segunda-feira, 5 de setembro de 2016

PÓLIS na FUVEST de 2016


Hoje vamos de história antiga na Fuvest para tratar do desenvolvimento da pólis entre os gregos. E para tanto, vamos tratar de ilustrar nossa aula com um filme inusitado: Sócrates, de Roberto Rosselini. Pois é, ao fim de sua carreira, o grande nome do neorrealismo italiano se dedicou a produzir biografias para a televisão. E, então, cabe a nós, aproveitar esta produção de 1971 que retrata os efeitos da Guerra do Peloponeso e a morte de Sócrates.

CULTURA E POLÍTICA
Como você deve saber, a FUVEST sempre vai te trazer autores e obras clássicas, a exemplo de Jean Pierre Vernant, um historiador e antropólogo francês que participou da resistência à invasão nazista na Frnaça durante a 2º Guerra, além de passar por aqui na UPS nos anos 1970. Além de sua atuação política, Vernant é autor de clássicos como “As origens do pensamento grego”, que demonstra como o processo de ocupação do Mar Egeu foi acompanhado pelo desenvolvimento de novas instituições públicas que consolidaram a unidade cultural da Grécia. 
Quanto à história, você deve se lembrar que as pólis foram consequência do processo de colonização da península grega durante a transição do período arcaico ao chamado período clássico. Dentre os fatores de longo prazo que forjaram as pólis, pode-se citar o relevo montanhoso, os fortes vínculos familiares e o gradativo processo de migrações de pequenas populações em busca de terra e segurança.
Assim, à medida que você se aproxima dos anos 600, você começa a perceber que dentro daquela unidade cultural garantida pela mitologia e pela língua, começam a surgir núcleos urbanos que são autônomos e independentes entre si e cada vez mais capazes de desenvolver novas instituições políticas, a exemplo do espírito militarista espartano, a AGOGÊ, e a democracia ateniense. 
Como se pode notar, o filme propõe uma interessante reconstituição da ágora ateniense: esse espaço público por excelência era percebido pelos atenienses, antes de tudo, como um espaço cívico, isto é, uma esfera não somente de comércio e trocas de mercadorias, mas também de trocas de ideias. E este será também o recorte proposto pela questão 75 da prova da FUVEST de 2016.

A citação de Vernant dá ênfase aos aspectos históricos inéditos fundados pelas pólis, a exemplo da ágora, da acrópole, a cidade alta que abrigava os templos religiosos e da Eclésia, que era a assembleia do povo. Bem, levando em conta que o enfoque que a questão propõe sobre essas novidades trazidas pela pólis. Vamos às alternativas:
A LETRA A está equivocada porque a fundação da política entre os gregos se baseia justamente na capacidade humana de desenvolver linguagens, especialmente aquelas ligadas à fala, como a oratória e a eloquência.
A LETRA B também está equivocada porque a política entre gregos foi radical na separação dos temas domésticos com os temas públicos. Não à toa, aquelas pessoas que só sabiam falar de si mesmas e de seus problemas pessoais eram chamadas de idiotes; enquanto aqueles capazes de determinar os rumos da cidade eram chamados de políticos;
A LETRA C está equivocada porque, apesar do forte vínculo com o panteão de deuses e deusas antropomórficos e dotados das mesmas qualidade e defeitos que os humanos, os gregos, especialmente Atenas, fundou a política com base no logos, na razão;
A LETRA D está equivocada pode te confundir devido a um jogo de palavras. Na verdade, apesar da diversidade política e econômica da Hélade, tanto tebanos quanto jônicos quanto atenienses viviam sob a mesma unidade cultural garantida pela mitologia e língua gregas.
A correta, então, é a LETRA E, pois traduz exatamente o raciocínio do enunciado em outras palavras ao reconhecer que a grande novidade das pólis foi fundar um espaço público capaz de fazer da política a atividade mais nobre dos homens.

RAZÃO E AUTORIDADE
Como você pode notar, a FUVEST nos coloca diante de clássicos a fim de enfatizar as heranças da cultura grega. Elaborada pelos atenienses, a política envolvia a autorização do convívio social, isto é, era uma forma do cidadão autorizar, seu autor tanto do seu destino quanto do destino de sua própria cidade.
E seria bem interessante voltar aos gregos nesse momento tão delicado da política brasileira, não? Afinal, em tempos de doutrinações e de projetos legislativos que cerceiam e restringem os debates tanto no espaço público quanto na sala de aula, vale lembrar que a morte de Sócrates não foi um mero suicídio heroico.... No fundo, ele foi um sinal do que pode ocorrer quando, em vez de se confrontar ideias, se julgam as pessoas.
Abraços e até a próxima!

Profábio

Nenhum comentário:

Postar um comentário