Hoje temos uma novidade: Kant. Que fique claro:
as suas questões costumam trazer citações originais e, como ele não é um cara
fácil, vamos tentar ilustrar como ele define o chamado “uso da razão pública”
através de um filme incômodo chamado “Depois de Lúcia”. Bem, vejamos o que é
convívio social em Kant.
ILUMINISMO É ESCLARECIMENTO
Vamos
direto ao assunto: Kant foi o responsável por nomear a Modernidade como
Esclarecimento, isto é, de acordo com ele todo o processo histórico europeu
entre o século 16 e 18 foi um também um processo de fortalecimento do uso da
razão pública. Explico melhor: em Kant, nós aprendemos que o Renascimento, a
Revolução Científica do século 17 e o chamado Iluminismo foram partes de um
processo fundamental na constituição de um espaço público, uma sociedade civil
composta por indivíduos livres, autônomos e capazes de usar a razão em
benefício da boa convivência entre os iguais.
Sendo
assim, se hoje os seus livros de História trazem um capítulo chamado de
“Iluminismo”, agradeça ao Kant, afinal foi ele quem nos disse que o
“Esclarecimento” é a saída do homem de sua menoridade. Em outras palavras, a “menoridade”
em Kant seria o que chamamos de submissão, servidão, uma vida menor regrada por
ciúmes, invejas, enfim essas mesquinharias de que, às vezes, o ser humano é
capaz.
Portanto,
antes de atacarmos a questão, vale enfatizar aqui uma boa imagem poética:
pensem em Kant como o auge do Iluminismo, um sujeito que está ali acompanhando
os acontecimentos da Revolução Francesa e celebrando as ruínas do absolutismo. Mas
que ainda não conhece uma sociedade urbana e industrial, isto é, pensem nele como
um sujeito otimista, um pensador que vai te dar uma lição sobre como a razão
humana pode ser capaz de reelaborar, de trabalhar a nossa natureza instintiva a
fim de garantir o bom convívio entre iguais. Bem, vejamos como isso se dá no enunciado
da questão 20 da
prova de inverno nº 03 de 2015 da UEM.
E aí, que
tal o enunciado? Bonito demais o argumento, não? Vamos tentar traduzir o
pensamento dele antes de irmos às alternativas. Em Kant, eu e você somos parte
de uma humanidade. E guarde isso, pois esse será seu pano de fundo kantiano
para os vestibulares: em Kant, eu e vocês somos iguais por natureza porque
somos seres racionais e, portanto, capazes de deliberar, de decidir em nome do
bom senso. Isso mesmo, em Kant a razão é uma espécie de boa vontade que determina
as suas atitudes na direção do que é certo, do que é justo. Enfim, em Kant, em
nossa razão está inscrito um senso de dever que é capaz de ser mais fortes que
nossas inclinações. Sendo assim, se alguém pisa na bola contigo, lá vem o desafio:
como reagir, avaliar ou julgar os seus atos? Optar pelo perdão ou pela
repreensão? Levar em conta que a pessoa errou por uma questão de caráter mesmo
ou não custa nada dar uma segunda chance?
Vejamos as
afirmações:
ü A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO contém um
problema: tratar de maneira humilhante uma pessoa que cometeu um erro ou um
crime – como no caso da questão -, na verdade, só te torna igual a ela. Ou
seja, esqueça essa afirmação tanto no vestibular quanto na vida;
ü A SEGUNDA AFIRMAÇÃO é um desvio de
rota: oras, em Kant, os seres humanos têm um fim em si mesmo. E isto quer dizer
que em Kant não existe “colega” ou “amizade colorida”. Amigo é amigo porque
entre eles só pode haver afinidade e convívios desinteressados;
ü A TERCEIRA AFIRMAÇÃO é kantianíssima.
E acrescentaria ainda que esse respeito ao ser humano é um imperativo
categórico, ou seja, é um sentido de iniciativa que deriva de leis naturais de
nossa razão;
ü A QUARTA AFIRMAÇÃO... Bem, infelizmente,
eu penso que seja bastante provável que você encontre narrativas como essas no
seu convívio social. Porém, você vai aprender em Kant que existe uma grande
distância entre avaliar e julgar as pessoas e suas atitudes. Portanto, a
afirmação está fora de cogitação.
ü A QUINTA AFIRMAÇÃO também é
kantianíssima, afinal quando o enunciado te indica que é preciso reconhecer que
o fundamental é avaliar e julgar as atitudes, as decisões de uma pessoa – e não
a sua condição humana. Sendo assim, que fique claro que os erros e crimes devem
ser julgados, mas sempre de acordo com o contrato social de cada comunidade.
ü PORTANTO, A SOMATÓRIA CORRETA É 4+16=20
COMO VOVÓ JÁ DIZIA
Bem, esse
foi Kant na UEM. Como vimos, ele considera que a nossa competência racional e
deliberativa é capaz de deslocar a nossa natureza, evitar as inclinações e garantir
uma ação justa e equilibrada. Porém, que fique claro: você vai assistir ao
filme “Depois de Lúcia” para entender justamente o que é a menoridade em Kant,
ok? Ele seria um contraexemplo do
comportamento kantiano, e aqui me explico: é difícil encontrar personagens
kantianos no cinema hobesiano, ops, digo, hollywoodiano...
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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