domingo, 6 de janeiro de 2013

Lura, Sara e Kiwanuka na minha rádio


Para começar este novo blog, optei pela música africana que marcou o meu dia a dia neste recesso de transição de dois mil doze para o treze. A referência que posto aqui é um infográfico publicado pela FOLHA em meados de outubro/ 2012. O panorama oferecido é bem interessante porque procura localizar as principais performances do continente. O Mulatu Astake com sua sonoridade introspectiva; o multi-instrumentista Fela Kuti (peça-chave nesta seara transatlântica contemporânea posto que, além de músico, foi um grande agitador político contra a opressão eurocêntrica) que afirmava que "subia ao palco não só para cantar, mas para também falar/ protestar". E haja fôlego entre suas composições de dezenas de minutos!

Além disso, vemos aí algumas vozes femininas que reverberam um metiê clássico, no bom sentido. Aliás, 'clássico' é o sentido que as 'divas' afroamericanas imprimiram ao blues e ao jazz definindo estes estilos com seus scats, improvisos vocais e seus lirismos sonoros graduados por diferentes doses etílicas. Percebe-se, então, aqui entre elas, que a África prática uma 'contra-diáspora', ou seja, são as artistas africanas que recorrem às suas pares lá na América do Norte em busca de elementos que chancelem suas originalidades em busca de mercado.

Ainda recomendaria artistas como "Lura", "Sara Tavares" e "Michael Kiwanuka". Estes são frutos das "biografias diaspóricas" típicas deste mondocontemporâneo. Isto é, tanto Lura quanto Sara são portuguesas, mas têm ascendência caboverdiana, sendo assim, aposto um bom corte de tecido africano com quem me der uma definição convincente de seus sons! Originais, suas sonoridades escapam de obviedades e nos remetem pra lá nos mil e quinhentos quando estas mesmas ilhas serviram como referência diplomática internacional para o tal Tratado de Tordesilhas. Já o inglês Kiwanuka é filho de ugandenses exilados de Idi Amin Dada - sim o próprio retratado no filme "O Último Rei da Escócia".

São 'biografias diaspóricas' porque suas trajetórias pessoais e musicais atravessam tanto as fronteiras nacionais, geográficas quanto estéticas. As vidas "luso-caboverdianas" delas e a vida "anglo-ugandense" dele nos exigem leituras de diferentes realidades históricas, assim como suas músicas nos remetem para diferentes direções: seja rumo aos lamentos do blues, aos nuances jazzísticos e às texturas telúricas de suas áfricas, estamos todos envolvidos num intenso jogo dinâmico entre estas memórias afetivas.

Abraços!
Fábio

Um comentário:

  1. OLA BOA NOITE.
    SEU BLOG FICOU MARAVILHOSO, MUITO BEM EDITADO E CHEIO DE ASSUNTOS INTERESSANTES.

    PARABÉNS. MAIS UMA VEZ VOCE ESTA PERFEITO.

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