segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

as femens e suas sementes


"Slut Walk": Eis o nome de um movimento social contemporâneo que tem reverberado cada vez mais mundo afora. O nome ganhou força "a contrapelo", isto é, após uma série de abusos e assédios sexuais em meados de abril de 2011 na Universidade de Toronto, certo policial afirmou publicamente que eles não ocorreriam "caso as mulheres não se vestissem como 'sluts', ou seja, vadias". Daí para as ruas, e do Canadá para o mundo foi um átimo de  tempo. Desde então, o movimento social tem ganhado adeptas, repercussão e vigor desde São Paulo até a Ucrânia onde, talvez, esteja o 'núcleo-duro' sob o comando da a organização Femen.

Quando notamos a política do movimento, vemos que sua causa é múltipla, assim como suas reivindicações são multidirecionais: o fim do machismo, a luta pelo aborto, a defesa da autodeterminação e da autodefinição, a reavaliação dos códigos morais como a defesa do homossexualismo e dos padrões estéticos através da negação das roupas dentre outras coisas.

O importante aqui, ao meu ver, é uma certa atualização do imaginário de 'maio de 68', daquilo que ele apresentou de lúdico, de intenso e de potencial transformador. Portanto, vamos por partes:

1º - Do lúdico: ambos movimentos, tanto o "maio de 68" quanto o "abril de 2011" trouxeram o corpo à tona, literalmente deram corporeidade à luz social, pois foi nos 1960 que os corpos femininos serviram de dispositivos políticos e ideológicos para questionar os valores familiares e patriarcais quebrando a hegemonia das tradições envolvidas no "pater familias". Da mesma forma, nota-se hoje em dia que não é o verbo, não é a palavra e não basta o "cogito ergo sum" (deu pra ti, Descartes!) para se fazer valer na política: ela se faz com imagens, com pernas pintadas a batom, com os colos coloridos a rabisco (vide Q03 do Caderno Azul do caderno azul do ENEM 2011), com os seios à mostra e com o ventre em evidência.

2º - Da intensidade: foi notável a importância das contradições da guerra fria  na integração de diferentes demandas em jogo nos anos 60, a saber, a das mulheres (emancipar-se do homem), a dos jovens (emancipar-se do pai) e a de uma classe média cansada (emancipar-se da dupla Nixon-Vietnã). Tudo isto potencializou e fundiu os diferentes protestos sociais em uma grande Marcha rumo a Washington em 1963. De certa maneira, as "Slut Walks" se esforçam em evocar tais feitos e efeitos, porém através de diferentes demandas. E isto nos leva ao terceiro ponto.

3º - Do potencial transformador: o que desejam as slut walks? E como desejam o que desejam? Como elas pensam em conquistar o carisma, a simpatia da opinião pública? Elas estão preocupadas com esta opinião desde que é pública, portanto quiçá machista? Como conciliar exigências de direitos sociais e políticos ligados aos gêneros e à sexualidade com tamanha exposição, vulnerabilidade e corpolatria? Aliás, elas consideram-se expostas e corpólatras? Ainda antes: é possível levantar juízos de valor como estes frente às muitas e difusas formas de opressão masculinas vigentes no cotidiano de forma cega, surda e muda? Quantas indianas mais seriam necessárias para conferir volume à pluralidade de vozes femininas que vivem omissas em si mesmas? Ou ainda, quantas legislações como a maria da penha são necessárias para uma sociedade feita de jair bolsonaros?

*

A título de conclusão, registro aqui uma questão que caracteriza a prova de Humanas da popularmente conhecida "Prova do Barro Branco":


A "Prova do Barro Branco" seleciona os candidatos para a Academia do Barro Branco visando à  formação de oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo. (gabarito: "C")

Abraços,
Fábio

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