quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A UEL E ADORNO

A UEL E ADORNO

Vem, cá, lembra-se de Apolo, aquele deus solar, transparente e exemplo de um ethos justo e correto? Saca só o que ele andou aprontando no século 20. Uma cena forte, não? Afinal, nós humanos somos os únicos animais capazes de decupar, analisar e intervir sobre a própria animalidade. Mas há um problema aqui: capacidade é sinônimo de competência, e competência é sinônimo de poder... E o poder, como sabemos, seduz, encanta, fascina e é capaz de cegar os animais que se dizem racionais.

ESCLARECIMENTO É ALIENAÇÃO
Bem, você já deve ter notado que a nossa conversa hoje vai exigir uma atenção extra. Lá vai: eu e  você temos em comum que o positivismo é resultado do otimismo iluminsta, ou seja, tal como um bom iluminista, um positivista também acredita que educação é sinônimo de aprimoramento social e de que ‘ciência’ é sinônimo de progresso.
Dessa forma, quando lhe disseram a guerra é apensa a extensão da política por outros meios, você vestiu a farda e partiu para as trincheiras pra defender aquilo que chamam de nação, mas você não esperava por isso E sabe o que foi pior, o choque foi tamanho que você não encontrou palavras para explicá-lo, para lidar com ele, e daí olha só o resultado... E então, deu para perceber um pouco do espírito de época que marca a galera frankfurtiana? Bem, dado o cenário de horror, façamos a interpretação do enunciado questão 35 da prova da UEL de 2016 em dois momentos.  

O livro “Dialética do Esclarecimento” foi publicado no final dos anos 40, quando os autores já estavam exilados nos EUA. Como se lê, é um texto denso que trata de como o exercício da ciência também é lunar, ou seja, envolve forças impulsivas, psicológicas e irracionais capazes de tornar tudo semelhante e tudo passível de ser metrificado, medido e, portanto, computado, negociado e comodificado. Feitas as anotações, adiante:
Traduzindo o raciocínio frankfurtiano, assim, ao ser capaz de desumanizar aquilo que é humano, a ciência também se torna insuficiente para lidar com os seus próprios desafios e limites. Em uma palavra, com os frankfurtianos, eu e você nos lembramos de Nietzsche que já nos aconselhava a olhar com desconfiança toda aquela tradição filosófrica ocidental que, desde Sócrates até Kant, nos dizia que bastava ter bom senso, sensatez e ser racional para levar uma vida boa.
Agora, meu velho, esqueça, pois o século 20 nos demonstra que a história também é feita de ruínas, de lacunas e o pior, quea razão não é senhora em sua própria casa. Sendo assim, vejamos as alternativas:
ü  A LETRA A não nos interessa devido ao seu fatalismo: oras, a alienação não é um “preço inevitável”. Digamos que, numa escala individual, ela pode ser evitada à medida que as pessoas tomem consciência de que elas só são donas daquilo que calam, e não daquilo que falam, certo Freud?
ü  A LETRA B não nos interessa porque os frankfurtianos já nos disseram que a ciência não emancipa, ela também escraviza. Basta levar em conta o quão dependentes somos dos bens materiais que temos ou desejamos;
ü  Quanto à LETRA C, ela não nos interessa porque o enunciado nos disse que o século 20 mitificou a razão: oras, um outro nome para a suposta “neutralidade científica” ou para o suposto “progresso tecnológico” é “Shoah” ou Holocausto;
ü  Você vai esquecer a LETRA D logo de cara: numa perspectiva frankfurtiana, a ciência nunca é meramente formal, mas sim uma expressão de forças sociais e de vontades políticas que determinam relações de poder;
ü  Portanto, a correta é a “LETRA E” que dialoga com o enunciado ao demonstrar como os positivistas precisam ser colocados em xeque: técnica e tecnologia não são sinônimos de progresso moral, cultural ou intelectual. Ao contrário, elas também feitas de ruídos e catástrofes.

FRANKFURT NO BRASIL
Para encerrar, vale dizer que temos grandes representantes do pensamento frankfurtiano entre nós, a exemplo de Marcos Nobre, professor de Filosofia da UNICAMP e de Vladimir Safatle, da USP e colunista da FOLHA.
Abraços e até a próxima!

Profábio

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