A FUVEST E ANTONIL
O Brasil é
o "inferno dos
negros, o purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos e das mulatas". Essas são as palavras do jesuíta
italiano João Antônio, mais conhecido como André João Antonil, que esteve por
aqui no século 17 e nos deixou um poderoso retrato do cotidiano da nossa
sociedade açucareira. E pra gente entrar no clima do brasil colonial. Pois é, essa é uma das obras-primas do grande
Vladimir Carvalho realizada em 1969 e que vai nos acompanhar em nosso passeio
pela FUVEST de 2015.
ANGU, FEIJÃO E COUVE
Os escritos do jesuíta Antonil são
frequentes nos manuais de vestibulares, afinal o seu livro “Cultura e
populência do Brasil por suas drogas e minas”, publicado em 1711, é um
excelente retrato do cotidiano de um brasil colonial que via as pedras
preciosas das minas gerais assumirem o protagonismo econômico que um dia havia
sido da produção açucareira nordestina.
Bem, eu
tive a felicidade de estudar História na UFOP. Morei em Mariana, que foi fundada
em 1969 e entrou para a história como sendo a primeira vila e a primeira cidade
das Minas Gerais. Sim, claro: também frequentei Ouro Preto com ladeiras sem fim
e suas ‘trocentas’ igrejas reluzentes. O Antonil também passou por lá nos idos
de 1700 e achou bastante curioso o fato de as pessoas terem o hábito de comerem
angu, feijão e couve. E passados 300 anos, esteja certo de que você ainda vai
encontrar essas delícias por lá.
Outra
expressão bastante frequente de Antonil nos manuais didáticos diz respeito à
escravidão quando ele diz que os “escravos são as mãos e os pés dos senhores”. Então,
que tal voltar ao filme para se ter uma ideia do aroma do engenho?
Bem, o
historiador Boris Fausto concordaria com ele ao demonstrar que, se em 1570, os
africanos representavam cerca de 7% da mão de obra na zona açucareira, já em
1590, eles eram 37% da mão de obra. E se tornariam a totalidade da força de
trabalho já na década de 1640.
Como você
pode perceber, esse pupilo do padre Antônio Vieira também foi um historiador
bastante atento às condições do seu tempo presente, de maneira que esse seu
livro chegou a ser proibido de circular, já que a Coroa acreditava que ele
poderia chamar a atenção de seus rivais colonizadores. Porém, mais uma vez, a
literatura venceu a política, e eis o texto aqui na questão 06 da
prova da FUVEST de 2015.
Como você
pode notar, o recorte do Antonil valoriza uma economia intermediária entre o
açúcar e o ouro das Minas Gerais: o fumo. Essa economia foi a segunda maior atividade
destinada à exportação depois do açúcar e, em grande parte, esteve nas mãos de
pequenos proprietários localizados no recôncavo baiano. E ali se produziu os
mais diversos tipos de fumo, dos mais refinados para o mercado europeu aos mais
grosseiros destinados ao comércio de cativos na África. Bem, dado esse cenário,
vamos às alternativas:
ü A LETRA A não seria adequada porque a
economia do tabaco não configura um “ciclo” econômico; ela foi uma atividade
periférica que abasteceu o mercado interno;
ü A LETRA B também não é adequada pelo
mesmo motivo: o importante aqui é reconhecer que a FUVEST exige do candidato a
sensibilidade de perceber as dinâmicas econômicas internas da colônia, aquelas
que escapavam do chamado “pacto colonial’;
ü A LETRA C está fora de cogitação,
afinal mesmo no auge da produção de ouro, estamos em 1760, a produção de açúcar
atingia 50% do total das exportações.
ü A LETRA D não atende às exigências do
enunciado, primeiro porque o nosso foco é a economia do tabaco. E depois porque
você sabe que é justamente nesse momento, por volta dos 1700, que estamos definitivamente
rompendo as linhas do tratado de Tordesilhas junto com os bandeirantes;
ü Assim, A LETRA E responde a questão
porque demonstra a particularidade da economia do tabaco: ela foi importante
não só porque foi exportada pelo mundo afora, mas também porque contribui para o
desenvolvimento das atividades pecuárias e, assim, para a consolidação de um
mercado interno;
CULTURA E OPULÊNCIA
Para
encerrar, vale chamar a atenção para o fato de a FUVEST trabalhar com citações
de clássicos, isto é, além de apresentar estudos de acadêmicos renomados, algumas
vezes ela apresenta documentos históricos que permitem ao candidato o convívio
direto com o que nós historiadores também chamamos de fontes primárias.
Nesse
sentido, também vale a pena chamar a atenção para o fato da FUVEST fugir dos
velhos esquemas “metrópole-colônia” e enfatizar a diversidade econômica do
brasil colonial, ou seja, valorizar as dinâmicas econômicas internas e as riquezas
da realidade histórica de nossa história colonial.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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