quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DESCARTES na UNICAMP de 2014


Voltamos à Unicamp... Um vestibular que costuma ser bastante modesto em suas questões de filosofia. E hoje vamos tratar de teoria do conhecimento em Descartes. Como já comentamos por aqui, as questões que tratam de epistemologia, isto é, teoria do conhecimento, são bastante frequentes nos vestibulares. O objetivo delas é problematizar como eu e vocês produzimos conhecimento. E para isso, a nossa referência será a cinebiografia “Cartesius”, realizada pelo grande Roberto Rossellini.

MODERNIDADE E COGITO
Antes de tratarmos da filosofia moderna cartesiana, vale repetir aqui uma dica que já demos na aula sobre Sócrates: as cinebiografias de filósofos produzidas por Roberto Rossellini para a televisão italiana. E que estão todas aí disponíveis no youtube. Rossellini foi o maior nome do chamado neorrealismo italiano, um cinema de baixo orçamento e alta voltagem política desenvolvido no pós-guerra. Nós ainda trataremos disso em nossas aulas de história do cinema, mas, antes, vamos ver um pouco da reconstituição da vida e obra do francês Descartes. 
Como você pode notar, é um filme datado, isto é, é uma produção de 1974 que tem uma proposta didática que é te contar um pouco da vida e obra de Descartes com início, meio e fim. Ela é dividida em duas partes de 80 minutos cada e, sim, vale a pena ver para você conhecer um pouco também da conjuntura histórica que marcou as constantes viagens e a formação intelectual desse francês que, dentre outros objetivos, tinha como meta romper com os princípios escolásticos e fundar uma nova autoridade científica.
Ao longo do filme, você vai perceber como a formação jesuítica aproximou Descartes da vida acadêmica europeia que contava com médicos e biólogos fascinados com a anatomia do corpo humano. E esse convívio foi fundamental para ele passar a encarar o nosso corpo como um grande mecanismo, um grande sistema pronto a ser analisado e estudado.
Por outro lado, a sua formação militar o colocou em contato com os engenheiros, astrônomos e matemáticos que permitiram que Descartes elaborasse uma filosofia, um saber científico que fosse baseado em regras, em um método tão lógico, claro e simétrico quanto a matemática. 

Dessa maneira, Descartes rompe com a lógica escolástica ao fundar uma ciência baseada na dúvida como método, afinal se nem tudo que reluz é ouro, é porque os nossos sentidos nos iludem. E se em casa de ferreiro, o espeto é de pau, é porque as aparências enganam... Portanto, em Descartes, a razão, o cogito, deve ser soberana no controle dos instintos e das sensações na busca de um conhecimento que seja pautado sempre em relações de causa e efeito. Como se lê na questão 09 da Unicamp de 2014
Como você pode ver, trata-se de um enunciado acessível que vai direto ao ponto: qual o fundamento da ciência cartesiana. Vale chamar a atenção para o fato de que enunciados como esse são recorrentes, são muito comuns. Vejamos as alternativas.
A LETRA A está equivocada porque opinião é o que lê nas redes sociais; conhecimento é o que produz em sala de aula, e verdade é você na faculdade;
A LETRA B está errada porque duvidar dá trabalho, exige esforço e disciplina. Oras, nada melhor do que aquela revisão geral antes do vestibular, certo?
A LETRA C só pode se tornar legítima nas redes sociais: nunca é demais dizer que, no vestibular, opinião é achismo, e conhecimento é um saber experimentado, testado e comprovado;
A LETRA D é cartesiana porque atesta que a ciência é um tipo de saber que é aberto, autorreflexivo e sempre autocrítico. Certo?

MODERNIDADE E HOMO FABER
Antes de terminar, vale repetir que essa abordagem que analisamos a respeito de Descartes é muito recorrente nos vestibulares. Assim, você deve levar em consideração que Descartes foi um jesuíta, militar, matemático, filósofo e escritor que fundou uma nova autoridade científica, a razão.
Sendo assim, a partir dele, eu e você nos tornamos homo faber, isto é, somos animais pensantes capazes de analisar, construir, fabricar um conhecimento tanto sobre a natureza humana quanto sobre o mundo. Em outras palavras, a ideia de natureza passa a ser alguma coisa a ser medida, metrificada e dominada. Mas isso será um tema para uma próxima aula. Por ora, eu recomendaria a leitura do capítulo 04 da “Condição Humana” da Arendt.
Abraços e até a próxima!

Profábio

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