terça-feira, 17 de maio de 2016

O UTILITARISMO na UNESP de 2014

Me diz uma coisa: você se considera um estudante importante para a sua turma? É, isto mesmo: você se preocupa com o bem-estar de sua turma, de sua escola? Imagino que sim, mas por que você procura alegrar o convívio escolar e torná-lo mais agradável? Seria por que você gosta de fazer amigos simplesmente pela amizade em si mesma? Bem, você se considera uma pessoa útil porque participa da aula, porque polemiza, monta grupos de estudos e busca sempre o melhor rendimento escolar, mesmo que isto te custe algumas amizades? (FILME) Bem, esse será o nosso tema de hoje: ética na Unesp.

UTILIDADE É EFEITO
A prova de Humanas da UNESP tem o costume de flertar com uma linha de pensamento que se costuma chamar de liberal conservative, isto é, com uma tradição de pensamento liberal que busca defender a individualidade como um valor social levando em conta os seus efeitos sociais. Explico: o que importa para os liberais conservadores, digamos que é justamente a conservação da capacidade do indivíduo de se virar por conta própria, ou seja, de ele adquirir resiliência, resistência e competência para ser uma pessoa útil, produtiva e capaz de oferecer bons serviços e produtos.

E uma tradução desse raciocínio se encontra no utilitarismo, uma ética fundada pelos ingleses Jeremy Bentham e John Mill em meados do século 19. Dentre as intenções desses ingleses, estava a aliança de uma filosofia moral com uma filosofia política, ou melhor dizendo, para eles, o debate a respeito da ética e da moral deveria envolver questões empíricas, práticas, concretas.
Sendo assim, o indivíduo se torna ético se, de fato, ele traz alguma contribuição social, se ele realmente é um sujeito eficaz, ou seja, se ele sabe se valer do seu tempo e dedicação privados com a intenção de melhorar a vida dos demais.

Bem, você já deve ter percebido que a ética utilitarista, então, traz uma grande inovação histórica: o que importa não é consciência de certo ou errado ou qualquer bobagem metafísica: o que está em jogo é a finalidade de suas ações, a consequência de seus atos, ou seja, se você decide ser uma pessoa utilitarista, você está pensando em profits and benefits. Assim, a vida se torna, então, uma questão de cálculos estratégicos, conforme podemos ver na questão 57 da prova de meio de ano da UNESP de 2014
Como você pode notar, a UNESP traz a citação da revista VEJA, uma revista semanal de grande circulação nos setores médios da sociedade brasileira. E como que ecoando, reverberando o discurso da revista, a UNESP reconhece logo de cara um importante valor político: a defesa da propriedade privada. Oras, apesar das possíveis boas intenções dos ativistas pró-animais, a propriedade privada é um valor inviolável. Um segundo ponto nos interessa: diante do apelo emocional que os cães nos provocam, fica a pergunta: vocês preferem beagles ou avanço científico? Já que tudo nessa vida tem um preço, quantos snoopys custa um medicamento? E isto nos leva a LETRA A como alternativa correta, porque ela reconhece o problema ético proposto pelo enunciado. Vejamos as outras alternativas:

ü  A “LETRA B” não poderia ser porque o debate a questão é eminentemente laica;
ü  Não poderia ser a “LETRA C” porque o problema enunciado é de ordem científica e econômica.
ü  A “LETRA D” até que oferece uma mancha de óleo para aqueles que praticam uma leitura desatenta, mas o problema da propriedade já está resolvido no enunciado: depredação é crime. Agora, restam os beagles...
ü  A “LETRA E”... é o canto de sereia dos desavisados, afinal sim a questão trata dos interesses da indústria farmacêutica, porém não é só isto, envolve primeiro a sua dimensão ética;

PRAZER É O BEM GERAL
Como se vê, a questão da UNESP parece nos oferecer um dilema moral: temos a sensação de ficar entre a comoção pela defesa da vida suprema dos pelos cães – que, convenhamos, bate em cheio no peito da classe média que adora “pets” - e a escolha pela medicina, pelo avanço científico que, em teoria, geraria um bem maior.
Porém, para um bom utilitarista, isso não chega a ser um dilema e sequer um problema social: afinal, se as nossas decisões morais devem estar relacionadas com a finalidade das nossas atitudes, o que importa é ser uma pessoa útil, consequente e preocupado no bem-estar do maior número possível de pessoas.
Bom, devo dizer que a tentação aqui é grande: traduzindo, é como se os utilitaristas fossem os partidários de uma grande campanha pela vida: cada um cuida da sua, de maneira a tornar o convívio social melhor, mais tolerante e produtivo.
Abraços e até a próxima!

Profábio

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