A FUVEST E O DESTINO
MANIFESTO
Austeridade.
Essa é uma palavra que nós, brasileiros, conhecemos pouco. De acordo com o
Aurélio, ela também significa rigor, severidade e cuidado. Em termos mais
teóricos, austeridade é o exercício de não se deixar levar por aquilo que
agrada aos sentimentos. Em termos mais práticos, austeridade envolve um planejamento,
o estabelecimento de metas a serem cumpridas, uma espécie de projeto de vida. E
isso parece que os norte-americanos conhecem bem. E aí, ‘bora dar um pulo na FUVEST para tratar de história dos EUA?
DESTINO MANIFESTO
Você já deve ter ouvido falar a respeito das reformas religiosas colocadas
em prática por Martinho Lutero lá no começo do século 17. Bastante desapontado com
os rumos mercantilistas da irgeja católica romana, Lutero tratou de alinhar o cristianismo
segundo suas convicções do que seriam as virtudes originais dessa crença. Mas
para isso, contou com o apoio da prensa de tipo móvel de Gutemberg que promoveu
a vulgarização da Bíblia e, então, possibilitou o irreversível avanço do
letramento da população europeia.
Dessa maneira, você bem sabe, as doutrinas protestantes
ganharam cada vez mais adeptos nos estados nacionais que se formavam na Europa:
assim surgiram éticas como as dos huguenotes, dos calvinistas, dos
presbiterianos e dos puritanos que passaram a valorizar cada vez mais a convicção
na restauração da fé através da individualidade
e a crença de que o trabalho material também seria sinônimo de elevação
espiritual.
E isso é algo que você pode encontrar no filme “Sangue
Negro”, de P. T. Anderson que trata da conquista do Oeste norte-americano. O filme vai te contar a história de Daniel Plainview,
isto é, aquele que tem o horizonte como meta. De olho nas minas de petróleo no
Oeste, ele se depara com um Paul Dano (sim, o mesmo Dwayne de Litlle Miss
Sunshine) que é um líder carismático que se apresenta como um empecilho ao seu
empreendedorismo.
Em primeiro plano, você terá o embate entre a força de
vontade do capital de Plainview contra a
obstinação do carisma de um pastor que não pretende perder o prestígio, o
status, a sua reputação como líder comunitário. E o que isso tem a ver com a
FUVEST? Bem, vamos ao enunciado da questão 61
da prova da FUVEST de 2016.
A citação
te indica que a conformação da nação norte-americana também foi marcada por
valores cotidianos trazidos do imaginário europeu, assim como pelo imaginário
da reforma protestante ligados à ideia de que o trabalho seria uma forma de redenção
espiritual. Nesse sentido, caberia aos colonizadores do Novo Mundo fecundar o
território que lhes era predestinado com virtudes como o suor, a dedicação e a
prosperidade. Claro, individuais. Afinal, quanto mais rico o indivíduo, mais
ricas seria a vida social. Sendo assim, vejamos as alternativas:
ü A LETRA A responde a questão ao
demonstrar que a expressão “destino manifesto” traduz os valores ligados à
ideia de “predestinação”, ou seja, como diria o cantor folk Woody Guthrie,
porque esta é a minha terra, esta também é a sua terra. Diante disso, o que nos
resta é livre competição como uma forma de aprimoramento social;
ü Quanto à LETRA B, digamos que ela não
responde a questão por vários motivos, sendo o primeiro deles o fato de que a história
da comunidade judaica sempre esteve ligada a dois conceitos contraditórios: dispersão
e coesão comunitária;
ü A LETRA C é impossível, afinal o
multiculturalismo é um campo de estudo que se desenvolve sim, nos EUA, mas nos
anos 1980 em decorrência de uma conjuntura econômica bem específica;
ü A LETRA D faz uma confusão que é fácil
de se identificar, pois você sabe que o calvinismo valoriza sim a
individualidade. E que o expansionismo rumo ao Oeste foi resultado de
iniciativas privadas, já que os estadunidenses detestam a presença social do
Estado.
ü A LETRA E também não responde a
questão, afinal o século 19 norte-americano deixou para Hollywood uma lição significativa
no século 20: índio bom é índio morto, certo John Wayne?
THE WEST IS THE BEST
Caso vocês
ainda não conheçam o trabalho do diretor P. T. Anderson, vale a pena conhecer
não só o “Sangue Negro”, como também a cinematografia desse realizador. Em
primeiro lugar, porque em “Sangue Negro” você terá uma excelente performance de
Daniel Day Lewis.
Em segundo
lugar, porque os filmes de Anderson envolvem personagens que encarnam os dramas
do chamado “american way of life” no sentido de enfrentarem os limites do sonho
americano. Em outras palavras, o potencial da expressão “self made man” costuma
ser levado ao limite em seus filmes.
Abraços e
até a próxima!
Profábio
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