terça-feira, 22 de março de 2016

WALTER BENJAMIN na UEL de 2016

A UEL E OS CLÁSSICOS

Como se sabe, a Universidade Estadual de Londrina tem uma das provas mais bonitas de Filosofia e Sociologia dentre os vestibulares. Bem, eu vou me explicar: pode-se que esta beleza está no fato de a UEL apresentar nomes e conceitos já consagrados pela crítica acadêmica e, diante deles, exigir dos candidatos precisão conceitual e rigor interpretativo em suas questões. Nesse sentido, ao dialogar com um repertório tradicional dessas disciplinas, é como se ela apontasse seu indicador ao candidato e parafraseasse Ítalo Calvino ao dizer: “leia os clássicos, afinal eles sempre serão inéditos”. Bem, vejamos o porquê.
Em setembro de 1940, Walter Benjamin era um refugiado que tentava fugir das sombras do nazi-franquismo, mas o pavor acabou tomando conte dele e acabou cometendo suicídio com uma overdose de morfina nas fronteiras da França com a Espanha. Este judeu alemão teve um rico convívio familiar em sua infância e durante a sua maturidade atingiu um de seus objetivos mais arrojados: ser um grande crítico da literatura alemã.
 Além disso, a sua biografia é marcada pelas amizades com Hannah Arendt (que herdou grande parte de seus escritos), e com Adorno e Horkheimer, com quem sempre travou grandes discussões teóricas. Enfim, felizmente hoje seu nome estrela nos vestibulares brasileiros, a exemplo da “QUESTÃO 46” proposta pela UEL em 2016, em sua prova de TIPO 01.

MODERNIDADE É SEMELHANÇA
Bem, o nosso recorte envolve o texto “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” no qual
Benjamin elabora críticas aos efeitos de sobreposição das condições técnicas industriais sobre a nossa sensibilidade estética. Para se compreender melhor o texto, seria bom se lembrar de que Benjamin foi um sujeito que acompanhou o surgimento da fotografia, dos jornais cotidianos, do cinema, enfim muitos de seus escritos tratam das condições de surgimento da vida metropolitana tal como nós a conhecemos hoje: rápida, veloz, metálica, fugaz, efêmera e, por tudo isso, encantadora. Não à toa, Benjamin também é reconhecido como um grande crítico da Modernidade.
 Caso tenham dúvidas quanto às alternativas, vejamos:
ü  A letra “A” é “completamente fora da casinha”: a atualização da obra de arte significa transformá-la em mercadoria e, portanto, alienar as pessoas. Oras, assista ao especial de fim de ano do Roberto Carlos, e depois conversamos;
ü  A letra “B” traz uma semelhança que não pode ser confundida: a fotografia e o cinema rompem com a arte tradicional. Em suma porque são artes com forte apelo urbano, industrial e de escala de massa;
ü  A letra “D” traz uma sugestão para quem conhece Benjamin: o conceito de “aura”, que é típico das artes tradicionais. Uma provocação? Afirmo que Filipe Catto tem aura. Pergunto: Maria Rita tem?
ü  A letra “E” não pode ser porque o enunciado demonstra que a reprodução técnica promove uma ruptura com a tradição, certo?

AURA E AUTENTICIDADE
O que está em jogo na questão é a capacidade do candidato compreender que a confusão entre as condições industriais de produção e o artifício artístico destrói uma qualidade inerente à fruição estética: a sua originalidade. Sim, eu sei que é preciso revisar, então vejamos de outra forma: o brilho de Benjamin foi detectar como os processos criativos de artes tradicionais como a literatura, a pintura, a ópera, o teatro perdiam a sua “aura”, isto é, o seu encanto, o seu charme, a sua singularidade, a sua autenticidade quando as suas confecções deixaram de ser artesanais, isto´ é, frutos de um único gênio, e passaram a ser mera questão de prazos, metas é lucros, isto é, foram submetidos aos critérios técnicos. Enfim, o capital pasteuriza a arte, e a submete às exigências da vulgaridade do cotidiano. Oras, vá, visite e veja com seus próprios olhos uma loja do Romero Brito...
Abraços e até a próxima!
Profábio

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