Hoje vamos
de história antiga na Fuvest para tratar do desenvolvimento da pólis entre os
gregos. E para tanto, vamos tratar de ilustrar nossa aula com um filme
inusitado: Sócrates, de Roberto Rosselini. Pois é, ao fim de sua carreira, o
grande nome do neorrealismo italiano se dedicou a produzir biografias para a
televisão. E, então, cabe a nós, aproveitar esta produção de 1971 que
retrata os efeitos da Guerra do Peloponeso e a morte de Sócrates.
CULTURA E POLÍTICA
Como você deve saber, a FUVEST sempre
vai te trazer autores e obras clássicas, a exemplo de Jean Pierre Vernant, um
historiador e antropólogo francês que participou da resistência à invasão
nazista na Frnaça durante a 2º Guerra, além de passar por aqui na UPS nos anos
1970. Além de sua atuação política, Vernant é autor de clássicos como “As
origens do pensamento grego”, que demonstra como o processo de ocupação do Mar
Egeu foi acompanhado pelo desenvolvimento de novas instituições públicas que
consolidaram a unidade cultural da Grécia.
Quanto à
história, você deve se lembrar que as pólis foram consequência do processo de
colonização da península grega durante a transição do período arcaico ao
chamado período clássico. Dentre os fatores de longo prazo que forjaram as
pólis, pode-se citar o relevo montanhoso, os fortes vínculos familiares e o
gradativo processo de migrações de pequenas populações em busca de terra e
segurança.
Assim, à
medida que você se aproxima dos anos 600, você começa a perceber que dentro
daquela unidade cultural garantida pela mitologia e pela língua, começam a
surgir núcleos urbanos que são autônomos e independentes entre si e cada vez
mais capazes de desenvolver novas instituições políticas, a exemplo do espírito
militarista espartano, a AGOGÊ, e a democracia ateniense.
Como se
pode notar, o filme propõe uma interessante reconstituição da ágora ateniense:
esse espaço público por excelência era percebido pelos atenienses, antes de
tudo, como um espaço cívico, isto é, uma esfera não somente de comércio e
trocas de mercadorias, mas também de trocas de ideias. E este será também o
recorte proposto pela questão
75 da prova da FUVEST de 2016.
A citação
de Vernant dá ênfase aos aspectos históricos inéditos fundados pelas pólis, a
exemplo da ágora, da acrópole, a cidade alta que abrigava os templos religiosos
e da Eclésia, que era a assembleia do povo. Bem, levando em conta que o enfoque
que a questão propõe sobre essas novidades trazidas pela pólis. Vamos às alternativas:
A LETRA A está equivocada porque a
fundação da política entre os gregos se baseia justamente na capacidade humana de
desenvolver linguagens, especialmente aquelas ligadas à fala, como a oratória e
a eloquência.
A LETRA B também está equivocada
porque a política entre gregos foi radical na separação dos temas domésticos
com os temas públicos. Não à toa, aquelas pessoas que só sabiam falar de si
mesmas e de seus problemas pessoais eram chamadas de idiotes; enquanto aqueles
capazes de determinar os rumos da cidade eram chamados de políticos;
A LETRA C está equivocada porque,
apesar do forte vínculo com o panteão de deuses e deusas antropomórficos e
dotados das mesmas qualidade e defeitos que os humanos, os gregos,
especialmente Atenas, fundou a política com base no logos, na razão;
A LETRA D está equivocada pode te
confundir devido a um jogo de palavras. Na verdade, apesar da diversidade
política e econômica da Hélade, tanto tebanos quanto jônicos quanto atenienses
viviam sob a mesma unidade cultural garantida pela mitologia e língua gregas.
A correta, então, é a LETRA E, pois traduz
exatamente o raciocínio do enunciado em outras palavras ao reconhecer que a
grande novidade das pólis foi fundar um espaço público capaz de fazer da
política a atividade mais nobre dos homens.
RAZÃO E AUTORIDADE
Como você
pode notar, a FUVEST nos coloca diante de clássicos a fim de enfatizar as
heranças da cultura grega. Elaborada pelos atenienses, a política envolvia a
autorização do convívio social, isto é, era uma forma do cidadão autorizar, seu
autor tanto do seu destino quanto do destino de sua própria cidade.
E seria bem
interessante voltar aos gregos nesse momento tão delicado da política brasileira,
não? Afinal, em tempos de doutrinações e de projetos legislativos que cerceiam
e restringem os debates tanto no espaço público quanto na sala de aula, vale
lembrar que a morte de Sócrates não foi um mero suicídio heroico.... No fundo,
ele foi um sinal do que pode ocorrer quando, em vez de se confrontar ideias, se
julgam as pessoas.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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