terça-feira, 22 de março de 2016

DIREITOS no ENEM de 2014

... Me diz uma coisa: wi-fi nos ônibus é um direito? Se sim, de que tipo? E as ciclovias para experimentarmos de modo mais saudável as cidades, seriam um direito? Se sim, de que tipo? Para polemizar: e a posse de armas de fogo, também seria um direito? Mire-se no exemplo da sociedade estadunidense. O nosso tema de hoje são as distinções entre os direitos civis, os políticos e os sociais. E para isso, teremos uma introdução inspirada no pensador italiano Norberto Bobbio antes de tratar dessa questão no ENEM.

DIREITO E MODERNIDADE
Em primeiro lugar, vamos considerar a Modernidade como “A Era dos Direitos”, ou seja, a partir do século 16, o Estado deixa de ser uma relação entre soberanos e súditos e passa a ser uma relação entre cidadãos. Isto é, a modernidade valoriza a liberdade e a igualdade como valores naturais e que, portanto, devem fundar a sociedade civil. Sendo assim, a melhor forma de inclusão social seria trabalho,  afinal quanto maior a minha dedicação, maior a minha riqueza. E, por extensão, mais competitiva e mais rica será a minha sociedade. Oras, não foi justamente este o propósito das Revoluções Inglesas do século 17: a defesa da propriedade privada ali no papel, na Bill of Rights?
Em segundo lugar, uma vez que a sociedade é o reino da competição, fica a pergunta: como empoderar os indivíduos e garantir que o Estado represente a “free will”? Isto é, como garantir a participação política dos cidadãos no Estado? Os americanos de 1776 diziam “one head, one vote” e fundaram um sistema federativo e presidencialista, garantindo a rotatividade do governo – e sempre mantendo o contrato constitucional. Por sua vez, os franceses de 1789... ah, os franceses...
 Enfim, num terceiro momento, você avança rumo aos séculos 19 e 20 e ouve os gritos das ruas: são operários, ludistas, cartistas, anarquistas, marxistas, sufragistas, feministas... E hoje os gritos ainda ecoam: são femens, homoafetivos, estudantes, blackblocs, ecoativistas, cicloativistas... Assim, a sociedade liberal passa a ser problematizada e criticada porque as promessas de liberté, egalité e fraternité se mantiveram como... Promessas, e não foram estendidas e garantidas a todas as pessoas. Então as perguntas mudam: qual o papel do Estado? E qual seria o seu tamanho? Será que a mão do mercado seria mesmo invisível? Quem e como deve garantir welfare aos cidadãos: eles mesmos através de seus sangue e suor privados, ou o Estado poderia dar uma força para corrigir as desigualdades sociais?

OS NÍVEIS DE DIREITO
Resumindo a ópera, a Modernidade inaugura a liberdade individual como um valor universal e soberano, afinal é ela quem funda o nosso convívio social e permite que a gente promova contratos, faça negócios, e determine os nossos votos por nossa conta e risco. Porém, lembre-se de Bobbio, nada disso é natural, ou seja, a sociedade não é mera extensão de nossas capacidades naturais. Pelo contrário, esses três níveis de direitos que acabamos de revisar são construções históricas que surgiram nessa ordem:
1º) Século 17 e os direitos civis: são garantias naturais contra o Estado como a liberdade e igualdade;
2º) Século 18 e 19 e os direitos políticos: são adquiridos e vinculam indivíduo e sociedade e garantem representação política;
3º) Século 19 e 20 e os sociais: eles amplificam o welfare e geram maior sensação de bem-estar social;

Bem, para fechar o nosso encontro, vamos à questão 17 do caderno azul do ENEM DE 2014. A alternativa correta é a letra B porque reafirma as dimensões econômicas e culturais dos direitos enunciados na charge. Vejamos as alternativas: 

ü  A afirmação da “letra A” é verdadeira, mas não dialoga com o enunciado: como se vê, a charge tem uma pegada crítica: trata-se de um casal humilde que é livre e pode votar, mas a mulher ironiza ao contrastar a beleza das palavras com as suas condições sociais no contexto da publicação da Constituição de 88 no processo de  redemocratização do país;
ü  Esqueça a “letra C”: difusa é a sua atenção ao dar ouvido a esta alternativa;
ü  A “letra D” não tem contexto: oras, a charge apresenta indivíduos e uma Constituição! Estamos tratando de valores iluministas!
ü  A “letra E” também é verdadeira, mas fora de contexto, assim como a “A”;

Bem, perceba que é a alternativa adequada é sempre aquela que traduz o enunciado. Afinal, é possível dar de cara com afirmações verdadeiras, mas que estão erradas.
Quanto aos direitos humanos, isso é outra aula.
Abraços e até a próxima!
Profábio

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