O ENEM de
2015 trouxe um clássico da sociologia brasileira: Sérgio Buarque de Holanda. Ou
“o pai do Chico”, como ele mesmo costumava brincar. Sérgio Buarque foi um
paulistano que se mudou para o Rio de Janeiro ainda muito jovem, por volta dos
vinte anos de idade. Formado em Direito, ele viveu um período bastante
interessante de nossa vida intelectual, pois travou amizade com os modernistas Oswald
e Mário de Andrade, Di Cavalcanti e Jorge Amado. E foi o trabalho com editoras,
jornais e revistas que o levou a passar dois anos em Berlim, onde se interessou
pela obra do cientista social Max Weber.
A GERAÇÃO DE 1930
Junto com Gilberto Freyre e Caio Prado
Jr, Sérgio Buarque compõe a chamada “Geração de 1930”, uma trinca de
intelectuais que romperam com as explicações positivistas do século 19 que aceitava,
por exemplo, as teorias de um Oliveira Viana que afirma que o sol dos trópicos
comprometia o intelecto da raça brasileira... Bem, assim “Geração de 30” promoveu novas
interpretações sobre a realidade brasileira baseadas na antropologia cultural (Freyre),
no marxismo (Prado) e na compreensão weberiana (Sérgio Buarque),
respectivamente. Como veremos a seguir na questão
14 do caderno azul do ENEM de 2015.
O nosso
recorte envolve uma citação do livro “Raízes do Brasil”, publicado em 1936 logo
depois que Sérgio retorna da Alemanha. Mera curiosidade: o livro inaugura a
série “Documentos Brasileiros” dirigida por Gilberto Freyre dentro da editora
José Olympio.
PATRIMONIALISMO É QUESTÃO DE JEITO
Logo de
cara, a citação já nos dá uma pista valiosa: o fato de que a nossa sociedade
brasileira é personalista e, portanto, é baseada em relações sociais frouxas. Eis
aqui um momento sofisticado do pensamento weberiano, ops, buarquiano: relações
sociais são aquelas que construímos fora de casa, da porta para a rua, isto é,
uma vez que são públicas, elas deveriam respeitar as regras sociais que são
frias e técnicas porque são coletivas, certo? O melhor exemplo disso seriam as
filas, isto mesmo: qualquer fila. E como o brasileiro reage ao ver uma fila?
Ele procura alguém conhecido, alguém que lhe seja familiar.... Certo?
O recorte
que nos foi proposto termina dizendo que, além de personalista, o comportamento
do brasileiro tem um forte apelo emocional, afetivo e irracional e que essas
qualidades debilitam, comprometem, estragam o nosso convívio social. E é aqui que
eu trago o próprio Sérgio que, no capítulo sete do livro registra que a nossa
cordialidade dobra até a linguística, afinal optamos pelo uso do diminutivo como
uma forma nos familiarizar mais com as pessoas, de aproximá-las do coração: é o
pagodeiro “Tiaguinho”, o Zeca que é “Pagodinho” e até o Vinicius que virou “o
poetinha”....
Vamos às alternativas. A correta é a letra B, afinal
ü A letra “A” está fora do jogo porque o
patrimonialismo é uma forma de violação das regras sociais. Isto é, como se
sabe, a justiça no Brasil muitas vezes tem nome, sobrenome e cor...
ü A letra “C” é inválida porque o
patrimonialismo também é conhecido como o “jeitinho” brasileiro, e isto
significa que as leis privadas se sobrepõem às leis públicas;
ü A letra “D” traz uma boa oportunidade,
anotem aí: burocracia é o oposto de patrimonialismo. A burocracia pode ser lida
como um conjunto de regras frias, administrativas e que servem pra organizar a
vida em sociedade. Oras, o enunciado diz que o brasileiro tem mesmo é horror a
isso!
ü A letra “E”... Ah, estabilidade, né?
Pergunte à Dilma.
ESTADO NÃO É FAMÍLIA
Bem,
trocando em miúdos, é como se a lição de Sérgio Buarque fosse um pouco essa: o
Estado e a sociedade não são uma extensão de nossas casas. Dito de outra forma,
é de se pensar o Sérgio hoje em dia andando por aí e vendo que os brasileiros,
ao saírem de casa, ainda dizem “e aí, parça”.... Esperamos
que vocês tenham conhecido mais sobre como o ENEM valoriza este clássico do pai
do Chico.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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