de um
Nietzsche no ENEM é algo desimportante, permita-me dizer que, de acordo com o
PNUD, a média de escolaridade de um brasileiro é praticamente a metade de um
norte-americano: somamos cerca de 7,4 anos escolares... E agora, ficou melhor
pra compreender o que significa um Nietzsche no ENEM?
SABER É NATUR
Deixemos a
política de lado, e vamos à filosofia alemã. Como o nosso tempo é curto e atenção
é sinônimo de interesse, eu vou direto ao ponto: em Nietzsche você encontrar
uma crítica à história da filosofia. Isto é, você vai ler Nietzsche para
começar, (repito: para começar) a compreender que desde Sócrates até Hegel você
acreditou que, de fato, porque você é dotado naturalmente de razão, você então é
capaz de agir sempre de maneira ética, justa, equilibrada, sensata, ponderada,
simétrica e sincera. Ou seja, se você se deixou levar por essa conversa metafísica
que o teu intelecto é capaz de vencer teus desejos e que a tua força racional
sempre foi decisiva nas tuas escolhas mais nobres, é porque você sequer passou
perto de Nietzsche. Nele, você é... o que você é, ou seja, essencialmente nada. Ou melhor,
você é aquilo que você potencializa em tua própria natureza: se me permitem a
simplificação porque o nosso tempo está acabando e outros afetos incomodam a
tua razão: não existe mistério, em Nietzsche não existem virtudes inatas, e nem
a tua razão é instrumento soberano em suas decisões: eu e você somos vulcões, somos
impulsos e instintos em busca de satisfação. E o melhor que fazemos é tratar de
emancipar e potencializar aquilo que eu e você chamamos de talento. E Nietzsche vai buscar isso na filosofia antes de Sócrates, ou seja, nos
pré-socráticos, conforme a questão
34 do caderno azul do ENEM de 2015.
UM TOQUE PRÉ-SOCRÁTICO
Como você
pode notar, o ENEM não exige o seu conhecimento de Nietzsche: ele é somente um
pretexto para você se lembrar que a filosofia pré-socrática foi a responsável por
romper com o saber mitológico ao tentar racionalizar, isto é, explicar de
maneira lógica as origens físicas daquilo que os gregos chamavam de cosmos, a
natureza, o mundo, o universo. Isso nos leva a “LETRA C” como correta, pois
vejamos as outras alternativas:
ü “A LETRA A” não pode ser porque grego
não transforma a natureza, eles aceitam as coisas como elas são; transformar a
natureza é coisa de um Descartes moderno que inventa a técnica pra suprir as
faltas da natureza;
ü A “LETRA B” não pode ser porque
Nietzsche te diz que não há imaginação e, nesse contexto, quem usa metáforas é
a explicação mitológica, certo?
ü A “LETRA D”, mais uma vez, demonstra a
intenção do ENEM de te fazer confundir a ciência antiga com a moderna.
Lembre-se, método é técnica, e técnica é modernidade;
ü A “LETRA E” está fora de cogitação
porque você não tem que justificar o real porque ele existe; e outra, deixa
esse negócio de empirismo pros ingleses modernos e outra aula nossa...
Bem,
esperamos que vocês tenham conhecido melhor como o ENEM pode se valer de certos
nomes para atacar outras filosofias. Fique atento aos enunciados e sejamos
nietzschianos: todo conhecimento é interessado. Sendo assim, se o interesse do
ENEM provar o seu conhecimento, você terá que ser mais astuto do que ele.
Afinal, saber é poder.
Abraços e
até a próxima!
Profábio