quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A FUVEST E O BRASIL IMPÉRIO

A FUVEST E O BRASIL IMPÉRIO

Como bom estudante, você deve se lembrar que nós fomos o último país a abolir a escravidão mercantil no mundo ocidental. Quer mais? Ainda fomos responsáveis por receber cerca de 40% do contingente populacional arrancado às forças do continente africano. Dessa forma, esse sistema de trabalho chamado escravidão foi naturalizado de tal forma que se converteu em uma linguagem que contaminou as nossas relações culturais e políticas. Preparem-se, hoje vamos visitar o Brasil Império na FUVEST DE 2016.

ESCRAVIDÃO E TRABALHO
Como você sabe, a escravidão africana começa a tomar conta das costas de nosso país já no século 16. E segundo o historiador Boris Fausto devido a conjunção de três fatores:
01. Primeiro devido à catástrofe demográfica que abateu a população indígena que era vitimada por sucessivas epidemias trazidas pelos homens do Velho Mundo;
02) Segundo porque a escravização indígena enfrentava forte resistência das ordens religiosas que tinham lá as suas convicções missionárias que queriam fazer do índio “bons cristãos”;
03) Terceiro porque nas décadas finais do século 16, o comércio de escravos já se mostrava como uma alternativa econômica altamente rentável que destinava mão de obras às diversas atividades. De tal modo que no apogeu da economia açucareira, por volta dos 1650, o custo de aquisição de um escravo negro era amortizado entre 13 e 16 meses de trabalho.
Dessa maneira, o chamado tráfico negreiro foi marcado por ondas de migrações forçadas que chegaram até o século 19 arrancaram negros de diferentes regiões do continente africano, sendo Salvador e Rio de Janeiro os principais centros importadores dos cativos africanos, como se pode ler no gráfico apresentado pela questão 83 da prova da FUVEST de 2016.  

O gráfico foi extraído dos estudos do renomado historiador da UFRJ, Manolo Florentino, que, dentre outras coisas, demonstram que o comércio de cativos foi um mecanismo econômico altamente lucrativo que fez de muitos traficantes uma parcela significativa da elite política brasileira naquele momento de construção do Estado nacional brasileiro logo após a independência do país.
Isso significa reconhecer que a resistência ao projeto abolicionista estava enraizada no projeto de formação da nação brasileira. E que mesmo muito endividada com os banqueiros ingleses, a elite brasileira fez vista grossas ao liberalismo inglês. Bom, pelo menos até 1850 quando as esquadras marítimas da rainha Vitória decidiram invadir as águas brasileiras a fim de reprimir decisivamente o negócio de cativos. Bem, dado esse cenário, sejamos objetivos com as alternativas:
ü  A LETRA A está errada porque vai contra as informações do gráfico que demonstram que a escravidão ainda era predominante nos primeiros 30 anos do Império apesar de leis como a de 1831 que permitia à Inglaterra inspecionar os navios negreiros em alto mar.
ü  A LETRA B está equivocada porque o tráfico negreiro sempre foi uma atividade constante em nossa história;
ü  A LETRA C responde a questão ao exigir que o candidato reconheça, por exemplo, que apesar da ruptura política com Portugal, a independência também foi marcada por permanências históricas, a exemplo da escravidão;
ü  A LETRA D também vai na contra mão do enunciado que denuncia a força que o tráfico negreiro sempre exerceu em nossa economia;
ü  A LETRA E também não responde a questão porque você sempre vai desconfiar desses advérbios de modo, certo? E em termos históricos, você sabe que o Brasil levou cerca de quarenta anos para aderir à pauta abolicionista também porque escravo é moeda: se você o abole, o Império vai te indenizar?

... MAMA ÁFRICA?
Para encerrar, vale chamar a atenção para o fato de que os temas ligados à escravidão têm sido revisitados desde a década de 1980. Pois é, de certa forma, o centenário da abolição estimulou interpretações que passaram a valorizar as diversas formas de resistência à escravidão, às possibilidades de negociação entre senhores e escravos e até mesmo de constituições de laços familiares no seio escravista.
E como diz Florentino em entrevista à Revista de História, apesar de muito sofrimento e dor, a presença do negro em nossa história deve ser encarada como um ensinamento, afinal permitiu o desenvolvimento de uma civilização plural e com uma agenda cultural bastante avançada dentro dos padrões ocidentais.
 Abraços e até a próxima!

Profábio

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