Quando você
der um passeio pelo século 19 europeu, você será capaz de se deparar com bondes
elétricos, telégrafos, ferrovias e vaudevilles. Bacana, né? Além disso, você
vai encontrar uma série de pessoas eruditas que serão chamadas de cientistas,
são profissionais liberais escolados no método cartesiano: para eles, a
natureza é uma questão de pesos, medidas e métricas. Pois é... Mas para lidar com a FUVEST, você
terá que levar em conta que nem tudo que reluz é ciência.
POSITIVISMO É PROGRESSO?
Como você
pode notar nas cenas iniciais, a academia francesa fez uma leitura positivista do
corpo da chamada “Vênus Negra”, e tirou algumas conclusões antropológicas. Em primeiro lugar,
eles consideraram as suas proporções humanas, depois concluíram sobre a sua
condição subalterna e, enfim, catalogaram e hierarquizaram o seu conhecimento,
mas em relação a um determinado padrão antropométrico: o europeu. Isto porque
esses ilustres cabeças são positivistas: para eles, o chamado progresso
tecnológico seria sinônimo de progresso moral. Explico melhor: um bom
positivista do século 19 considera que as manifestações empíricas, materiais,
concretas de um povo explica, traduz e revela as suas condições espirituais,
isto é, intelectuais e morais.
Você
percebe que o exercício da ciência no século 19 envolve uma luta contra a
natureza: trata-se de esquadrinhar os padrões humanos em busca da maior
racionalização possível. O que está em jogo é a capacidade humana de maximizar o
controle sobre a própria... condição humana! Agora,
façamos o seguinte, vejamos o avesso desse exercício científico: vamos a um
livro de 1818. Saca só do que um positivista também seria capaz.
Bom, você
já deve ter percebido as relações que estamos a fazer. Senão, me explico
melhor: o século 19 consegui mitificar o exercício da ciência. Em nome do
chamado progresso, da tecnologia e da razão, a humanidade foi capaz de
desenvolver artimanhas tecnológicas que perverteram as condições de vida do
próprio ser humano. Fique atento ao enunciado da questão 52
da FUVEST DE 2013.
Como se
pode notar, a citação de Mary Shelley denuncia a crise da razão científica logo
no alvorecer do século 19. E talvez seja interessante lembrar que o livro
“Frankenstein” é publicado no mesmo da obra-prima de Schopenhauer, “O mundo
como vontade e representação”. O que ambos têm em comum? Oras, em Schopenhauer
você encontra uma filosofia que busca conciliar razão e emoção, corpo e alma,
intelecto e instinto.
O que quero
dizer é que você vai ler Schopenhauer para compreender que a tua razão não é
senhora em sua própria casa, ela é uma mera acompanhante de uma força muito
maior e impulsiva chamada Vontade. Assim como em Shelley, em Schopenhauer você
também encontrará uma forte crítica a essa ideia de que somos animais racionais
e, portanto, solares e autônomos.
Antes de
continuarmos com a nossa análise, vemos que a alternativa correta é a “LETRA B”
que demonstra a irracionalidade da própria razão ocidental positivista. Quanto
às outras alternativas, vejamos:
ü A “LETRA A” seria impossível:
vestibulares não fazem apologia à guerra, eles exercem uma função humanista;
ü A “LETRA C” vai na contramão da
literatura: a igreja está fora de questão;
ü A “LETRA D” até que se insinua para os
desavisados, mas basta se lembrar que o século 19 é sinônimo de imperialismo e de
darwinismo;
ü A “LETRA E” também está fora de
cogitação porque não há nada de humanista em maldizer um criador, certo?
CIÊNCIA É IRRAZÃO
Bom, para
terminar, vale lembrar que o positivismo tomou bastante porrada ao longo do
século 20. Primeiro, faz o seguinte: senta pra ler o mal-estar na civilização
do Freud. É um texto relativamente acessível, nada que um pouco de boa vontade não
resolva. Ali você vai entender um pouco mais de como a chamada “civilização” é a
extensão da barbárie por outros meios...
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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