Se você é
vestibulando, decerto que você sabe sobre o “11/09”, mas só de ouvir dizer...
Se me permitem uma confissão, eu estava de passagem por Paraty enquanto a minha
faculdade estava em greve, quando na manhã de 11/09/01, eu tomava um café na
padaria e o famoso plantão de um noticiário dava a notícia extraordinária de
que os EUA tinham sido atacados... Como
nós sabemos, os ataques às Torre Gêmeas, que mataram mais de três mil civis
norte-americanos, foram decisivos para a conformação da chamada Nova Ordem
Mundial. Vejamos como isso se dá na UNICAMP.
TZVETAN TODOROV
A questão que
vamos trabalhar traz a citação de um interessante teórico que vale a pena vocês
conheceram desde já: Todorov. Nascido na Bulgária, ele viveu sua juventude sob
o regime de ferro da União Soviética e, então, foi estudar linguística e
literatura na francês com Roland Barthes. Ele se auto define como um
historiador das ideias, e isso quer dizer que se você vai se aventurar no
território das Humanidades, esteja certo de que, em algum momento você vai lê-lo.
Dono de uma obra abrangente, ele te mostra como a política compromete as
tendências literárias, como a literatura se relaciona com a história, e como é
possível escrever uma história das ideias e representações.
Na obra em
questão, “os inimigos íntimos da democracia”, Todorov parte de um olhar de quem
viveu intensamente a transição entre a Guerra Fria e o avanço do neoliberalismo
na chamada Nova Ordem Mundial. E disso resulta um olhar interessante de quem
consegue perceber como os excessos da democracia hoje em dia guarda algumas
semelhanças com velhas práticas autoritárias.
Pois é, Todorov,
por exemplo, analisa como o avanço do neoliberalismo destruiu as velhas
definições dos Estados nacionais e possibilitou a emergência de discursos
messiânicos que investem a defesa da democracia como um valor absoluto,
universal. Isto é, como se o combo “liberdade-fraternidade-propriedade privada”
pudessem ser exportados e, às vezes, impostos pelo uso da força. Um exemplo
seria a diplomacia da doutrina Bush, que tinha como princípio a chamada “guerra
contra o eixo do mal” e cujos resultados conhecemos bem...
Como sabemos, a
invasão do Iraque a partir de 2003 pode ser vista como um lance de um xadrez
diplomático mais complexo levado a cabo, particularmente pelos EUA, mas não só
por ele, desde os anos 90. E é este raciocínio que encontramos na questão 64 da
prova da UNICAMP de 2016.
Como você nota, a UNICAMP provoca o
seu repertório de atualidades com uma breve citação de Todorov aparentemente
simples, mas que condensa conceitos decisivos, a exemplo de “messianismo”,
“democracia” e “direitos humanos”.
Sendo assim, o
melhor que fazemos é analisar detalhadamente as alternativas, vejamos:
A LETRA A está equivocada porque foge
do recorte histórico do enunciado. Em primeiro lugar, em termos de vestibular,
as “lutas anticoloniais” se inserem dentro da lógica da Guerra Fria. Em segundo
lugar, essas lutas no continente africano envolveram, principalmente, Angola, Moçambique
e Argélia – e não a África do Sul;
A LETRA B responde a questão porque leva
em consideração como a diplomacia estadunidense se apoiou na suposta defesa da
democracia como um bem universal para legitimar ações militares sobre o
Afeganistão e Síria a fim de defender outros interesses. Assim, o tal
‘messianismo’ de que fala o enunciado exige de você uma boa preparação em
atualidades, pois este conceito diz sobre como a ideia de democracia foi investida
de uma religiosidade, isto é, como ela foi usada como um valor absoluto que
poderia ser defendido, exportado e imposto inclusive pela força das armas numa
escala global;
A LETRA C está completamente
equivocada. Veja, aqui você deve se lembrar que a Iugoslávia é desmembrada
porque a OTAN, um órgão militar ocidental, declarou guerra contra ela, um país
soberano. O resultado, como você sabe, foi uma carnificina que durou cerca de
três anos, com mais de 200 mil mortos e o deslocamento de mais de 2 milhões de
pessoas;
A LETRA D, enfim, está equivocada
primeiro porque o enunciado enfatiza as rupturas da chamada Nova Ordem com a
Guerra Fria. E depois porque a Ucrânia viveu muito bem uma democracia até sofrer
retaliações russas a partir de 2014 devido às possibilidades de ingresso na UE;
NOVA DESORDEM MUNDIAL
Para encerrarmos, vale chamar a atenção para o
discurso de Obama em Oslo, quando foi receber o Nobel da Paz em dezembro de
2009. Naquela ocasião, ele declarou que os EUA travavam no Afeganistão uma
“guerra justa” e enumerou três condições, todas necessárias, para que uma
guerra possa ser declarada como tal: “em caso de legítima defesa; se a força
empregada for proporcional; se as populações civis forem poupadas”. De acordo
com Todorov, o fato de que nenhuma das três foi cumprida, permite dizer que, na
verdade, o contemporâneo pode ser chamado de uma nova desordem mundial.
Afinal, a crença de que a democracia e o livre
comércio são o último fim da vida humana faz com que os países centrais
camuflem seus reais interesses e decidam que vidas valem a pena serem vividas.
Abraços fortes, e até.
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