quarta-feira, 7 de setembro de 2016

EMPIRISMO na UNICAMP de 2015


Me diz uma coisa: vamos imaginar que você ganhou uma grana a mais de mesada e decide sair com seus amigos para celebrar a vitória no vestibular num rodízio de pizza. Você toparia se aventurar num novo lugar indicado pelas redes sociais ou você optaria por voltar aquele mesmo rodízio onde você sabe que a variedade é grande, a pizza farta e o atendimento é de primeira? Eu? Bem, quanto a mim, eu não pensaria duas vezes e deixaria o meu hábito falar mais alto: eu não trocaria a familiaridade com uma pizza por uma aventura qualquer. É que hoje ando meio lockeano. ‘Bora pra UNICAMP de 2015?

HÁBITO É UMA SEGUNDA PELE
Hoje vamos dar um pulo na UNICAMP para tratar de teoria do conhecimento. Como você sabe, nós já fizemos isso algumas vezes e alertamos vocês que “epistemologia” é um tema bastante comum nos vestibulares. Dito de outra forma, é como se existissem alguns grandes eixos temáticos como “teoria política”, “ética” e a “teoria do conhecimento”. E pra dialogar com o nosso tema de hoje, nós sugerimos o filme “O Enigma de Kaspar Hauser”, de 1974, uma obra-prima do alemão Werner Herzog inspirada em fatos.
O filme se passa no século 19 e vai te mostrar o caso real de um homem que passou toda a sua infância e juventude isolado do convívio social. Até que ele é deixado junto de um bilhete numa comunidade e, então, algumas pessoas o acolhem e tentam ajudá-lo a desenvolver linguagens e a se adaptar as convenções sociais. E aqui surgem as nossas questões, digamos, mais técnicas: de que forma eu e vocês produzimos conhecimentos? De que maneiras nós fabricamos uma visão de mundo, elaboramos conceitos e linguagens?
Digamos que questões como essas estavam em pauta ao longo da chamada Revolução Científica do século 17 quando duas escolas rivais trataram de encontrar argumentos lógicos para o funcionamento da consciência humana: o racionalismo francês cartesiano e o empirismo britânico de Locke e Hume.
Aqui você tem que se lembra que, naquele momento, a conquista da América já estava consolidada o suficiente para a inteligência europeia considerar que, supostamente, haveria uma distância entre um estado de natureza humana “selvagem e bárbaro” e uma condição social “culta e civilizada”. 

Essa distância entre uma suposta “natureza” e uma “cultura” você chamar de educação, tal como os iluministas fizeram. E esse será o tema da questão 50 da UNICAMP de 2015. ‘Bora ler o enunciado?
Você se lembra que “filosofia” é um tema bastante enxuto na UNICAMP e aqui ela vai direto ao ponto e te dá as melhores condições possíveis para você acertar na mosca: o recorte da citação lockeana é preciso e diz com todas palavras que a preocupação é sobre como produzimos conhecimento a partir das condições empíricas, isto é, concretas, materiais. Ou seja, ao contrário dos racionalistas cartesianos que valorizavam a cognição dedutiva a partir de uma distinção entre corpo e mente, os empiristas reconhecem que, sim, o corpo pensa: ele oferece sensações e impressões que serão selecionadas, organizadas e administradas pela razão para compor abstrações como conceitos, categorias e ideias. Vamos às alternativas que, convenhamos, não contém mistérios:
A LETRA A responde a questão porque se para os racionalistas neoplatônicos a virtudes/ ideias nos são inatas, para os empiristas neoaristotélicos é o potencial que nos é inato;
A LETRA B até que pode se sugerir ao erro, pois ao reconhecer que o empirismo é ceticismo ela acerta, afinal toda atitude científica é cética ao assumir uma postura de desconfiança diante da aparência do mundo. Mas a conclusão é errada, pois sim, é possível obter conhecimento, oras...
A LETRA C está fora de cogitação: lembre-se, de maneira bastante cruelmente resumida, você tem duas matrizes filosóficas desde a antiguidade: ou somos platônicos e valorizamos a primazia das ideias essenciais sobre a matéria ou somos aristotélicos e valorizamos a primazia da realidade empírica, material sobre o nosso potencial cognitivo e intelectual.
A LETRA D também está fora de cogitação, oras: uma coisa inata é uma coisa imanente, inerente, transcendental, metafísica e que está contida em nós desde o nascimento porque sempre esteve por aí tal como os números na natureza...

COSTUME É INTELIGÊNCIA
E se por acaso você ainda tem dúvidas em relação à força do empirismo, me responde a seguinte pergunta: você costuma se sentar no mesmo lugar em sua sala de aula? Claro que se é porque você tem mapa de sala, aí, meu velho, o medo da punição fala mais alto. Mas esse não for o seu caso e você realmente acreditar que você repete essa operação cotidiana “espontaneamente”, acho melhor você rever os seus conceitos.
Veja, é bem provável que se alguém se sentar em seu lugar, você vai ficar furioso, não é? É nesse momento que o seu conatus, a sua necessidade de adaptação, o seu instinto de preservação da espécie, fala mais alto que a sua razão: afinal, você não deixar que ninguém comprometa o seu trabalho, a sua dedicação e eficiência nos estudos, certo?
Abraços e até a próxima!

Profábio

Nenhum comentário:

Postar um comentário