terça-feira, 17 de maio de 2016

MAL-ESTAR na FUVEST de 2013


Quando você der um passeio pelo século 19 europeu, você será capaz de se deparar com bondes elétricos, telégrafos, ferrovias e vaudevilles. Bacana, né? Além disso, você vai encontrar uma série de pessoas eruditas que serão chamadas de cientistas, são profissionais liberais escolados no método cartesiano: para eles, a natureza é uma questão de pesos, medidas e métricas. Pois é... Mas para lidar com a FUVEST, você terá que levar em conta que nem tudo que reluz é ciência.

POSITIVISMO É PROGRESSO?
Como você pode notar nas cenas iniciais, a academia francesa fez uma leitura positivista do corpo da chamada “Vênus Negra”, e tirou algumas conclusões antropológicas. Em primeiro lugar, eles consideraram as suas proporções humanas, depois concluíram sobre a sua condição subalterna e, enfim, catalogaram e hierarquizaram o seu conhecimento, mas em relação a um determinado padrão antropométrico: o europeu. Isto porque esses ilustres cabeças são positivistas: para eles, o chamado progresso tecnológico seria sinônimo de progresso moral. Explico melhor: um bom positivista do século 19 considera que as manifestações empíricas, materiais, concretas de um povo explica, traduz e revela as suas condições espirituais, isto é, intelectuais e morais.
Você percebe que o exercício da ciência no século 19 envolve uma luta contra a natureza: trata-se de esquadrinhar os padrões humanos em busca da maior racionalização possível. O que está em jogo é a capacidade humana de maximizar o controle sobre a própria... condição humana! Agora, façamos o seguinte, vejamos o avesso desse exercício científico: vamos a um livro de 1818. Saca só do que um positivista também seria capaz. 
Bom, você já deve ter percebido as relações que estamos a fazer. Senão, me explico melhor: o século 19 consegui mitificar o exercício da ciência. Em nome do chamado progresso, da tecnologia e da razão, a humanidade foi capaz de desenvolver artimanhas tecnológicas que perverteram as condições de vida do próprio ser humano. Fique atento ao enunciado da questão 52 da FUVEST DE 2013
Como se pode notar, a citação de Mary Shelley denuncia a crise da razão científica logo no alvorecer do século 19. E talvez seja interessante lembrar que o livro “Frankenstein” é publicado no mesmo da obra-prima de Schopenhauer, “O mundo como vontade e representação”. O que ambos têm em comum? Oras, em Schopenhauer você encontra uma filosofia que busca conciliar razão e emoção, corpo e alma, intelecto e instinto.
O que quero dizer é que você vai ler Schopenhauer para compreender que a tua razão não é senhora em sua própria casa, ela é uma mera acompanhante de uma força muito maior e impulsiva chamada Vontade. Assim como em Shelley, em Schopenhauer você também encontrará uma forte crítica a essa ideia de que somos animais racionais e, portanto, solares e autônomos.
Antes de continuarmos com a nossa análise, vemos que a alternativa correta é a “LETRA B” que demonstra a irracionalidade da própria razão ocidental positivista. Quanto às outras alternativas, vejamos:
ü  A “LETRA A” seria impossível: vestibulares não fazem apologia à guerra, eles exercem uma função humanista;
ü  A “LETRA C” vai na contramão da literatura: a igreja está fora de questão;
ü  A “LETRA D” até que se insinua para os desavisados, mas basta se lembrar que o século 19 é sinônimo de imperialismo e de darwinismo;
ü  A “LETRA E” também está fora de cogitação porque não há nada de humanista em maldizer um criador, certo?

CIÊNCIA É IRRAZÃO
 Bom, para terminar, vale lembrar que o positivismo tomou bastante porrada ao longo do século 20. Primeiro, faz o seguinte: senta pra ler o mal-estar na civilização do Freud. É um texto relativamente acessível, nada que um pouco de boa vontade não resolva. Ali você vai entender um pouco mais de como a chamada “civilização” é a extensão da barbárie por outros meios...
Abraços e até a próxima!
Profábio


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