A FUVEST E O BRASIL IMPÉRIO
Como bom
estudante, você deve se lembrar que nós fomos o último país a abolir a
escravidão mercantil no mundo ocidental. Quer mais? Ainda fomos responsáveis
por receber cerca de 40% do contingente populacional arrancado às forças do
continente africano. Dessa forma, esse sistema de trabalho
chamado escravidão foi naturalizado de tal forma que se converteu em uma
linguagem que contaminou as nossas relações culturais e políticas. Preparem-se,
hoje vamos visitar o Brasil Império na FUVEST DE 2016.
ESCRAVIDÃO E TRABALHO
Como você sabe, a escravidão africana
começa a tomar conta das costas de nosso país já no século 16. E segundo o
historiador Boris Fausto devido a conjunção de três fatores:
01. Primeiro
devido à catástrofe demográfica que abateu a população indígena que era
vitimada por sucessivas epidemias trazidas pelos homens do Velho Mundo;
02) Segundo
porque a escravização indígena enfrentava forte resistência das ordens
religiosas que tinham lá as suas convicções missionárias que queriam fazer do
índio “bons cristãos”;
03)
Terceiro porque nas décadas finais do século 16, o comércio de escravos já se
mostrava como uma alternativa econômica altamente rentável que destinava mão de
obras às diversas atividades. De tal modo que no apogeu da economia açucareira,
por volta dos 1650, o custo de aquisição de um escravo negro era amortizado entre
13 e 16 meses de trabalho.
Dessa
maneira, o chamado tráfico negreiro foi marcado por ondas de migrações forçadas
que chegaram até o século 19 arrancaram negros de diferentes regiões do
continente africano, sendo Salvador e Rio de Janeiro os principais centros
importadores dos cativos africanos, como se pode ler no gráfico apresentado
pela questão
83 da prova da FUVEST de 2016.
O gráfico
foi extraído dos estudos do renomado historiador da UFRJ, Manolo Florentino, que,
dentre outras coisas, demonstram que o comércio de cativos foi um mecanismo
econômico altamente lucrativo que fez de muitos traficantes uma parcela
significativa da elite política brasileira naquele momento de construção do
Estado nacional brasileiro logo após a independência do país.
Isso
significa reconhecer que a resistência ao projeto abolicionista estava
enraizada no projeto de formação da nação brasileira. E que mesmo muito
endividada com os banqueiros ingleses, a elite brasileira fez vista grossas ao
liberalismo inglês. Bom, pelo menos até 1850 quando as esquadras marítimas da
rainha Vitória decidiram invadir as águas brasileiras a fim de reprimir
decisivamente o negócio de cativos. Bem, dado esse cenário, sejamos objetivos
com as alternativas:
ü A LETRA A está errada porque vai
contra as informações do gráfico que demonstram que a escravidão ainda era
predominante nos primeiros 30 anos do Império apesar de leis como a de 1831 que
permitia à Inglaterra inspecionar os navios negreiros em alto mar.
ü A LETRA B está equivocada porque o
tráfico negreiro sempre foi uma atividade constante em nossa história;
ü A LETRA C responde a questão ao exigir
que o candidato reconheça, por exemplo, que apesar da ruptura política com
Portugal, a independência também foi marcada por permanências históricas, a
exemplo da escravidão;
ü A LETRA D também vai na contra mão do
enunciado que denuncia a força que o tráfico negreiro sempre exerceu em nossa
economia;
ü A LETRA E também não responde a
questão porque você sempre vai desconfiar desses advérbios de modo, certo? E em
termos históricos, você sabe que o Brasil levou cerca de quarenta anos para
aderir à pauta abolicionista também porque escravo é moeda: se você o abole, o
Império vai te indenizar?
... MAMA ÁFRICA?
Para
encerrar, vale chamar a atenção para o fato de que os temas ligados à
escravidão têm sido revisitados desde a década de 1980. Pois é, de certa forma,
o centenário da abolição estimulou interpretações que passaram a valorizar as
diversas formas de resistência à escravidão, às possibilidades de negociação
entre senhores e escravos e até mesmo de constituições de laços familiares no
seio escravista.
E como diz Florentino
em entrevista à Revista de História, apesar de muito sofrimento e dor, a
presença do negro em nossa história deve ser encarada como um ensinamento,
afinal permitiu o desenvolvimento de uma civilização plural e com uma agenda
cultural bastante avançada dentro dos padrões ocidentais.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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