CATARSE É APRENDIZADO
Me diz uma
coisa: o que te toca? Isto é, o que é que te comove? Você se deixa abalar com a
violência dos filmes de Tarantino? Sei lá, você se emociona com os sonetos de
Vinícius de Moraes? E já que o nosso território hoje é a UEL, não é de irritar
a incompreensão dos religiosos diante da promessa de Zé do Burro em “O Pagador
de Promessas”? Para os gregos, o exercício da política passa
pela catarse: ela nos emociona, pode nos alegrar ou nos irritar. O que importa
é que ela sirva de exemplo. E este será o tema da nossa aula de hoje sobre a
UEL.
PAIDEIA E AGOGÊ
Antes de trabalharmos a nossa questão, temos que revisar um detalhe
importante: decerto que vocês já assistiram ao filme “300”. Sim, aquele mesmo
que trata da Guerra do Peloponeso. Vocês devem se lembrar que desde pequeno o
Leônidas foi preparado para ser rei sendo deixado nos bosques pra passar forme
com os animais e depois tomou umas aulas de lutas e de cavalaria pra aprender
que a vida é violência, é guerra. Os espartanos chamavam esta formação física
para a guerra de AGOGÊ.
Agora, por
outro lado, os atenienses preparavam seus jovens para a cidadania de modo
bastante diferente: eles se preocupavam antes de tudo com uma formação
espiritual, isto é, eles cultivavam a música e a literatura na cabeça dos
jovens, principalmente através do teatro. E eles chamavam esta formação
intelectual, espiritual de PAIDEIA. Concluindo, eis aqui um momento curioso do nosso
raciocínio, afinal nós herdamos deles esta crença na capacidade de potencializar
a beleza, a justiça e a inteligência nas pessoas, hoje chamamos isso de
PEDAGOGIA: paideia + agogê. E seja apostando no cultivo das qualidades físicas,
seja apostando no cultivo das qualidades espirituais, o ingrediente fundamental
desta convicção era o mesmo: a ideia (o conceito) de catarse. E para compreendê-la,
vamos à questão
10 da prova TIPO 01 da UEL de 2014.
Bem, olha
só a sofisticação da UEL: ela te enuncia o cenário político, mas o conceito só
vem no seio das possíveis respostas. Perceba através da análise das afirmações:
ü A primeira afirmação traz a novidade
que assusta as pessoas mal informadas: o conceito de catarse. Aqui o seu
repertório deve falar mais alto: catarse é “purgação dos sentimentos”, ou seja,
é quando você se identifica e se emociona com um texto, ou com uma cena de um
filme. Faz o seguinte: tente ouvir qualquer música da Adele e não se sentir
azul por causa de um amor mal resolvido. É impossível. Porque ela te emociona,
você se identifica. Isso é catarse.
ü Mas a segunda afirmação também define
“catarse”, afinal se emocionar com alguma coisa é tomá-la como exemplo moral,
como mimesis. Ainda ficamos com a Adele, certo? Então, tente ouvir qualquer
música da Adele e não cantar junto. Impossível. Porque a sua natureza vai te
dizer que cantar junto com ela também é uma forma de purgar seus sentimentos,
de purificar sua alma, enfim de superar as dores e seguir em frente;
ü A terceira citação talvez seja o
momento mais forte da definição de “catarse”: ela é imitação e serve de exemplo
porque toca fundo nos sentimentos mais comuns aos corações humanos. Oras, você
conhece alguém que NÃO goste de Adele?
ü Para encerrar, pode-se dizer que a
quarta afirmação está errada porque contradiz todo o conjunto do enunciado ao trazer
um prefiro “des”, isto é, todo o enquadramento da questão é para justificar que
sim, o cidadão se vincula com a cidade através das artes e do espaço público;
MIMESIS E APRENDIZADO
E se você
quiser ser ainda mais sofisticado nos exemplos que demos, tente analisar a
relação das pessoas com crianças. Oras, você consegue ver um bebê e não sorrir?
Se este for o caso, preocupe-se. (Afinal, nada melhor do que crianças para nos
alegrar, para potencializar o nosso ser. Pense a
respeito. Enfim, podemos chamar de “catarse” justamente a relação entre arte e
política, isto é, “catarse” é o nome que damos ao sentimento de identificação
com as ações humanas. E sim, isto é uma forma nobre de se fazer política porque
gera empatia, provoca identificação e faz com que as pessoas se comportem de
maneira exemplar. Oras, afinal, como diria o poeta: “gentileza gera gentileza”.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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