Voltamos à
Unicamp... Um vestibular que costuma ser bastante modesto em suas questões de
filosofia. E hoje vamos tratar de teoria do conhecimento em Descartes. Como já
comentamos por aqui, as questões que tratam de epistemologia, isto é, teoria do
conhecimento, são bastante frequentes nos vestibulares. O objetivo delas é
problematizar como eu e vocês produzimos conhecimento. E para isso, a nossa
referência será a cinebiografia “Cartesius”, realizada pelo grande Roberto
Rossellini.
MODERNIDADE E COGITO
Antes de tratarmos da filosofia
moderna cartesiana, vale repetir aqui uma dica que já demos na aula sobre
Sócrates: as cinebiografias de filósofos produzidas por Roberto Rossellini para
a televisão italiana. E que estão todas aí disponíveis no youtube. Rossellini
foi o maior nome do chamado neorrealismo italiano, um cinema de baixo orçamento
e alta voltagem política desenvolvido no pós-guerra. Nós ainda trataremos disso
em nossas aulas de história do cinema, mas, antes, vamos ver um pouco da
reconstituição da vida e obra do francês Descartes.
Como você
pode notar, é um filme datado, isto é, é uma produção de 1974 que tem uma
proposta didática que é te contar um pouco da vida e obra de Descartes com
início, meio e fim. Ela é dividida em duas partes de 80 minutos cada e, sim,
vale a pena ver para você conhecer um pouco também da conjuntura histórica que
marcou as constantes viagens e a formação intelectual desse francês que, dentre
outros objetivos, tinha como meta romper com os princípios escolásticos e fundar
uma nova autoridade científica.
Ao longo do
filme, você vai perceber como a formação jesuítica aproximou Descartes da vida
acadêmica europeia que contava com médicos e biólogos fascinados com a anatomia
do corpo humano. E esse convívio foi fundamental para ele passar a encarar o
nosso corpo como um grande mecanismo, um grande sistema pronto a ser analisado
e estudado.
Por outro
lado, a sua formação militar o colocou em contato com os engenheiros,
astrônomos e matemáticos que permitiram que Descartes elaborasse uma filosofia,
um saber científico que fosse baseado em regras, em um método tão lógico, claro
e simétrico quanto a matemática.
Dessa
maneira, Descartes rompe com a lógica escolástica ao fundar uma ciência baseada
na dúvida como método, afinal se nem tudo que reluz é ouro, é porque os nossos
sentidos nos iludem. E se em casa de ferreiro, o espeto é de pau, é porque as
aparências enganam... Portanto, em Descartes, a razão, o cogito, deve ser
soberana no controle dos instintos e das sensações na busca de um conhecimento
que seja pautado sempre em relações de causa e efeito. Como se lê na questão 09 da
Unicamp de 2014.
Como você
pode ver, trata-se de um enunciado acessível que vai direto ao ponto: qual o
fundamento da ciência cartesiana. Vale chamar a atenção para o fato de que enunciados
como esse são recorrentes, são muito comuns. Vejamos as alternativas.
A LETRA A está equivocada porque opinião
é o que lê nas redes sociais; conhecimento é o que produz em sala de aula, e
verdade é você na faculdade;
A LETRA B está errada porque duvidar
dá trabalho, exige esforço e disciplina. Oras, nada melhor do que aquela
revisão geral antes do vestibular, certo?
A LETRA C só pode se tornar legítima nas
redes sociais: nunca é demais dizer que, no vestibular, opinião é achismo, e
conhecimento é um saber experimentado, testado e comprovado;
A LETRA D é cartesiana porque atesta
que a ciência é um tipo de saber que é aberto, autorreflexivo e sempre
autocrítico. Certo?
MODERNIDADE E HOMO FABER
Antes de
terminar, vale repetir que essa abordagem que analisamos a respeito de Descartes
é muito recorrente nos vestibulares. Assim, você deve levar em consideração que
Descartes foi um jesuíta, militar, matemático, filósofo e escritor que fundou
uma nova autoridade científica, a razão.
Sendo
assim, a partir dele, eu e você nos tornamos homo faber, isto é, somos animais
pensantes capazes de analisar, construir, fabricar um conhecimento tanto sobre
a natureza humana quanto sobre o mundo. Em outras palavras, a ideia de natureza
passa a ser alguma coisa a ser medida, metrificada e dominada. Mas isso será um
tema para uma próxima aula. Por ora, eu recomendaria a leitura do capítulo 04
da “Condição Humana” da Arendt.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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