quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A FUVEST E O DESTINO MANIFESTO

A FUVEST E O DESTINO MANIFESTO

Austeridade. Essa é uma palavra que nós, brasileiros, conhecemos pouco. De acordo com o Aurélio, ela também significa rigor, severidade e cuidado. Em termos mais teóricos, austeridade é o exercício de não se deixar levar por aquilo que agrada aos sentimentos. Em termos mais práticos, austeridade envolve um planejamento, o estabelecimento de metas a serem cumpridas, uma espécie de projeto de vida. E isso parece que os norte-americanos conhecem bem. E aí, ‘bora dar um pulo na FUVEST para tratar de história dos EUA?

DESTINO MANIFESTO
Você já deve ter ouvido falar a respeito das reformas religiosas colocadas em prática por Martinho Lutero lá no começo do século 17. Bastante desapontado com os rumos mercantilistas da irgeja católica romana, Lutero tratou de alinhar o cristianismo segundo suas convicções do que seriam as virtudes originais dessa crença. Mas para isso, contou com o apoio da prensa de tipo móvel de Gutemberg que promoveu a vulgarização da Bíblia e, então, possibilitou o irreversível avanço do letramento da população europeia.
Dessa maneira, você bem sabe, as doutrinas protestantes ganharam cada vez mais adeptos nos estados nacionais que se formavam na Europa: assim surgiram éticas como as dos huguenotes, dos calvinistas, dos presbiterianos e dos puritanos que passaram a valorizar cada vez mais a convicção na restauração da fé  através da individualidade e a crença de que o trabalho material também seria sinônimo de elevação espiritual.
E isso é algo que você pode encontrar no filme “Sangue Negro”, de P. T. Anderson que trata da conquista do Oeste norte-americano. O filme vai te contar a história de Daniel Plainview, isto é, aquele que tem o horizonte como meta. De olho nas minas de petróleo no Oeste, ele se depara com um Paul Dano (sim, o mesmo Dwayne de Litlle Miss Sunshine) que é um líder carismático que se apresenta como um empecilho ao seu empreendedorismo.
Em primeiro plano, você terá o embate entre a força de vontade do capital de Plainview  contra a obstinação do carisma de um pastor que não pretende perder o prestígio, o status, a sua reputação como líder comunitário. E o que isso tem a ver com a FUVEST? Bem, vamos ao enunciado da questão 61 da prova da FUVEST de 2016

A citação te indica que a conformação da nação norte-americana também foi marcada por valores cotidianos trazidos do imaginário europeu, assim como pelo imaginário da reforma protestante ligados à ideia de que o trabalho seria uma forma de redenção espiritual. Nesse sentido, caberia aos colonizadores do Novo Mundo fecundar o território que lhes era predestinado com virtudes como o suor, a dedicação e a prosperidade. Claro, individuais. Afinal, quanto mais rico o indivíduo, mais ricas seria a vida social. Sendo assim, vejamos as alternativas:
ü  A LETRA A responde a questão ao demonstrar que a expressão “destino manifesto” traduz os valores ligados à ideia de “predestinação”, ou seja, como diria o cantor folk Woody Guthrie, porque esta é a minha terra, esta também é a sua terra. Diante disso, o que nos resta é livre competição como uma forma de aprimoramento social;
ü  Quanto à LETRA B, digamos que ela não responde a questão por vários motivos, sendo o primeiro deles o fato de que a história da comunidade judaica sempre esteve ligada a dois conceitos contraditórios: dispersão e coesão comunitária;
ü  A LETRA C é impossível, afinal o multiculturalismo é um campo de estudo que se desenvolve sim, nos EUA, mas nos anos 1980 em decorrência de uma conjuntura econômica bem específica;
ü  A LETRA D faz uma confusão que é fácil de se identificar, pois você sabe que o calvinismo valoriza sim a individualidade. E que o expansionismo rumo ao Oeste foi resultado de iniciativas privadas, já que os estadunidenses detestam a presença social do Estado.
ü  A LETRA E também não responde a questão, afinal o século 19 norte-americano  deixou para Hollywood uma lição significativa no século 20: índio bom é índio morto, certo John Wayne? 

THE WEST IS THE BEST
Caso vocês ainda não conheçam o trabalho do diretor P. T. Anderson, vale a pena conhecer não só o “Sangue Negro”, como também a cinematografia desse realizador. Em primeiro lugar, porque em “Sangue Negro” você terá uma excelente performance de Daniel Day Lewis.
Em segundo lugar, porque os filmes de Anderson envolvem personagens que encarnam os dramas do chamado “american way of life” no sentido de enfrentarem os limites do sonho americano. Em outras palavras, o potencial da expressão “self made man” costuma ser levado ao limite em seus filmes.
Abraços e até a próxima!

Profábio

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