Imagino que você já ouviu dizer que o ENEM promove uma doutrinação
marxista. Bem, você sabe me dizer por que dizem isso? Aliás, e quem diz isso?
Seriam estudantes do norte do país? Do nordeste ou do sudeste? Uhm, sei. Agora,
por outro lado, por que é difícil encontrar estudantes se queixando de que a
UNESP promove uma doutrinação liberal? E só pra melhorar a conversa, e quanto à
FUVEST, que tipo de “doutrinação” ela pratica?
HÁBITO É IDEOLOGIA
Vamos retomar o nosso raciocínio. Isso do ENEM praticar “doutrinação”
ficou mais evidente nas redes sociais em 2015, quando a prova trouxe aquela
famosa questão da Simone de Beauvoir. Bem, isso não quer dizer que somente a
partir de então, ele se tornou marxista. Ao contrário, a minha experiência me
diz que, na verdade, foram os hábitos e costumes dos estudantes que permitiram
que eles encarassem o ENEM com um olhar um pouco mais crítico.
Oras,
VEJA: na última década, o país assistiu ao crescimento da chamada da classe
média; por sua vez, ela injetou grana e ânimo no mercado consumidor, fez
circular mais mercadorias, mais ideias e mais diversidade religiosa, cultural e
política. Bacana, né? Enquanto o efeito maré melhorou as ondas de todos, tudo
vai bem. Agora, deixa o governo entrar em crise e me diz quem é a primeira a
gritar: a classe média. E, já que ela não quer perder seus ganhos e
conquistas, ela ataca o governo. E, dentre os estudantes, qual a maior vitrine da
educação que o governo promove: o ENEM. Bom, agora é contigo: olhe pros seus
colegas de sala e pra sua vizinhança e pergunte o que eles acham do conteúdo do
ENEM...
Agora,
faz o seguinte, dá um pulo na prova da UNESP e tente colocar em prática o mesmo
raciocínio. Isso mesmo, faça uma pesquisa rápida aqui em nosso canal e tire
algumas conclusões sobre a prova da UNESP... Bem, vamos lá: você encontrou algum autor de esquerda? Alguma feminista? Alguma
questão sobre a condição subalterna da mulher? Algum autor negro? Alguma
questão que aborda africanidade? E negritude? Ah sim, você só encontrou
citações de colunistas de revistas como VEJA, ISTO É e de cientistas que questionam
se “bondade” é um fator genético ou racional. E não se espante se eles disserem
que, em caso de dúvida, desconfie. Quer saber, dá um pulo aí no seu google e
procure saber um pouco da história da UNESP, onde ela se localiza, quem a
financia e etc. Bem, vamos à questão 41 do caderno azul do ENEM de 2014.
Antes de
continuarmos com a nossa análise, vemos que a alternativa correta é a “LETRA B”,
pois ela que demonstra como as condições econômicas determinaram novas atitudes
políticas, novas formas de se fazer política.
COSTUME É POLÍTICA
Hobsbawm é
um dos maiores nomes do que é chamado de marxismo cultural. Junto com Raymond
Williams e Thompson, ele manteve a New Left Review, uma importante revista
fundada na década de 1950 que tratou de valorizar a cultura como modo de
produção. Explico: dentre as propostas desses marxistas, estava a de
compreender os hábitos, os costumes e as práticas sociais de homens e mulheres
trabalhadores como formas de resistência social e de afirmação política. O
importante é compreender como as tensões políticas e econômicas se expressam
também através das práticas culturais. Sendo assim, nota-se que a sugestão da
letra “B” como gabarito indica como as condições econômicas determinaram novas
formas de se fazer política.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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