terça-feira, 17 de maio de 2016

NIETZSCHE no ENEM de 2015


Você consegue imaginar NIETZSCHE NO ENEM?! Isso mesmo, aquele cuja filosofia vem a marteladas; aquele cujo pensamento ressoa feito dinamite; um sujeito que detestava a democracia; um dos caras menos presentes nos manuais de filosofia destinados ao ensino médio. Porém, como tudo, a nossa euforia também tem limites, pois apesar de Nietzsche estar presente numa prova que destina a mais de sete milhões de jovens de um país latino-americano em desenvolvimento, o ENEM não aborda filosofia nietzschiana, mas se vale pra tratar de filosofia pré-socrática... Mas pelo menos ele está aí, né?

SABER É PODER
A sentença que abre o nosso capítulo, “saber é poder”, é uma citação do filósofo moderno Francis Bacon. E com ela, Bacon procurou sintetizar a força da ciência moderna que tratava de posicionar o ser humano não mais como criatura, mas como criador de conhecimento, de verdades e de novas naturezas que você vai chamar de técnica, tecnologia e ciência. Saber também é poder para Foucault, afinal, como bom nietzschiano, ele funda as suas categorias e os seus estudos levando em conta que todo olhar é interessado, e de que todo conhecimento implica em tensão, disputa e, portanto, em jogos de poder.
Eu digo pra você ter uma ideia da importância de um Nietzsche no ENEM: veja, em 2014 ele foi uma avaliação realizada por mais de 6 milhões de estudantes e quase 10% zeraram a redação. Já em 2015, cerca de 7,7 milhões se inscreveram, mas quase 2 milhões não foram fazer a prova.... Você percebe o retrato da educação brasileira que os números nos oferecem? E se você acha que a presença de um Nietzsche no ENEM é algo desimportante, permita-me dizer que, de acordo com o PNUD, a média de escolaridade de um brasileiro é praticamente a metade de um norte-americano: somamos cerca de 7,4 anos escolares... E agora, ficou melhor pra compreender o que significa um Nietzsche no ENEM?

SABER É NATUR
Deixemos a política de lado, e vamos à filosofia alemã. Como o nosso tempo é curto e atenção é sinônimo de interesse, eu vou direto ao ponto: em Nietzsche você encontrar uma crítica à história da filosofia. Isto é, você vai ler Nietzsche para começar, (repito: para começar) a compreender que desde Sócrates até Hegel você acreditou que, de fato, porque você é dotado naturalmente de razão, você então é capaz de agir sempre de maneira ética, justa, equilibrada, sensata, ponderada, simétrica e sincera. Ou seja, se você se deixou levar por essa conversa metafísica que o teu intelecto é capaz de vencer teus desejos e que a tua força racional sempre foi decisiva nas tuas escolhas mais nobres, é porque você sequer passou perto de Nietzsche. Nele, você é... o que você é, ou seja, essencialmente nada. Ou melhor, você é aquilo que você potencializa em tua própria natureza: se me permitem a simplificação porque o nosso tempo está acabando e outros afetos incomodam a tua razão: não existe mistério, em Nietzsche não existem virtudes inatas, e nem a tua razão é instrumento soberano em suas decisões: eu e você somos vulcões, somos impulsos e instintos em busca de satisfação. E o melhor que fazemos é tratar de emancipar e potencializar aquilo que eu e você chamamos de talento. E Nietzsche vai buscar isso na filosofia antes de Sócrates, ou seja, nos pré-socráticos, conforme a questão 34 do caderno azul do ENEM de 2015.

UM TOQUE PRÉ-SOCRÁTICO

Como você pode notar, o ENEM não exige o seu conhecimento de Nietzsche: ele é somente um pretexto para você se lembrar que a filosofia pré-socrática foi a responsável por romper com o saber mitológico ao tentar racionalizar, isto é, explicar de maneira lógica as origens físicas daquilo que os gregos chamavam de cosmos, a natureza, o mundo, o universo. Isso nos leva a “LETRA C” como correta, pois vejamos as outras alternativas:
ü  “A LETRA A” não pode ser porque grego não transforma a natureza, eles aceitam as coisas como elas são; transformar a natureza é coisa de um Descartes moderno que inventa a técnica pra suprir as faltas da natureza;
ü  A “LETRA B” não pode ser porque Nietzsche te diz que não há imaginação e, nesse contexto, quem usa metáforas é a explicação mitológica, certo?
ü  A “LETRA D”, mais uma vez, demonstra a intenção do ENEM de te fazer confundir a ciência antiga com a moderna. Lembre-se, método é técnica, e técnica é modernidade;
ü  A “LETRA E” está fora de cogitação porque você não tem que justificar o real porque ele existe; e outra, deixa esse negócio de empirismo pros ingleses modernos e outra aula nossa...

Bem, esperamos que vocês tenham conhecido melhor como o ENEM pode se valer de certos nomes para atacar outras filosofias. Fique atento aos enunciados e sejamos nietzschianos: todo conhecimento é interessado. Sendo assim, se o interesse do ENEM provar o seu conhecimento, você terá que ser mais astuto do que ele. Afinal, saber é poder.
Abraços e até a próxima!
Profábio


Nenhum comentário:

Postar um comentário